Neoptolemo matando Príamo |
Moacir Pimentel
Vivemos tempos apressados, nos quais muito
facilmente se abdica de valores. Os versos do grego Konstantinos Kaváfis, em
seu famoso poema “À Espera dos Bárbaros”, retrata um povo reunido em suspense
apático, à espera que os bárbaros dêem as caras “à porta magna da cidade”. Até
que na estrofe final a atmosfera muda…
“Por que subitamente
esta inquietude?
Porque é já noite, os bárbaros não vêm
e gente recém-chegada das fronteiras
diz que não há mais bárbaros.
Sem bárbaros o que será de nós?
Ah! eles eram uma solução”.
Ora, encaremos uma triste realidade: não dá mais para culpar os bárbaros esquecendo que nos
transformamos em bárbaros no exato momento no qual desistimos de transformar a
ética em prática.
Uma reflexão imperdível sobre a ética – o melhor
comportamento moral do indivíduo – é feita de uma forma muito original no livro
“Anatomia de um Instante”, de Javier Cercas.
O livro narra o golpe de 23 de Fevereiro de 1981 na
Espanha. O palco é o Parlamento espanhol tomado e varrido de balas por militares insurretos durante a votação para legitimar o
candidato a primeiro-ministro Calvo Sotelo.
Os deputados foram, na ocasião, orientados a se
proteger atrás das cadeiras, mas três deles permaneceram sentados na bancada,
imóveis e desafiadores, enquanto as balas ziguezagueavam por todos os lados.
Eram eles o primeiro-ministro em exercício, Adolfo
Suarez, o vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, general Gutierrez
Mellado, e o secretário-geral do Partido Comunista, Santiago Carrillo.
O primeiro, Adolfo Suarez, num cenário de
descontentamento que se alastrava pelas casernas, era o legítimo filhote da
ditadura franquista, escolhido a dedo pelos poderosos de Espanha para
protagonizar uma transição “democrática” feita nas coxas.
Porém, Suarez decidira não se limitar a mudar as
coisas apenas o suficiente para que continuassem na mesma. Pretendia
verdadeiramente transformar a ditadura em democracia e, para tanto, costurara a
legalização do Partido Comunista Espanhol, representado por Carrillo, que, por
sua vez, jurara lealdade à monarquia. Juntos, os três formariam um governo de
transição.
Na Assembleia, a Casa do Povo, na anatomia daquele
instante, aqueles homens enfrentaram de peito aberto as balas dos militares
liderados pelo tenente-coronel Tejero. Um franquista de alma e coração, ele não
aceitava que seu projeto de transformar Espanha num quartel se convertesse num
mero governo de coligação interpartidária.
Só que… como Suarez, Mellado e Carrillo não se
curvaram, Tejero teria que matá-los para que o golpe avançasse. Mas o
tenente-coronel recuou.
Segundo o entendimento do escritor Javier Cercas,
os três líderes foram traidores. Pois Carrillo traíra o comunismo que defendera
desde a juventude, Mellado fora infiel ao Exército, para o qual lutara, e
Adolfo Suarez se convertera em um traidor total, porque sem sua traição as
demais não poderiam ter acontecido.
Afinal, Suarez era o herdeiro do antigo regime e
ali, aos olhos do mundo, renegara a herança do generalíssimo Francisco Franco,
a qual jurara defender e perpetuar.
As traições de Suarez, Carillo e Mellado abriram
uma avenida iluminada que permitiu a transição e depois o advento da democracia
na Espanha. Nenhum dos três traidores, é claro, merece ser assim chamado.
Javier Cercas explica brilhantemente essa
contradição:
“Traíram os seus para
não se traírem a si mesmos; traíram o passado para não atraiçoarem o presente”.
O escritor parece acreditar que a todo homem é
reservado, nesta vida, apenas um instante, no qual lhe é oferecida a chance de
escolher entre uma vida sem sentido ou fazer história e dizer ao mundo a que
veio. Em um segundo de tempo um homem pode se justificar no seu tempo ou se
danar para sempre.
Nesta encruzilhada é preciso, muitas vezes, que o
homem traia tudo aquilo no qual acreditou verdadeiro até então, para não trair
a si mesmo e seguir em frente mudado, é verdade, mas sempre o mesmo e inteiro.
O livro nos faz uma questão filosófica: se temos
uma ética da lealdade, não precisaríamos ter também uma ética da traição?
Caro Pimentel,
ResponderExcluirOntem postei um comentário na Tribuna da Internet a respeito de termos falidos ética e moralmente.
De modo a compensar aquele texto neste blog porque aprecio em demasia este espaço extraordinário do nosso amigo Wilson, pois as decisões atuais de alguns governantes estão me levando à raiva, à ira, diante da revolta e indignação que me encontro com o caos que vivemos - peço permissão ao Mano para publicar algumas palavras que se relacionam à política -, peguei uma carona neste teu artigo importante e bem escrito sobre a ausência que se faz notar no Brasil sobre ética.
Penso que deveríamos estender este tema sobre o povo brasileiro, e tentarmos encontrar as razões pelas quais temos sido tão passivos e até mesmo irresponsáveis conosco e país, ao permitirmos que medidas drásticas apenas nos sejam atribuídas, enquanto os verdadeiros responsáveis pela crise estão soltos e ricos!
Paro por aqui, pois infringi a regra fundamental do Wilson sobre a postagem de comentários políticos que, na verdade, a ética tem a sua influência decisiva justamente na forma como somos governados e igualmente do jeito que nos relacionamos tanto como cidadãos e contribuintes e como seres humanos, que percebo haver uma crise neste sentido, de praticamente ser impossível um dia voltarmos a considerar a ética como pressuposto decisivo como conduta pessoal e profissional, um espécie de traição que estamos fazendo com os princípios e valores que nos foram ensinados, e hoje abandonados porque substituídos por interesses e conveniências.
Obrigado pela oportunidade.
Um abraço forte e fraterno.
Saúde, pois a paz está difícil de ser encontrada.
1)Salve Chicão, apareça mais vezes.
Excluir2)Cristo uma vez disse: "Nem só de pão vive o homem" ... logo, nem só de Política vive o homem.
3) Outro dia li alhures algo interessante, os políticos dizem que tudo é política, que a vida é política, para eles continuarem por cima da carne seca e não mudarem nada.
4)Meu amigo Buda, recomenda, em qualquer área: Desapego ... Caminho do Meio ... evitar os extremos ...
5)Abração, amigão !
Que bom, Francisco Bendl, te ver por aqui. Nem que seja nos comentários. Estava com saudade!
ExcluirAté mais mesmo!
Ana
Chicão, bem vindo de volta!
ExcluirBoa tarde, Francisco. Bom ler você por aqui, com a esperança de que esteja tudo bem com a sua saúde e que Deus está dando-lhe forças nessa jornada de tratamento intensivo. Minhas preces estão todos os dias voltadas por todos aqueles que padecem de enfermidades, pedindo e agradecendo sempre as graças alcançadas. Que Deus abençoe-lhe todos os dias. Muita paz para você. Abraços, Dulce
ExcluirBendl,
Excluirtoda a saúde disponível por aí pra você. Tudo vai dar certo.
Grande abraço, fica com Deus
Ofelia
Chicão, bom te ler por aqui. Ser ético não é o mesmo que seguir a lei, embora ela muitas vezes incorpore padrões éticos que a maioria dos cidadãos assina embaixo. Mas as leis, como os sentimentos, podem desviar-se do que é ético. Toda e qualquer lei nascida de ditaduras, para mim, é antiética. As leis que permitiam a escravidão são exemplos óbvios de desvios éticos. O tal do foro privilegiado idem. Ser ético também não é o mesmo que fazer o que a sociedade aceita. Em qualquer sociedade, a maioria das pessoas aceita padrões que são, de fato, éticos. Mas uma sociedade inteira pode se tornar eticamente corrupta. A Alemanha nazista e aquela que convivia com o apartheid não me deixam mentir. Alguns países aceitam o aborto, mas muitos outros não. Então se o ser ético faz o que a sociedade aceita, o ser ético poderia variar ? Para mim a ética refere-se , acima de tudo, ao estudo dos padrões éticos e da evolução deles, sabendo que sentimentos, leis e normas sociais podem nos desviar deles. Portanto, ser ético talvez seja estar atento e disposto a examinar ,constantemente, os nossos próprios padrões e os gerais, num esforço contínuo para livremente pensar sobre as nossas próprias crenças e as nossas condutas morais. Sem reflexão, serenidade e conversa não haverá ética.
ExcluirAbração
1) Excelente artigo. Uma aula de Democracia, Ética, Civilidade.
ResponderExcluir2) Eu lembro deste episódio. Eu e muitos milhares no mundo inteiro estávamos torcendo pela Espanha Livre e Democrática.
3)Santiago Carrillo (1915-2012), um dos fundadores do Eurocomunismo, que a meu ver é uma forma de social-democracia.
4) Bom sábado a todos (as). Obrigado Moacir pelo importante texto.
Antônio, meu vizinho nas anatomias da ética e na moralidade das traições, grato pelas palavras generosas.
ExcluirMoacir, seu post é muito oportuno. Por que é verdade que o mundo muda a todo instante. Precisamos apreender a conversar e a mudar junto com ele se não nunca avançaremos. Radicalização é atraso de vida. E de violência quero distância. Mas tive mãe e sou mãe. Nunca ouvi contar de mãe ensinando filho a mentir agredir levar vantagem se corromper roubar ou matar pra fazer o bem a ninguém. Ralei muito para conseguir estudar. Teve hora que achei que não ia conseguir. Mas me formei e me sustento sem precisar sacanear ninguém. Não desce essa conversa pra boi dormir que os fins justificam os meios. Quem olha dentro do olho de um filho não trai seus princípios. Tenha um final de semana de sol!
ResponderExcluirMônica,concordo com você que essa conversa dos fins justificarem os meios é papo furado inventado faz tempo por algum poderoso que não queria deixar de ser. Mas eu não limitaria a ética aos nossos sentimentos, por melhor que sejam. Ser ético não é uma questão de seguir nossos próprios sentimentos pois fazendo isso podemos deixar de fazer o que é certo. Ao nos calar diante dos desvios de caráter de um pai ou de um filho,por exemplo. Ou ao permanecer leais a uma relação amorosa que claramente está nos fazendo mal ou a um casamento que está dando um nó cego na cabeça de nossos filhos ou a uma ideologia que já não e mais resposta aos problemas que enfrentamos. A ética nos propõe vários dilemas além do abandono das lealdades. Um exemplo famoso: você tem uma só corda e portanto só pode evitar que morram afogados um garotinho à sua esquerda OU quatro garotinhas muito próximas umas das outras à sua direita. Para quem você joga a corda? A resposta parece simples pois salvar quatro vidas teoricamente seria melhor do que salvar apenas uma. Mas....e se o garotinho fosse seu filho e as meninas perfeitas estranhas ? Mas...e se o seu filho sofresse de um mal incurável e já estivesse condenado de todo jeito? Aí você estaria diante de um dilema ético, aquele em que uma pessoa tem de escolher entre duas opções, ambas moralmente corretas, mas em conflito.
ExcluirTenho um amigo médico intensivista. Dia destes ele me disse tem que decidir muitas vezes, durante os seus plantões, entre vários pacientes, quem vai para o único leito de CTI disponível. Falou-me ele que alguns colegas optam por salvar o paciente mais jovem ,aquele que teria - teoricamente - mais a oferecer à sociedade em um maior tempo de vida. Outros médicos priorizam os pacientes mais escolarizados e portanto mais potencialmente produtivos de bem comum em detrimento do garoto baleado numa boca de fumo,por exemplo. Mas outros escolhem tentar salvar os mais idosos. Nos nossos hospitais os médicos estão brincando de Deus,decidindo quem vive e quem morre e suas mães nada lhes disseram sobre o assunto. Não há leis que regulem tais escolhas e condutas médicas, não há uma ética de vida e de morte para CTIs.Penso que ela deveria ser debatida, assim com a da traição.
O que constitui comportamento ético é determinado por normas sociais ou culturais, concordo com você. Porém ética e moral são inseparáveis e o comportamento moral cabe ao indivíduo decidir com base em seu próprio senso de certo e errado. Que nem sempre é claro.
Obrigado pela leitura e comentários
Moacir, muito obrigada pela atenção que dispensou ao meu comentário no seu final de semana. Vou reler tudo sem pressa levando em consideração todos os argumentos. Tenha uma ótima semana.
ExcluirOlá, Moacir. Vou sair do campo da política, pois nesse meio não existe ética nenhuma só traição e interesses escusos, para dizer-lhe que acredito ser necessário cumprir meu dever nesse mundo e fazer com que isso aconteça , sem presunção de que sempre estou certa, mas dentro daquilo que eu acredito e aberta a ensinamentos e criticas construtivos. Ética na lealdade, SEMPRE...Na traição a gente sempre se estrepa...mesmo se fôr por uma boa causa. Bom final de semana ! Abraços , Dulce
ResponderExcluirDulce,minha amiga de horas boas e difíceis, looooonge de mim fazer aqui uma apologia à traição ou uma crítica à lealdade. Não se trata disso. Mas trair nem sempre é uma "roubada". Às vezes temos que trair o passado para não trair o futuro e a quem amamos para não trair a nós mesmos.Como dizia Dom Hélder porque lera Sartre: " Feliz de quem entende que é preciso mudar muito pra ser sempre o mesmo". No caso em pauta, os três líderes espanhóis - um fascista, um comunista, e um militarista - traíram tudo aquilo no qual tinham acreditado durante suas vidas por um compromisso maior que suas próprias convicções, ideologias, interesses e ambições: pela ESPANHA, pela pátria que os filhos herdariam. Dona História conta o resto desse artigo. Eu, pessoalmente, não acredito em escolhas extremadas mas simplesmente em liberdade versus tirania. Aqui reside a raiz dos nossos problemas. As oscilações do pêndulo entre tirania e liberdade são permanentemente rejuvenescidas pelas ilusões de como se viver de forma "mais justa”. Essas ilusões são manipuladas pelos assuntos da política, que não é mas deveria ser a melhor conduta de uma sociedade assim como a ética é o melhor comportamento do indivíduo.Estou convicto de que a moralidade dos comportamentos sociais deve ser ditada pelo nosso anseio de viver em liberdade e pela nossa repulsa contundente de viver sob a opressão, de ditaduras como a de Franco, por exemplo. No caso, a tripla traição cometida por esses homens, para mim, não poderia ter sido mais ética, moral e acertada.
ExcluirÉ claro que, como você tão bem coloca, ninguém é dono da verdade. Talvez seja maluquice ou ingenuidade continuar acreditando que um dia a humanidade abdicará da formidável infância do 8 e 80 e será capaz da habilidade de conciliar verdades parciais, como aliás fizeram Suarez, Mellado e Carrillo. Mas sonhar com isso é o que faz a vida valer a pena.
Abraço
Moacir,
ResponderExcluirNão sou muito de filosofias. Acredito em Deus e tento ser leal a mim mesma. Não faço a ninguém o que não quero que façam comigo e aprendo todos os dias. Um abraço para você.
Flávia, você citou no seu comentário a Regra de Ouro das religiões ocidentais: "Não faço a ninguém o que não quero que façam comigo". Ela é imensa e se aplicaria inclusive à luta em defesa da natureza, já que não podemos legar às futuras gerações um planeta que não gostaríamos de habitar hoje. A maioria das religiões, é claro, defende elevados padrões éticos. No entanto, se a ética se limitasse à religião, ela se aplicaria apenas às pessoas religiosas em vez de versar tanto sobre o comportamento do ateu quanto sobre o do devoto. A religião pode estabelecer altos padrões éticos sim e pode fornecer motivações profundas para o melhor comportamento do indivíduo mas creio que ética não pode ser confinada à religião. O que me lembra de uma muito manjada história:
Excluir"Um dia vieram e levaram meu vizinho que era judeu.
Como não sou judeu, não me incomodei.
No dia seguinte, vieram e levaram meu outro vizinho que era comunista.
Como não sou comunista, não me incomodei .
No terceiro dia vieram e levaram meu vizinho católico.
Como não sou católico, não me incomodei.
No quarto dia, vieram e me levaram;
já não havia mais ninguém para reclamar..."
A ética é maior que as nossas diferenças
Outro abraço para você
Olá Moacir,
ResponderExcluirÉtica não se tem, se é. E, se sou ética, com certeza vou continuar ética numa traição. Como seus três espanhóis. Eles trairam?
O que uma traição? Entramos , o Mano e eu, numa longa conversação sobre isso e até agora não encontramos respostas. Só mais perguntas. E dúvidas. Voce quer elas de presente? Nesse caso vamos querer as respostas!
Até mais.
Donana,
ExcluirVamos às benditas perguntas!
Donana....
ExcluirNa escuta!
Escute-me, pois.
ExcluirEntre uns sofismas cabulosos e outros também, cheguei a uma dúvida obscena: seria a ética subjetiva? Ou o uso dela? E aí volta tudo ao que era antes.
Sei que não.
Que não deve ser.
Será?
Bom domingo para voce, porque o meu já está comprometido. Tinha já desistido de responder.
Até mais. Ou não?
Donana,
ExcluirDepende do que a senhora entende por subjetiva e/ou objetiva. Afinal a matemática é objetiva e os teoremas são interpretados logicamente , embora os números sejam abstratos e não existam segundo um dos meus poetas favoritos(rsrs)
Nas Vinhas da Ira , John Steinback dizia que
"Não existe pecado nem virtude. Há apenas o que a gente quer fazer. Tudo faz parte da mesma coisa. Algumas coisas que a gente faz são boas e outras não prestam, mas isso está na cabeça de cada um"
O subjetivismo parece apontar no sentido de que a moral e a ética são enfatizadas por sentimentos ou ideologias pessoais em oposição a fatos ou evidências externas.Um exemplo? Os devotos políticos. Se por "subjetivos" a gente entende conceitos abstratos dependentes da cognição e por objetivos aspectos da realidade independentes da cognição, então a moralidade é subjetiva e as decisões éticas tomadas pelos seres humano são subjetivas. Como poderia ser de outra forma?
Por outro lado em diferentes épocas da história e em diferentes lugares da Terra, as opiniões foram radicalmente diferentes:seres humanos eram escravizados , filhas eram sepultadas em conventos e pretendentes mortos quando de sexo antes do casamento, ladrões tinham mãos amputadas, bruxas eram queimadas em fogueiras e mulheres , que eu saiba, ainda são castradas, chicoteadas e apedrejadas.
A moral varia e , é claro, essa variação milita contra a ideia de que as verdades morais são objetivas e universais. Se a moralidade fosse universal por que as pessoas discordam de assuntos como o aborto? Por que não podem encontrar uma base moral comum sobre a ética do aborto,a crueldade contra os animal, o porte de armas, a eutanásia, a guerra, a pena de morte? Não existem "verdades" morais universais.
Mas a Ética - com maiúscula! - não é subjetiva já que não tem por base opiniões baseadas em crenças pessoais, sem necessidade de argumentação racional ou razão real que a sustente , o tipo de opinião que alguém poderia ter intuitivamente ou sentir nas telhas que é o certo para ele. Ao contrário, ela é objetiva, baseada em princípios lógicos definidos, sujeitos a coisas como consistência, integridade intelectual, empirismo etc,etc,etc.
Porém concordo com a senhora.Discutir ética e moralidade em termos de subjetividade/objetividade , ao fim e ao cabo, não valerá a pena pois não atrairá respostas uniformes. Mas, pessoalmente , acho que a Ética é mais objetiva do que subjetiva. Nós chegamos ao conhecimento do que é bom e mau, certo e errado de forma individual e independente. A existência de sistemas éticos no mundo é um fato objetivo e a existência da ética não é uma escolha humana subjetiva , mas sim um traço evolutivo dos animais sociais que somos.
Como aconselha o nosso budista, sigamos com as mentes alertas e os olhos e corações abertos aprendendo com nossos dilemas e "traições" e nos reinventando pelo caminho do meio.
Abraço
Oi Moacir,
ResponderExcluirexiste sim uma ética da traição. Falo da afetiva. É não causar dano ao outro com o qual se partilha a traição. Não estou justificando e tampouco fazendo a apologia da traição. Mas, se ela acontece, e a gente sabe que ela acontece mais do que se imagina, talvez seja a regra número UM dessa estranha ética não causar dano ao novo parceiro de momentos, por enquanto. Porque a proximidade, a convivência faz querer mais do que é experimentado e bom.
Afinal, ninguém quer e nem pode mandar tudo às favas. Aí começam os problemas quando um é livre e o outro não, por exemplo.
Trair pode ser muito prazeroso e ao mesmo tempo muito doloroso. Por isto muita gente evita, foge delas, traições. Mesmo antes de trair, a pessoa humana que ali está não deseja entrar nessa... posso chamar de vertigem?
Quando a gente revisita histórias de grandes artistas vê essa dificuldade estampada no script diário de cada um. O não poder dizer, o ocultar, é como aquele texto da Marina: "Não ser visto quando mais se desejava ser visto".
Embrulha a alma, é uma volta pra casa de solidão incomum.
Trair é para os fortes, Moacir. Os fracos fraquejam não traindo.
Abraço
Ofelia
Ofélia, quando escrevi este arrazoado não fui além da traição ideológica de Suarez, Carillo e Mellado. No entanto, o seu comentário sobre a traição amorosa ser uma experiência reservada aos fortes é interessante.Jamais pensei sobre o tema a partir dessa perspectiva. E acabo de lembrar de um pretérito comentário que fiz, faz tempo, numa coluna de poesias noutro blog, e que talvez eu não tenha esquecido porque ali rolou também uma outra conversa sobre a Índia entre mim e o Antônio que talvez tenha determinado a minha participação nas Conversas do Mano. Mas "focalizemos": ali eu dizia que embora somente uma grande paixão, o instinto , uma atração irresistível, nos leve a abrir espaço na nossas vidas para uma perfeita estranha, quem tem juízo sabe muito bem que o amor vai além de mera atração, e que ele se intensifica e desbota em ciclos, tipo as estações do ano. E afirmava que o amor é uma coisa permanente. Um compromisso. Uma vontade sempre renovada de se estar por perto e por inteiro sendo o resto uma de duas situações : a caça primitiva muuuuuito bem planejada antes de ser cometida sem promessas e souvenirs ou..... screenplay. Porém também ponderava que sempre haverá uma mulher que,chegando inesperadamente, impressiona, instiga e balança. E concluía que se a primeira opção , lá atrás , continua valendo , então não valia a pena fazer escalas na viagem. Talvez seja covardia sim esse não ir, não ser, não se envolver. Mas também pode ser coragem. Penso que você está certa quanto a existência de uma ética na traição "afetiva" : não encarar é a única forma de evitar sofrimento não apenas à terceira ponta do triângulo mas a todas elas. Não dá para viver nada sem se estar livre para tanto e, então, é melhor cuidar do amor antigo que não queremos nem podemos deixar pra trás. É como se, mesmo profundamente encantado com a possibilidade,se pensasse : Que pena! Ela chegou atrasada e está só de passagem.E então se vai para casa e...maravilha! ...se tira os sapatos.
ExcluirAbraço
Lindo o seu comentário, Moacir!
ExcluirLindo e verdadeiro. E triste.
Mas, como diz você, falando baixinho aqui: existe um conforto grande em se tirar os sapatos, não?
Ninguém aguenta viver com o coração em alvoroço. A vida pede uma certa acalmia após os verdes anos.
Parabéns pra você. Amei.
Ofelia
Ofélia, como dizia o grande Mário...
Excluir"Minha casa...
Tudo caiado de novo!
É tão grande a manhã!
É tão bom respirar!
É tão gostoso gostar da vida!...
A própria dor é uma felicidade!"
Abraço
Olá Moacir,
ExcluirTão bonita as trocas entre a Ofélia e voce, cheias de ternura e generosidade!!Muito bom de ler!
E o seu comentário mais acima é tudo que uma mulher gostava que seu homem pensasse.
Até mais.
1) Agora, para botar um pouco de lenha nessa fogueira.
ResponderExcluir2)A Filosofia budista nos informa que, quem trai faz o outro sofrer, às vezes, mais de uma pessoa fica sofrendo em função do trair.
3)E quem trai... quem faz o outro sofrer ... pega um carma negativo brabo.
4)Claro, estou abordando o lado religioso.