Moacir
Pimentel
Esse é o meu corvo de estimação. Note que o
pássaro de mau agouro, pelo menos na minha foto, em vez de notícias tristes anuncia
um final feliz, pois se aproxima da donzela aprisionada na teia das grades trazendo
um anel de noivado no bico. Essa versão da ave tem uma estória.
Fiz a foto numa tarde de inverno enquanto caminhávamos
do Castelo de Buda para o hotel onde estávamos hospedados. Não sei dizer o que
era a bela casa antiga dona desse portão sobre o qual o corvo está pousado. Talvez
fosse uma residência.
As fotos anteriores me mostram o Danúbio e as
pontes que ligam Buda a Peste e alguns ângulos dramáticos do que restou das
muralhas do Castelo. Já as seguintes, maravilhosas embora nubladas, foram
feitas enquanto o sol se punha sobre uma Budapeste de nuances e paradoxos,
vista do alto. Nada que esclareça minhas dúvidas quanto ao endereço do pássaro.
Por uma dessas coincidências da vida, me deparei com o corvo húngaro, um
dia após termos assistido uma reportagem da BBC sobre as ilustrações do poema o Corvo de Edgar
Allan Poe, feitas pelo pintor impressionista francês Édouard Manet.
Os trabalhos de Manet me impressionaram tanto
que, alguns dias depois, já em Praga, mesmo depois de andar quilômetros por uma
das minhas cidades favoritas neste mundo e, atenção, ainda mais bonita porque pintada
de cores natalinas, não resisti ao impulso de procurar pelas imagens do Corvo
no éter e a compartilhar os links com alguns familiares e amigos. Agora, mais
uma vez, gostaria de conversar sobre o tema.
O trabalho do escritor americano Edgar Allan Poe
foi traduzido por Charles
Baudelaire e mais tarde por Stéphane Mallarmé, os dois maiores poetas franceses
do século XIX. Portanto a obra de Poe influenciou uma geração de escritores,
artistas e compositores já que o francês, então, era a língua mãe dos
intelectuais.
Baudelaire traduziu a poesia O Corvo em 1853 e, como
se fosse pouco, em 1875, os versos foram novamente traduzidos por Mallarmé, com
direito a uma edição de luxo e às tais ilustrações de Édouard Manet, que
Mallarmé conhecera dois anos antes e de quem tornara-se grande amigo. Dá
testemunho dessa amizade um retrato do poeta em seu estúdio, pintado em 1876
por Manet, que hoje mora no Museu D’Orsay.
Quando o livro foi publicado Mallarmé ainda era um
poeta obscuro, mas Manet já se tornara, ainda que controverso, um artista
conhecido. Sua presença na publicação visava torná-la um sucesso de vendas, só que,
muito ao contrário, a iniciativa resultou em um retumbante fracasso comercial.
Essa edição do Corvo era bilíngue e limitada, luxuosa
e cara, tendo sido publicadas apenas duzentas e quarenta cópias assinadas por
Manet e Mallarmé. Havia nela quatro ilustrações de página inteira.
No poema narrativo de Poe, publicado pela primeira
vez trinta anos antes, um poeta, atormentado pela morte da sua amada Lenore, é
visitado por um corvo, notoriamente um bicho de mau agouro, que nos versos se
torna também o alter ego do narrador.
Ele empoleira-se em um busto de Palas Atena, a
deusa da sabedoria, e sua resposta repetida às perguntas do poeta sobre seu
amor morto é sempre um implacável “Nunca
Mais!”, que é definitivo para dar ao poema com um tom sombrio de perda
irrevogável.
Entre as centenas de sketches de corvos
desenhados pelo artista nas quatro primeiras ilustrações escolhidas e publicadas, Manet mostra o
poeta em seu estúdio sombrio, em seguida abrindo uma janela e finalmente
olhando fixamente para o corvo pousado sobre a estátua.
Na primeira gravura, ou como tão bem diz o seu longo
título “Numa triste meia-noite sob a luz”, o poeta está sentado sob a luz difusa de uma lâmpada na sua biblioteca. Note
que, no primeiro plano, à direita, o artista insinuou a forma de um corvo e
mais, meio que misturou-a com a figura humana ao transformar o paletó escuro do
poeta na ave de mau agouro.
Diz o Poe na tradução de Fernando Pessoa:
“Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e
triste,
Vagos,
curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase
adormecia, ouvi o que parecia
O som de
alguém que batia levemente a meus umbrais.
“Uma visita”,
eu me disse, “está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais.”
Na
ilustração seguinte cujo nome é “A Janela”
Manet rabiscou o poeta abrindo
uma janela para o Corvo e descortinando uma paisagem urbana compondo o fundo,
que a gente supõe que seja Paris, por causa dos telhados.
“Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos
bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não
parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou
sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há
por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.”
O terceiro desenho nos revela o atormentado e deprimido amante derrubado
em uma poltrona, olhando fixamente para o seu alterego penoso, pousado em cima
do busto de Palas. Seu título é... “Sobre
o Busto”.
“Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a
minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus
umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita
maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos
ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos
ancestrais,
Com aquele “Nunca mais”.
No entanto, na minha opinião, o derradeiro
desenho de nome “A Cadeira” é a obra
prima da série, pois nele Manet conseguiu traduzir o cerne do poema e o poeta desaparece,
é abduzido ou assimilado pela sombra do Corvo, a qual podemos ver projetada no
chão, de onde a alma daquele que chora por Lenore não se levantará jamais.
“E o corvo, na noite infinda, está ainda,
está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os
meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que
sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão
há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!”
A gente se maravilha com a modernidade do
trabalho de Manet, muito principalmente se o compara, por exemplo, com as belas
ilustrações a seguir, realizadas pelo inigualável Gustave Doré, sobre o mesmo
tema, quase uma década depois.
A originalidade da interpretação de Manet sem
dúvida fica mais clara quando comparada com as gravuras do grande Gustave Doré,
que foi o ilustrador da versão seguinte do Corvo, contemporânea da que fora
ilustrada por Manet, embora publicada só em 1883.
As belíssimas gravuras de Doré remetem ao trabalho
de gerações anteriores de ilustradores, bem mais românticos, bem como às suas
próprias obras pretéritas, como as que enfeitaram os versos da Divina Comédia, por
exemplo, aqueles desenhos arrebatadores de Dante e Beatrice olhando as estrelas
e os anjos rumo ao Paraíso.
Doré enfatiza a atmosfera sobrenatural do poema, mostrando-nos
a galera angélica e o corpo do poeta no chão sob a sombra do corvo - que Manet
omite. É particularmente tocante a gravura à esquerda, embaixo da montagem, cujo
título é “Outros amigos voaram antes”.
Como eu gosto muito do Edgar, do Édouard e do
Gustave continuei a me informar e descobri que as ilustrações de Doré, embora
publicadas oito anos após as de Manet, eram muito mais parecidas com outros
desenhos que o inglês Dante Gabriel Rossetti - o pintor e poeta mais famoso
entre os pré-rafaelitas - também havia rabiscado inventando o seu próprio Corvo
décadas antes de Manet e de Doré.
Rossetti retratara um poeta sui generis, rodeado
por anjos e espíritos, numa composição gótica desenfreada e angustiante que
evoluiu até descrições posteriores mais etéreas povoadas por anjos – ou
demônios? - mais simpáticos.
Há um forte parentesco entre Dante Allighieri, Edgar
Allan Poe e Dante Gabriel Rossetti. Todos recriaram a morte de belas mulheres, aquelas
da vida deles. Assim como Dante criou a Divina Comédia para dar continuidade ao
seu amor infeliz e não consumado por Beatrice, Rossetti também atravessou uma
espécie de luto pictórico, pintando em trágicas imagens o fantasma de Elizabeth
– a sua Lizzie - que assombrou o marido durante toda a sua vida.
Sobre tal compulsão do irmão, a poetisa Christina
Rossetti em famosos versos afirmou que ele a retratava continuamente...
“Não como ela é, mas foi quando
a esperança brilhava;
Não como ela é, mas como ela
enche-lhe o sonho.”
Quanto a Poe, ele jamais se casou com uma mulher
chamada Lenore. Seu único casamento foi secreto, em 1834, ao desposar uma prima
de nome Virginia Clemm que à época só tinha treze anos. Poe, no entanto, parecia
gostar do nome Lenore, pois ele foi usado para se referir a mulheres
tragicamente mortas em dois de seus poemas: Lenore em 1843 e O Corvo em 1845.
Ambos os poemas foram escritos antes que a esposa
de Poe falecesse em 1847, embora desde o início dessa década ela já
apresentasse os primeiros sinais da tuberculose que a matou.
A morte de uma bela mulher é um tema recorrente das
pretinhas de Poe, como se pode verificar em contos como Berenice e Morella e em
poesias como Annabel Lee, Eulalie e Ulalume.
Ele perdeu muitas mulheres durante a vida, além de
sua esposa. Sua mãe morreu de tuberculose quando Poe tinha dois anos, a
namorada de infância fugiu com outro homem e aos vinte anos sua mãe adotiva foi
para o andar de cima precocemente.
“Profeta”, disse eu, “profeta - ou
demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!”
Disse o corvo, “Nunca mais”.
Não há quaisquer dúvidas de que Rossetti, antes de ter
sido inspirado pelo poema de Poe, fora influenciado pelos versos do outro Dante,
aquele Allighieri, já que pintara exaustivamente tanto a Beatrice desde os seus
primórdios no poema Vita Nuova quanto o ilustre xará.
Mas os desenhos que Dante Gabriel Rossetti fez para
O Corvo nada têm a ver com a morte da própria esposa. As ilustrações de Rossetti
foram uma resposta, isso sim, ao poema de Edgar Allan Poe e estão entre as
primeiras obras do pintor, anteriores mesmo à fundação da Irmandade Pré –
Rafaelita.
A mulher de Rossetti, a belíssima Elizabeth Siddal,
se matou com uma dose de laudano em fevereiro de 1862, aos trinta e tres anos, no
auge da beleza e da fama, enquanto posava como modelo para quase todos os
companheiros pre-rafaelitas, inclusos Deverell, John Millais - que a
imortalizou como a mais bela das Ophelias – William Hunt e, incontáveis vezes,
para o próprio marido.
Ou seja, quando O Corvo foi publicado pela primeira
vez, em 1845, Elizabeth tinha dezesseis anos e não tinha ainda conhecido o seu
Dante. Durante muito anos
errôneamente fui levado a interpretar e, como eu muita gente boa, a série de
illustrações abaixo como representativas de um momento decisivo na vida
artística de Rossetti, tanto na literatura quanto na arte, acreditando que o
artista ao criar tais imagens se encontrava tomado pela depressão motivada pela
morte da esposa e havia delirado uma Lenore com as tintas da sua perdida
Elizabeth. Dona História desmente categoricamente esta versão poética.
Tendo lido o poema no inglês original tão logo fora
lançado, em seguida Rossetti desenhou a primeira ilustração do poema a pena e
tinta: um frenético poeta saltando apavorado de uma cadeira enquanto era
atormentado pela visão apavorante de várias figuras fantasmagóricas esqueléticas e espíritos vorazes e por uma gigantesca Lenore por trás da tal
cadeira.
No fundo da cena se vê uma estante encimada por bustos não
identificáveis. Na extrema esquerda, muito insignificante, mal se percebe um
corvo quase acéfalo, empoleirado em outro busto como vemos aí em baixo, em
sentido horário.
Nos dois anos seguintes Rossetti fez mais três desenhos,
menos tumultuados e sem o forte tom de pesadelo da primeira obra, mais no
estilo angular que lhe era característico.
A segunda cena azul da tradução dantesca pictórica
para o poema de Poe é um trabalho em bico de pena e aquarela no qual uma legião
de anjos comparece em fila indiana. Note o gesto do protagonista do poema, que
leva as mãos à cabeça desesperado pela perda da mulher amada.
Na sequência vemos fantasminhas pueris
delineados por giz, passando por um poeta já acostumado com os invasores
extraterrestres. Por fim, um desenho a caneta e lápis e aquarela, no qual o
famoso estilo angélico de Dante se faz mais evidente e onde, novamente, a figura
de Lenore está presente bem no centro do palco, quase que tridimensional e
inclinando-se para o poeta.
O poeta inventado por Rossetti é cheio de ansiedade
e aquelas mãos segurando-lhe o juízo sugerem medo psicológico na primeira
imagem. Nas duas imagens seguintes o narrador já está mais composto e, estranhamente,
parece aceitar e interagir com seus convidados celestiais.
No último desenho, datado de 1847, no qual o poeta
enfrenta o fantasma de Lenore cara a cara, Rossetti faz experiências
diferentes, encontra maneiras menos grotescas para retratar a galera do Além. Suas
figuras sobrenaturais são absolutamente serenas, já não se movem frenéticas e –
pasmem! – voltam à uma espécie de angelical infância. Deixam de ter as formas medievais
esbeltas e adultas e tornam-se misteriosamente frágeis e infantis.
Note que todos os últimos desenhos de Dante Gabriel Rossetti são
lineares e fortemente articulados, e que eles claramente se relacionam com as
mesmas urgências estilísticas e artísticas enfrentadas pelo narrador do poema
após à morte de Lenore. Mas não com a dor do próprio Dante Gabriel Rossetti, consumido de culpa pelo
suicídio da esposa que ainda não tinha acontecido.
Penso, no entanto, que todas essas ilustrações são
muito reveladoras do processo criativo dos artistas que as criaram.
Apesar das diferenças de estilo, os quatro desenhos
que Rossetti guardava em um arquivo rotulado como Os Passos dos Anjos retratam
os mesmos momentos do poema de Poe trabalhados depois por Manet e Doré. Todos
os desenhos nos apresentam à mesma figura masculina de cabelos compridos e
compartilham a mesma composição geral de figuras agrupadas em torno de uma mesa
e sob uma única fonte de luz – a lâmpada – e, é claro, o onipresente Corvo
empoleirado no busto de Palas Atena.
Tudo bem que ambos, Rossetti e Doré, criaram a
ilusão de uma mesma procissão de anjos materializando-se do nada, com os rostos
e cabelos detalhados antes de se esvanecerem. Porém contrastes interessantes surgem
entre os desenhos após uma inspeção mais cuidadosa.
As gravuras de Doré, publicadas em 1884, quase
quarenta anos depois das de Rossetti são muito mais refinadas, é claro, mas não
têm o lampejo de genialidade da última das gravuras de Manet.
Os desenhos de Manet e de Doré ainda não haviam sido
rabiscados quando Rossetti esboçou os dele – isso é inquestionável – e é altamente
improvável, provavelmente impossível, que Manet e Doré tenham visto os desenhos
de Rossetti antes de inventarem os seus próprios Corvos.
O fato dos desenhos de Rossetti nunca terem sido
publicados indica que ele os criou para consumo próprio, para alimentar o seu
próprio mundo particular de fantasia, já romantizado pelos os ideais de amor,
de morte e vida eterna de uma mulher celeste – a Beata Beatrice - que ele já encontrara
na poesia de Dante Alighieri.
Mas...
Em 1881 Rossetti escreveu numa das suas biográficas
cartas para Jane Morris - a esposa de seu melhor amigo que foi sua amante e
confidente e modelo favorita após o suicídio de Elizabeth Siddal - que teria recebido um portafoglio de litogravuras
inspiradas no poema O Corvo de autoria de...
“Um idiota chamado
Manet, que certamente deve ser o maior asno que já viveu sobre a Terra”.
Ainda segundo o Dante Gabriel - abrindo aspas - cópias desse lixo deveriam ser adquiridas
por todos os hipocondríacos e lunáticos internados em hospícios. Pois contemplar
tais horrores, sem gargalhar, é impossível. Fechando aspas.
A gente fica matutando se tal reação extremada e
ferina se deveu ao ódio que Rossetti dedicava ao trabalho dos impressionistas
ou se foi um ataque de inveja pura. Porque acima de tudo Rossetti fazia arte e
com certeza a reconhecia.
Vale muito a pena comparar a forma como estes
artistas do século XIX, de diferentes países e vivências, interpretaram
visualmente O Corvo de Edgar Allan Poe e como nos seus rascunhos eles sacudiram
suas emoções e crenças. Muito mais poderia ser dito das associações e
contrastes entre os desenhos de Rossetti e Manet e Doré, mas eu acho que muito
mais importante é a poesia, é esse O Corvo do escritor gótico americano que os
inspirou.
Dia destes a Donana fez a pergunta que talvez tenha justificado esse
artigo:
“Você
não acha que muitas obras são resultado de um processo criativo planejado? Se
assim for, porque nunca saberemos mesmo, deixa de ser arte, ou é menos arte?”
É claro que a arte planejada
cuidadosamente é tão arte quanto a supostamente realizada durante um golpe de
inspiração.
Não conheço melhor tradução para o Corvo – mesmo sendo o poema intraduzível
na minha opinião - do que a de Fernando Pessoa. O mesmo poeta que, numa carta
para seu amigo Mário Sá Carneiro, explicou-nos como inventou seu heterônimo
Alberto Caeiro. Disse Pessoa:
“Quis inventar um poeta bucólico. Levei
uns dias a elaborar o poeta mas nada consegui. Num dia em que finalmente
desistira, foi em 8 de março de 1914, aproximei-me de uma cômoda alta e,
tomando um papel, comecei a escrever de pé e escrevi trinta e tantos poemas a
fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir.Foi o dia
mais triunfal da minha vida.Abri-o com um título “O Guardador de Rebanhos”. E o
que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei logo o nome de
Alberto Caeiro”.
Este tipo de processo criativo é chamado de inspiração embora muitos o
descrevam como psicografia (rsrs). Até porque Pessoa teve mais de cento e
cinquenta pseudônimos – ou fantasminhas? - elaborou perfeitas biografias para
muitos heterônimos e conseguiu ser quatro dos cinco maiores poetas
portugueses.
Já Edgar Allan Poe na
sua A Filosofia da Composição, um ensaio que prometia contar o método que usara
para escrever seu famoso poema O Corvo, desafiou aqueles que sugerem que a
escrita é um processo misterioso solicitado apenas pela imaginação explicando
que a construção do poema obedeceu a duas necessidades básicas: pagar suas
dívidas e agradar tanto à crítica quanto ao público.
Sobre o tema diz, com
muita razão, o nosso editor Wilson, que a leitura de tanta filosofia no tratado
do Poe, transformara a sensação que o poema sempre lhe dera de ter sido
inspirado...
“Na
percepção de uma análise de fluxo de caixa que levou a um estudo de marketing
seguidos do desenvolvimento de um produto que satisfizesse o estudo.”
É inegável que Poe
construiu minuciosamente o Corvo, para ser apreciado universalmente escolhendo
para os versos o seu tema predileto: a beleza.
Em seguida ele escolheu
a tristeza como manifestação da beleza que queria comunicar, por entender que a
melancolia é “o mais legítimo dos tons
poéticos”. Dentre todos os temas melancólicos da humanidade ele focou na
poética morte de uma mulher bonita e jovem.
Depois de estabelecer o
tema e o tom do poema, Poe escolheu a estrofe que daria ritmo ao conjunto e, é
claro, seria mais facilmente memorizada pelo prezado público numa espécie de
interrogatório da ave de mau agouro.
Poe em seguida
selecionou a palavra chave da “estória” que queria narrar... NEVERMORE!... no
português... NUNCA MAIS!
Quem pronunciar a
palavra inglesa sentirá que ela possui não um mas dois Rs guturais e lúgubres.
Depois de achar a palavra ideal para expressar, como refrão, a atmosfera
trágica que pretendia, Edgar Allan Poe saiu catando no idioma inglês outras palavras
que com ela rimassem e ecoassem o climão pretendido sem que os versos se
tornassem monótonos.
Mas acima de tudo, de
como pensou, construiu e explicou O Corvo, Poe criou conscientemente uma obra
prima poética-fonética, de impossível tradução. Quem escuta o som daqueles
versos em inglês, não precisa conhecer uma só palavra da língua para abstrair
que algo de muuuuito funesto está ali acontecendo.
Mais importante do que saber como Edgar Allan
Poe e Manet e Rossetti e Doré desenharam-se a si mesmos e aos seus Corvos é a
compreensão difusa de que o fizeram porque não tinham escolha, por que
precisavam comunicar alguma coisa. Acho que faz artes quem pensa e sente além,
quem transborda contrariando a
geometria do cotidiano e a simetria da vida.
Dizia Edgar Allan Poe que o
objeto final da poesia não é a verdade e que um poema não é belo por incutir
uma moral e muito menos deveria ter o seu mérito julgado por esta moral. Poe
acreditava que um poema em si - e nada mais - era sua razão de ser.
“A
beleza é a única província legítima de um poema”
Fica evidente que a arte que
acabamos de ver - a poesia de Edgar Allan Poe e os desenhos de Manet, Rossetti e
Doré - foram criadas não apenas como fontes de beleza, mas também como um meio
de expressão dos pensamentos e das emoções dos seus autores.
Embora muitos doutos acusem
Poe - e ele confessou o crime! –de usar seus tempo e talento para fins
marqueteiros, ele centrava seus temas em torno de um único propósito: a
manipulação do inconsciente de sua audiência.
Só que Poe conseguiu isso
cercando a sua claque com um mundo metafísico surpreendente e emocionante e trabalhado
com precisão, para transmitir beleza e para provocar, inclusive, em outros
criadores e por outros meios, mais beleza.
Como tão bem dizia o nosso
Mário Quintana também inspirado por outros corvos...
Da vez primeira
em que me assassinaram,
Perdi um jeito
de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada
vez que me mataram,
Foram levando
qualquer coisa minha.
Hoje, dos meu
cadáveres eu sou
O mais desnudo,
o que não tem mais nada.
Arde um toco de
vela amarelada,
Como único bem
que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mão avaramente adunca
Não haverão de arrancar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trêmula e triste como um ai,
A luz de um morto não se apaga nunca!
Artigo muito interessante, Moacir, sobre um poema que te é caro, ainda mais que nos traz as três amostras das belíssimas ilustrações, tão diferentes no enfoque e na execução. Não sabia do Manet como ilustrador, foi uma boa surpresa. Obrigado.
ResponderExcluirE o Corvo, bem, a ligação dele com minha família é antiga, embora as opiniões nem sempre coincidam :)
Caríssimo Wilson,
ExcluirÉ o seguinte: o Nunca Mais do seu Tio W entrou para a história do Nevermore do meu Corvo.Da próxima vez que eu falar do penoso, a "conversa" já será diferente. E nessas trocas de penas e de alegrias, de teclas e de trocas seguimos em frente (rsrs)
Abração
Como as pessoas pensam e são diferentes, não é Moacir? Ficam tão claras as diferenças nas obras dos 3 artistas. Não gosto do poema ( parece filme de terror ) mas foi interessante saber como foi escrito. Também não posso emitir opinião sobre os desenhos antes de olhar melhor os corvos. Vou reler o artigo com calma. Por enquanto a sua foto vai ganhando a parada 😊
ResponderExcluirMônica, sim as pessoas e o mundo são diversos e todos os estilos de vida e crenças e opiniões - dentro da razão - são igualmente válidos. Viva a diversidade!
ExcluirMoacir,
ResponderExcluirAmei o artigo de hoje. Que linda essa sua foto! Eu assisti o filme com Vincent Price ainda menina e por isso descobri o poema. As informações que você dá sobre a construção dos versos são muito interessantes. Já sobre os desenhos os de Doré são especiais e meus preferidos. São bem melhores que os de Rosseti e se eu não soubesse que o último desenho de Manet era do corvo não tinha como adivinhar. O poema de Mário Quintana foi um presente. Obrigada e um abraço.
Flávia, que bom você ter apreciado o artigo e lembrado do Price que, com certeza , povoou de terror algumas das benditas noites das nossas infâncias.
ExcluirSem dúvida Doré foi um monstro sagrado da arte da ilustração. Divido com ele uma paixão: a literatura. Ele ilustrou a Bíblia, a Divina Comédia de Dante, obras de Balzac e Coleridge e Lord Byron, os contos de fada de Perrault , as fábulas de La Fontaine e por aí vai.
No entanto, o espírito do poema O Corvo, o cerne da mensagem que me comunica o Poe , é que o poeta ao interrogar o pássaro conversa consigo mesmo, que o Corvo era um alterego. Ele perguntava à ave o que já sabia mas não podia enfrentar sozinho e confessar a si mesmo. ISSO , essa percepção minha, essa minha maneira de interpretar o poema , na minha opinião, quem melhor desenhou e com a mais absoluta originalidade e economia de traços foi Manet no último dos seus trabalhos , aquele no qual as sombras do pássaro e do narrador são unificadas. Uma obra -prima! Para não falar da força daquela cadeira vazia!
Obrigado pela sua leitura e comentários.
Abraço
Quem me garante que é um corvo, Moacir? Parece até meu melro, o pássaro preto que morou conosco 18 anos. E não assombrava, cantava lindo e forte. Chorei muito quando o perdemos. E o portão é lindo! Não importa se em Buda ou Peste.
ResponderExcluirMe ocorreu uma brincadeira com o Antonio: quem não está em Buda está em Peste, rsrs...
Por alguma razão me ocorre agora que meu ex-professor Argolo vivia com um livro de Poe nas mãos. A capa era preta. Nunca vi o título do livro, ou não me lembro mesmo dele, título. Devo a ele meu primeiro emprego.
Corvo também me lembra o Lacerda e o Werneck, da TI. Werneck era um sobrenome de Lacerda. Acho que sim. Fico feliz em me lembrar de coisas com facilidade. É um prêmio a cabeça ganhar os ares. Porque as coisas, às vezes, não fazem sentido, e é doloroso quando isto acontece.
Detesto o voejai, já te falei isto, ou não? Voejar é para tudo que é mau, ruim, noturno e quando os pássaros do bem não voam, já dizia meu pai.
Qual será o significado desse portão? Não é de mau agouro nenhum. Jamais pensaria assim, mesmo se o visse sem a sua tradução simultânea.
Tive a impressão de que você falaria sobre os corvos de Van Gogh. Você já falou e eu esqueci? Não me lembro se falou, se ficou apenas na ideia não completada. Não posso garantir. Fatos antigos correm em alta velocidade, sem interrupções. Fatos novos às vezes enguiçam como carros velhos. Se falou, desculpa.
Eu te copiei: "Acho que faz artes quem pensa e sente além, quem transborda contrariando a geometria do cotidiano e a simetria da vida."
Este é você, Moacir. Um artista arteiro. Ou um arteiro artista.
Abraço
Ofelia
1) Adorei o trocadilho Ofélia.
Excluir2) Seu nome me faz lembrar da palavra japonesa "ofussê" que significa "Oferenda".
3) Esclarecendo: Ofussê não é só dinheiro, pode ser um sorriso, um abraço.
Ofélia,o seu melro entrou para a nossa história do blog, debaixo daquele lençol branco sem querer voltar para a gaiola. Quanto ao voejai, - tudo bem! - suponho que possamos substituí-lo por um valente XÔ! Quanto aos corvos do Van Gogh falei sim, com muita lateralidade , pois foram definitivos naquele céu azul sobre aquele campo de trigo e depois daquilo, se tivesse tido tempo , acho que o pintor teria abstraído.
ExcluirBenditas sejam as nossas lembranças pois são elas que nos dão identidade. Mas se nossa memória registrasse todo o passado e todo o presente, creio que os nossos HDs explodiriam.@#$%&! Nossas memórias são editadas ,tanto as recentes quanto as pretéritas. Lembramos aquilo e como as nossas mentes decidem que devemos lembrar. Porque somos seres muito inteligentes e precisamos do conforto da ausência de contornos rígidos, em favor de um claro escuro , de um rodízio de luz e sombra que se abraçam sem fronteiras, equilibrando-se, neutralizando-se , socorrendo-se, uma suavizando brilhos e a outra aliviando escuridões. Difícil é ter energia e disposição para reduzir esta miríade de pedaços de nós, de possibilidades de vidas, naquilo que é apropriado para cada momento, no movimento certo. É através da riqueza de nossos fragmentos, que somos capazes de construir-nos e
assim, paradoxalmente , somos um todo, só porque somos compostos por fragmentos infinitos. O importante é fragmento que escolhemos. Ele é a mediação entre a solidão e a completude, o subjetivo e o objetivo, o que está presente e o que está ausente, o real e o virtual, a individualidade e a alteridade e assim por diante. Somos aos pedaços. Aos bocadinhos vivemos. ISSO é arte.
Abração
Fazer lembrar é uma coisa. Significar é outra bem diferente, não é, Antonio? Você, como mestre das Letras, sabe.
ResponderExcluirNem tudo o que lembra é. Ou nem tudo é o que parece ser.
Felizmente. Às vezes, até infelizmente, dependendo do caso.
Abraço
Ofelia
Meu querido Mestre. Embora já tivesse o privilégio de trocar figurinhas com você sobre O Corvo, senti que seu texto aqui veio mais encorpado de novidades, artes e poesia. Mergulho de corpo e alma nessas suas " aulas " , elas trazem muito conteúdo para quem se interessa pelo tema. Das ilustrações acho que não conhecia as de Rossetti , li que ele freqüentemente, escrevia sonetos para acompanhar seus quadros, além de criar arte para ilustrar poemas. Gosto do estilo pré-Rafaelita de Rossetti e seus seguidores, Hunt e Millais , aprendi muito com você sobre elas. Mas dentre essas ilustrações do Corvo , fico com as de Doré. Talvez por terem um traço fino, limpo e mais romântico . Destaco um frase : " Acho que faz arte quem sente e pensa além, quem transborda a geometria do cotidiano e a simetria da vida ". Digo : " Quem admira o belo nas coisas mais simples, nos sentimentos mais pueris e nas ações mais coerentes ". Lindo também o poema de Mario Quintana. É um SIM para o sofrimento, o primeiro sofremos mais, no segundo tiramos conclusões e lições de vida e assim vamos amadurecendo , adquirindo sabedoria, até o momento final, que espero ser carregada por um Anjo de Deus. Então...a sua foto, é do Portão do corvo no Palácio em Buda, colina do castelo. E esse corvo não é agourento, ele é símbolo do rei da Hungria- Matias Corvino . Existe uma lenda sobre esse anel, vou enviá-la por email. Abraços. Dulce
ResponderExcluirHabemus ghost-writer?
ResponderExcluirOlá Ofelia. Percebi só agora que coincidentemente destaquei a mesma frase que você, pelos motivos explicados logo depois, assim como me identifiquei mais com as ilustrações de Doré, como a Flávia. Gosto do Doré, porque estudando a Divina Comédia com o Moacir, trocamos muitas ilustrações dele. Um abraço, Dulce
ExcluirDulce, que bom que você descobriu o endereço e a árvore genealógica do meu "corvino" de estimação. Confesso que desconhecia a nobre estirpe da ave. Note que ao clicar o pássaro estávamos saindo do perímetro do Castelo. O que me confundiu foram as fotos anteriores a ele, do fosso , daquela ponte de madeira sobre ele e das muralhas do castelo vistas de fora. Ou seja , para mim já estávamos fora dos muros.E eu tinha a lembrança de uma casa antiga anexada à foto. Fui ao Google e lá está ela à beira do portão e de um muro de pedra: cor de rosa, dois andares , janelas brancas - com certeza uma casa ocupada administração do Castelo. Valeu pela lenda da princesa que acalmava o filho dando-lhe o seu anel de casamento para brincar e do corvo tirando-o da criança na certa por que queria brincar também. E sim temos trocado aprendizados e com relação à Divina Comédia, além de ilustrar os versos fomos atrás da música inspirada por eles. Foi um trabalho bem feito.
ExcluirDizem os especialistas em História da Arte que, de saída, são forçados nas bancas acadêmicas a dominar três temas: a Bíblia, a mitologia greco-romana e a Divina Comédia.
Chegaremos lá!
Obrigado pelas informações e um abraço
1) Ler Moacir é passear pelas ruas de Budapeste.
ResponderExcluir2) Contemplando a primeira foto com o corvo e o castelo ao fundo penso em ficcionar algo, talvez um conto.
3)E assim, vivenciar literariamente locais por onde não andei nesta vida.
4) Parabéns Pimentel pela insPiração.
5)Piração = loucura (saudável)!
6) Considerando que outro dia vc se disse "doido", eu idem.
Vizinho, pelo caminho do meio e, como dizia o Raul, "controlando a nossa maluquez, misturada à nossa lucidez,vamos ficar com certeza, malucos beleza!"
ExcluirE você está certíssimo quando afirma que não importa quando.
Abração
Interessante os vários símbolo que esta ave, o corvo, representa.
ResponderExcluirDe modo a colaborar, pelo menos, com mais este artigo interessante, informativo, literário e artístico, do meu caro Pimentel, caracterizado pelo notável dom de escritor e crítico de arte indiscutível, sério e extremamente culto, fui pesquisar sobre o corvo, esta ave misteriosa.
Na cultura Celta, o corvo é visto como uma ave ligada a Deusa Morrigan, uma notável profetiza .
A característica de um corvo é mais voltada à sua inteligência. Estas aves podem ser treinadas até mesmo para “falar”, habilidade usada como uma espécie de oráculo. O som emitido polo corvo, "cras cras", em latim significa "amanhã"...isso dá um salto para as lendas que distinguem o corvo como um pássaro que pode prever o futuro, revelar presságios e sinais.
Sua Sabedoria também esta relacionada a Bran um herói galês, cujo nome significa corvo. Bran tinha em sua cabeça um vaso de sabedoria. Diz a lenda que foi removida e enterrada no sagrado Montebranco em Londres, razão pela qual muitos corvos habitam a torre, mantendo assim a memória de Bran.
Carl Jung declara que o corvo é o lado obscuro da psique. Com essa parte podemos nos comunicar com partes de nós mesmos, oferecendo-nos equilíbrio e libertação, e aumentando nosso poder de sabedoria infinitamente!
Em outras palavras:
através dessa comunicação, consistente de profundezas interiores, e a utilização positiva/ativa de impulsos internos e que segredos esotéricos fiquem expostos à luz de nossa própria consciência, consta em nosso cerne que o corvo pode falar conosco!
O que o corvo sussurra para cada um de nós, eim?!
(Continuo)
O corvo para algumas civilizaçõpes simboliza a morte, a solidão, o azar, o mau presságio. Por outro lado, pode simbolizar a astúcia, a cura, a sabedoria, a fertilidade, a esperança. Essa ave está associada ao profano, à magia, à bruxaria e à metamorfose.
ResponderExcluirÉ recente a associação do corvo com o mau agouro, a morte, o azar. Entretanto, muitas culturas acreditam que essa ave mística simboliza aspectos positivos, como por exemplo:
para os ameríndios simboliza a criatividade e o sol;
para os chineses e japoneses o corvo simboliza a gratidão, o amor familiar, o mensageiro divino que representa o bom presságio.
Na China, o emblema do Imperador é um corvo de três patas, tripé considerado solar, representa o nascimento, o zênite e o crepúsculo ou ainda, sol nascente (aurora), sol do meio dia (zênite), sol poente (ocaso) e juntos simbolizam a vida e as atividades do imperador.
Provavelmente, a Europa e o cristianismo foram os propulsores da acepção negativa atribuída ao corvo e, atualmente, espalhada pelo mundo fazendo parte de muitas crenças, religiões, mitos, lendas, etc. Desde então, para os cristãos esses animais necrófagos (que se alimentam de carne putrificada) são considerados os mensageiros da morte e são também associados ao Satanás, sendo que vários demônios são retratados na figura do corvo, como Caim, Amon, Stolas, Malphas, Raum.
Na Índia, o corvo simboliza os mensageiros da morte;
No Laos, a água utilizado pelos corvos não serve para realizar rituais, visto que representa a sujidade espiritual.
Na Mitologia Grega, o corvo era consagrado a Apolo, Deus da luz do Sol, e para eles essas aves desempenhavam o papel de mensageiro dos deuses visto que possuíam funções proféticas.
Por esse motivo, esse animal simbolizava a luz uma vez que para os gregos, o Corvo era dotado de poder a fim de conjurar a má sorte.
No manuscrito Maia, o "Popol Vuh", o corvo aparece como o mensageiro do Deus da trovoada e do relâmpago.
Ainda de acordo com a mitologia grega, o corvo era uma ave branca. Apolo deu a um corvo a missão de ser a guardiã de sua amante, mas o corvo se descuidou e a amante o traiu, como castigo Apolo tornou o corvo uma ave negra.
Já na Mitologia Nórdica, encontramos o corvo como o companheiro de Odin (Wotan), deus da sabedoria, da poesia, da magia, da guerra e da morte. A partir disso, na Mitologia Escandinava, dois corvos aparecem empoleirados no Trono de Odin: "Hugin" que simboliza o espírito, enquanto "Munnin" representa a memória; e juntos simbolizam o princípio da criação.
Nos alfarrábios brasileiros, a ave que se comparou ao corvo foi a Graúna, de Henfil, no saudoso e imortal Pasquim!
Graúna era a voz ajuizada do grupo, e seu desenho era um ponto de exclamação, do qual saíam duas perninhas e os grandes olhos.
Nordestina típica e estereotipada, Graúna vivia com fome, além de sempre criticar o "Sul Maravilha" com questionamentos políticos que seus companheiros nunca sabiam responder. Se não era alienada, Graúna entretanto estava tão envolvida em seus próprios problemas (como chocar os ovos), que não tinha como levar a termo suas revoltas.
Grato, Pimentel pela oportunidade de eu participar deste teu artigo notável, pois teus escritos são verdadeiramente únicos, irrepreensíveis.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
.
Chicão, louvo e agradeço a extensa pesquisa feita pelo amigo que tanto enriqueceu o post. Diante dela o que fica claro é que os corvos tem significados imaginados, simbolizam esforços através dos tempos para explicar o nosso entorno, são reflexos da força e da extensão das mentes humanas.E como dizia Milton no seu Paraíso Perdido:
Excluir"A mente é seu próprio lugar, e em si mesma
Pode fazer um céu do inferno e um inferno do céu."
Se não devemos criar corvos negros, melhor pintar os nossos de branco!
Abração
Olá Moacir, posso imitar a Dulce e começar assim , Querido Meste?
ResponderExcluirPorque esse texto tão complexo deu- me vontades de saber mais, de ler O Corvo por inteiro, e a descriçao do processo criativo. É muito interessante saber que um poema trabalhado há tanto tempo, provocou polêmicas, desenhos, suscetibilidades ao longo do percurso e ainda gera textos como o seu.
Doré é precioso mas sou mais Manet.
Obrigada de novo.
Querida Ana. Esse " menino pueril " ainda não se mostrou por inteiro. Trato-o por diversos codinomes, dependendo do assunto. Ele é " terrível " !!! Rsrsrs
ExcluirDonana,
ExcluirParodiando o Poetinha ...
"De tudo, às pretinhas serei atento antes, e sempre e tanto que mesmo em face do maior encanto delas se encante mais o meu pensamento".
Portanto ao teclar que sentiu vontade de ler o Corvo a senhora justificou o meu teclado e fez cantar o meu velho coração.
Obrigado.