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14/10/2016

Hotei, precursor de Papai Noel?

Katsushita Hokusai - Hotei fumando seu cachimbo - xilogravura em cores (1814)


Antonio Rocha

Hotei viveu na antiga China, quando o Budismo era muito forte por lá, no período da Dinastia Tang (618-904).

Era muito alegre, feliz na sua condição de monge-professor andarilho. Andava com um saco às costas, carregando os pertences (naquele tempo não tinha a mochila como hoje).

Estabeleceu a primeira escola das ruas, que se tem notícia, e ensinava à meninada as primeiras letras.

Com esta bela atitude, as pessoas começaram a lhe ajudar financeiramente, então ele comprava, alimentos, doces e frutas para distribuir, como se fosse merenda escolar. (Quem sabe reside aí, culto semelhante aos jovens católicos São Cosme e São Damião = escrevo isso com todo respeito aos que discordam).

Tornou-se popular, Hotei era obeso e bonachão, brincalhão, incorporou os princípios da caridade e ajudava sempre que podia. Surgiu assim a devoção ao Buda Gordo e Sorridente, note que em algumas imagens existem crianças em volta dele todas contentes. No Sutra Lótus se afirma que todos somos Budas em estado latente. Não confunda com o Buda histórico Sidarta Gautama, da Índia, século VI antes da era comum, também conhecida como antes de Cristo.

Com o passar do tempo os praticantes começaram a colocar os “sonhos, projetos de vida, visualizações de melhoria” no saco, e começaram a dizer que era milagroso aquela primordial forma de mochila. Mentalmente, simbolicamente Hotei agradecia, pegava o “sonho” da pessoa e, em preces e mantras, guardava no saco para mais adiante as divindades concretizarem.

Não se sabe quando nasceu, quando morreu, nem precisa, continua vivo em todo o mundo em diversas linhagens: na entrada do belo Templo Budista Zu Lai, em Cotia-SP, encontramos sua imagem em pedra (no Budismo, a pedra, o mineral, é um ser vivo em potencial) que veio de Taiwan; nos dojos (templos) da Mahikari, em diversos países, vemos sua imagem nos altares, Hotei é reverenciado na forma da Energia de Izunomê, a poderosa divindade que materializa, concretiza aquilo que queremos, precisamos, desejamos.

O Budismo Mahayana Indiano tinha, já na antiguidade, uma divindade da prosperidade chamada Mahakala/Khumbira, que andava com um saco às costas, em sânscrito Kubhera ou Kuvera. O Budismo/Shintoísmo japonês adotou esta Energia e passou a chamar de Kompira.

Na cidade de Mirandópolis, SP, há um santuário dedicado a Kompira = Deus que protege as Leis do Budismo. No Japão, existem 700 templos em homenagem a Kompira que se tornou o protetor dos marinheiros e navegantes. Ora... somos todos navegantes pela vida e assim Ele também nos protege, e... navegamos pela internet, vamos pedir então que Kompira... Hotei nos proteja nas boas conexões da web.

Mentalmente, visualmente, você pode e deve pedir que o Espírito Hotei coloque no saco das boas realizações os seus projetos e a Energia realizadora de Izunomê / Kompira / Kubhera / Kuvera / Khumbira / Mahakala se encarrega de atender mediante os méritos de cada um, às vezes demora.

Importante lembrar que Khumbira é um dos 12 assessores de Yakushi Nyorai (em japonês) ou Bhaishagyaguru (em sânscrito), em português Buda da Medicina, Buddha da Saúde, Boddhisatva dos Remédios que dirige um exército de luz com muitos espíritos amigos.

Khumbira também é o Regente do Quadrante Norte. No Budismo cada quadrante do globo terrestre tem um ser espiritual protegendo.

Seria um pré-Papai Noel ?

Fonte: Zen Flesh, Zen Bones (carne zen, ossos zen). Tradução em português: “Histórias Zen compiladas por Paul Reps”, editora Teosófica, 1999.


5 comentários:

  1. 1)Amigos, reconheço que a postagem de hoje está mais para o misticismo.

    2)Digamos, é um agradecimento público ao professor Hotei.

    3)Amanhã é o Dia dos Mestres. Gratidão aos meus colegas professores.

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  2. Olá, Antônio, um texto misticismo gostoso de ler. Na minha casa tenho um Papai Noel, gordo, sorridente e de barbas brancas. De quem cuido carinhosamente, engordando para o Natal, no caso de precisar alugá-lo para festas natalinas! Num desses natais atrás, coloquei uma árvore de Natal de papel na porta da sala,com uma pilhazinha de círculos coloridos onde, quem chegasse, escrevia seu melhor desejo no verso e colocava na árvore. Seria uma versão bem doméstica do saco de Hotei? Os netinhos adoraram! Muitas desculpas, só agora agradeço seu convite. Voces são muito gentis! Até mais.

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  3. 1)Oi Ana, certamente algum antepassado seu era "budista" e te deu a intuição de escrever o pedido, pois essa também é uma prática que usamos. (Isso está na memória dos povos, escrevi "budista" de brincadeira):

    2) escrever pedidos em cadernetas, agendas ou em cadernos, onde fazemos "imposição de mãos" tipo um passe espírita diário, até a solução do pedido.

    3) ou escrever em uma folha a vontade de realização, colocá-la em um envelope e pendurar em uma pequena árvore na Lua Cheia de Novembro.

    4)É nessa época que os monges recebiam o manto novo anual.E os praticantes podem ser agraciados com os pedidos, mediante os méritos de cada um.

    5)Esclarecendo que já teve pedido meu que demorou 10 anos para a realização, maravilha, não importa o tempo.

    6)Vejo nesse ritual e em outros uma forma de "Psicodrama" onde a pessoa teatraliza os seus desejos...

    7) Budismoterapia !

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  4. Moacir Pimentel14/10/2016, 12:50

    Antônio,
    O Hotei me parece pra lá de simpático.Você e a Donana acabam de me fazer pensar nos Natais: os daqui e os de Portugal. Talvez porque os de lá tenham hera nas lareiras, bolo rei, queijo da Serra , Lampreia de Ovos, Bacalhau da Consoada e Roupa Velha no dia seguinte, por aqui, as árvores de Natal sejam prá lá de criativas. De pipoca, palha, jujubas, folhas secas , garrafas de vidro cortadas pela metade pintadas com tintas metálicas, garrafas pet, bonecos de pano, aquelas bases de papelão que servem para apoiar copos de cerveja etc, etc , etc . Cada qual mais estranha que a outra. Pense em instalações! (rsrs) Tem mais.
    Minha mulher cultuou o Pai Natal dela enquanto pode , explicando à prole que quem havia deixado os presentinhos tinha sido o sósia do Editor. Aí meu velho pai , numa Noite Feliz , acabou com a festa , pá, ao dizer alto e bom som , julgando que não havia crianças na sala :
    "Ora bolas, eu compro presentes para os meus netos e Papai Noel leva a fama”.
    Nisso o telefone tocou: eram os portugueses. O nosso segundo peralta foi logo contando as novidades ao primo mais próximo:
    ” Pá, aqui no Brasil o Pai Natal é o meu avô brasileiro. Juro-te!"
    Abração

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  5. 1) Oi Moacir, bonita a sua descrição das mesas natalinas em Portugal e no Brasil, que tal aumentar e fazer um post ?

    2)Já eu... desde a mais tenra infância meu pai, racionalista ao extremo, dizia que Papai Noel não existia...

    3)Na faculdade eu tinha um professor que era de Salvador e dizia: "Eu sou baiano e acredito em tudo"; budisticamente adaptei: "Eu acredito, contudo ...".

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