soldados Gurkhas (imagem penfreak) |
Antonio
Rocha
A
Guerra das Malvinas aconteceu no primeiro semestre de 1982, quando a Junta
Militar Argentina mandou invadir as Ilhas Falklands, que pertencem ao Reino
Unido até hoje, dois arquipélagos situados no Atlântico Sul.
Nessa
época eu, já formado em Letras, fazia a Complementação Pedagógica na Faculdade
de Educação da UFRJ, para ter o diploma de “Licenciatura Plena”.
Tradicional
bairro da Zona Sul carioca, caminho para o Pão de Açúcar, poucos edifícios,
muitas casas ainda, assim é a Urca.
Urca também
é um pequeno barco com duas ou três velas, do século XVII europeu. E o
colaborador deste blog, Domingos Ferreira, pode nos dar uma aula sobre a
embarcação e seu histórico.
Mas um
amigo que mora até hoje na Urca me disse uma vez que Urca era uma sigla =
Urbanização Carioca, uma empresa que ajudou a demolir o antigo Morro do
Castelo, no Centro da Cidade do Rio de Janeiro e levava o entulho para aterrar
o mar e foi formando o citado bairro.
Ele
disse que, muitas vezes, nas garagens de alguns prédios da Urca, ou quando tem
ressaca na praia ou em determinados períodos do ano, o subsolo destas casas e
desses prédios ficam cheios de água do mar, minam água e assim, inspirado no
Apocalipse, ele dizia que belo dia em um futuro distante, o Oceano iria pegar
de volta o trecho de água que foi aterrado.
Um
tsunami aconteceria na Zona Sul do Rio e era um sinal do fim do mundo.
Voltemos
à Faculdade de Educação. Os ânimos andavam exaltados e preocupados com a
proximidade da citada guerra. Lembro de uma colega, muito nervosa que dizia:
- Eu sempre pensei que esse negócio de guerra era
lá, bem distante, em outros países, mas agora, está aqui, muito perto da gente.
E o
imaginário popular tratava de espalhar boatos tipo: aviões da Grã Bretanha
iriam fazer escalas no Rio para abastecer e seguirem viagem até as Ilhas
Falklands, que os argentinos chamavam de Malvinas.
Dizia-se
também que o cubano Fidel Castro já havia oferecido suas tropas para lutarem ao
lado dos militares argentinos. Muitos confabulavam que avizinhava-se a Terceira
Guerra Mundial etc.
Certa
manhã, estudávamos placidamente na Faculdade, quando passou um jato da FAB e
quebrou a barreira do som. Bem, isto só fomos saber depois, pois naquele tempo
não existiam celulares e a notícia veio pelo rádio e TV.
A tal
quebra da barreira de som fez uma barulhada infernal, parecia que o Campus da
Praia Vermelha, como é conhecido o local estava sendo bombardeado. Algumas
vidraças quebraram e muitas tremeram, vibraram e provocaram pânico entre os
alunos, funcionários e professores.
Alguns
deixaram as salas e saíram correndo pelos corredores. Um gaiato exclamou:
- É o fim do mundo !
E a
cena me fez lembrar aqueles filmes antigos de Hollywood tipo “Os Últimos Dias
de Pompéia”, com o povo desesperado correndo pelas ruas, sem saber para onde
ir.
Como,
graças às minhas meditações sou um sujeito calmo, continuei calmo,
Zenisticamente calmo, até passar o desespero daquela manhã, permaneci sentado,
aguardando Budisticamente o fim do mundo que, graças ao Criador, não veio.
O
pessoal já sabia que eu era budista e alguns disseram:
- Você tem sangue de barata, nem se mexeu !
- Se vamos todos morrer –
ponderei – prefiro morrer meditando.
Mas o
episódio me fez lembrar que a minha cunhada é argentina e estava muito
preocupada com os primos jovens em idade do alistamento militar, pois até os
reservistas estavam sendo convocados:
- E eles estão mandando para o front os recrutas !
E Deus me livre e guarde, os ingleses mandaram para a região um Batalhão de
Gurkas !
Eu nem
sabia da existência desse povo, então ela me contou:
- É uma etnia do Nepal que são fiéis à Rainha da
Inglaterra, são guerreiros que nasceram e habitam nas encostas do Himalaia,
usam um sabre retorcido e se dizem descendentes de um deus local. A
característica deles é que cortam a cabeça dos inimigos. Ah meu Deus do céu, eu
não quero nem pensar nos meus primos lá ...
Então
refleti sobre a vida... o Nepal, terra onde nasceu o pacífico Sidarta Gautama,
o Buda, é o mesmo Nepal que fornece Batalhões de Gurkas para os exércitos da
Inglaterra e da Índia.
Muitos
espiritualistas falam do paraíso pré-nirvânico das Montanhas do Himalaia, onde
vez por outra, alguns monges budistas, como o Dalai Lama se tornam famosos, mas
é lá também que nascem os guerreiros da etnia Gurka.
Claro
que deve ter gente pacífica entre esse povo, devem ter muitos religiosos
budistas tibetanos que moram nas encostas do Teto do Mundo.
E,
enquanto o mundo não acaba, vamos orar pela Paz Mundial, que é um princípio do
nepalês Buda!
Boa tarde, Antônio. Éééé... Bem dizia minha sábia avó : " Ficam mexendo com a natureza, um dia ela cobra...". Abraços
ResponderExcluir1) Oi Dulce, concordo com sua avó ...
Excluir2)Tudo o que tiraram da Natureza, belo dia, ela volta para cobrar.
3)É a Lei de causa e efeito.
Olá Antônio,
ResponderExcluira vida é assim também, cheia de gente da parte de Buda e outras da parte dos Gurcas, e vamos esbarrando em uns descobrindo que são outros, e outros que são uns. Eu mesma levo os dois dentro de mim que vão brigando e negociando, e certamente, aproveitando seus momentos!
Ainda bem que temos outros que meditam!
Até mais.
1) Oi Ana, vc está certíssima, as duas naturezas: a pacífica e a guerreira estão dentro de nós.
Excluir2) Via meditação podemos ir desenvolvendo a pacifista e superando a outra.
3)Um longo caminho ...
Antonio, posso avaliar a preocupação da sua cunhada argentina, muitos recrutas foram enviados ao front, e os gurkhas, desde o tempo do império até hoje, sempre foram considerados os combatentes mais perigosos dos exércitos britânicos.
ResponderExcluirAquela guerra, de que pouco se fala hoje, custou as vidas de quase seiscentos e cinquenta soldados e marinheiros argentinos, e mais de duzentos e cinquenta ingleses. Foi uma patriotada inútil, irresponsável e criminosa dos generais argentinos.
1) Concordo plenamente Mano.
Excluir2) Li recentemente que a Tropa de Elite da Polícia em Singapura é composta por guerreiros gurkhas.
3)E viva a Paz !
Antonio, está no UOL de ontem: Árvores conversam entre si, detectam perigos ao redor e ajudam as plantas mais velhas a se alimentar, garante estudo.
ResponderExcluirNão copiei porque não caberia aqui.
Abraço
Ofelia
1) Maravilha de notícia Ofélia !
ResponderExcluir2)Obrigadíssimo !
3)Cada vez mais eu converso com elas, grato.
Boa tarde, Antônio
ResponderExcluirDesde ontem que dou trapos à bola para encontrar alguma coisa interessante para comentar sobre a Guerra das Malvinas.Branco total! Pois de 72 a 83 eu não estive nas redondezas. Em 82 estive no Nepal e, nem assim , soube dos seus valentes guerreiros nativos nas tropas inglesas nas Malvinas. Talvez porque, então, só se falava em quando seria lançado o filme Gandhi. Televisão naquelas paragens era artigo raro e de luxo ,mesmo em p&b e chuviscando e os rádios nos points para expatriados só tocavam Bob Marley. Vi alguns jogos da Copa de 82, soube da morte da Grace Kelly e que o Gabo ganhara o Nobel mas não muito mais.Naqueles tempos viajar pra mim era imersão.Quando voltei para casa em 83 tentei correr atrás para preencher a lacuna na memória - mas ou me ocupava do presente ou lia sobre a década de Pindorama que eu pulara. Para você ter uma ideia eu só soube que Elis Regina fora para o andar de cima em 84.
Agora...acho que não ficaria sentado e meditando aguardando o fim do mundo. Talvez , calmamente, procurasse o melhor ângulo para fotografá-lo...(rsrs)
Abraço
1)Genialíssima sua resposta:fotografar o fim do mundo ... coisa de artista !
ResponderExcluir2)Vc ficou uma década de estudos e caminhadas fora: méritos ! como dizia um amigo budista.