Antonio
Rocha
Outro
dia eu estava em sala de aula. Para mim é um local sagrado. Não estou falando
de religião, mas de crescimentos, descobertas, aprendizados mútuos: eu e os
alunos, eu e os outros colegas professores, eu e os outros funcionários, as
diretoras, enfim um local onde sou feliz. Em outros lugares também sou feliz.
Era o
mês de outubro após o dia 15, quando se comemorou o “Dia do Professor”.
Talvez
aqui, neste blog excelente, alguns já saibam, sou professor de Português/Literatura
do Estado do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, em uma área de periferia. E
sou felicíssimo com esta função. Alguns dizem que sou louco, maluco, desgostoso
da vida e no final aceitam ... coisa de excêntrico, hippie ...
Costumo
falar no plural. “Sou professor de Literaturas: a Brasileira, a Portuguesa, as
Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa e outras que tais, também as
Gramáticas”.
Já
lecionei em faculdade à noite. É outro público, outra realidade parecida. Do
povo que trabalha durante o dia e está tentando melhorar de vida, uma batalha
árdua.
Mas
esta escola de Ensino Fundamental, segunda fase, onde estou há seis anos é algo
marcante por vários motivos, hoje vou contar um deles.
Nessa
manhã, como comecei a primeira linha deste artigo, estava em sala de aula. A
coordenadora de turno veio avisar que um ex-aluno estava visitando a Escola e
queria me ver, ou rever.
Nós
abraçamos e ele parecia estar muito feliz. Era um antigo bagunceiro, já grande,
com cara e jeito de responsabilidade, adulto.
- E aí
rapaz? Como vai? – perguntei iniciando o rápido diálogo, pois precisava voltar
para a sala e o visitante tinha que ir para o seu trabalho.
- Eu
vim aqui agradecer ao sr., à Escola e aos outros professores.
Sorrimos
e ele continuou:
- Eu
estou no quartel, no Exército, sou paraquedista e estou me preparando para ser
sargento.
Confesso
que me segurei para não chorar de alegria. Ali no pátio com muita gente em
volta presenciando.
-
Maravilha, o caminho é esse, crescer na vida, não pare de estudar. Tendo bom
comportamento você vai adiante...
- Eu
era bem bagunceiro...
- Pois
é, lembre do que eu falava... direitos e deveres...
- Eu
lembro sempre, e o senhor começava as aulas com o pensamento do dia...
De
fato, ainda hoje faço isso, e se por acaso, não escrevo o pensamento os alunos
cobram, pois além do pensamento, cito algumas pinceladas históricas explicando
quem é o autor ou autora.
Nos
despedimos e ele se foi. Voltei para a sala de aula. E relatei aos alunos o que
acontecera. No sentido de estimula-los sempre.
Claro
que cada colega professor deve ter muitos momentos semelhantes. E até bem
maiores e melhores, mas refleti na região de periferia onde trabalho.
O que
me emocionou e me segurei para não revelar as lágrimas, é que estamos vivendo,
enquanto país, um tempo de crise, e este jovem, começa a abrir portas, volta
para agradecer, reconhecendo o valor do estudo. Com isso, ganhei o meu dia com
mais alegria ainda.
Antonio, um belo post sobre a melhor experiência que um professor pode ter. Saber que o seu trabalho ajudou alguém a encontrar um pouco do seu caminho na vida realmente não tem preço. E tenho certeza de que não foi apenas esse rapaz, mesmo que nem todos tenham voltado para te contar. Parabéns!
ResponderExcluir1) Salve Wilson, aprendi que todos nós temos um pouco de professor e aluno.
Excluir2)Adorei a foto que ilustra a matéria.
Olá Antônio,
ResponderExcluirSua alma parece bomita e é certamente de professor! A minha alminha é de pobre. Por isso que Paris me assusta. ( nosso moderador bem moderador meu, disse que essa última parte não tem nada a ver! Saiu.)
Até mais.
1) Salve Ana, minha alma agradece.
Excluir2) Digamos que nossas almas são sempre de aprendizes !
3) Saudações pedagógicas.
Caríssimo PROFESSOR Antônio Rocha,
ResponderExcluirMinha reverência à maior autoridade brasileira: O MESTRE!
Minha esposa, a Marli, é tua colega, pois professora do Magistério Gaúcho, atualmente aposentada, claro, e sou testemunha que lecionar tanto no passado quanto no presente é um sacerdócio, um desprendimento da vida pessoal e familiar que elogios não compensam o esforço e a dedicação aos alunos, à educação, ao ensino.
Um forte e fraterno abraço, mestre Antônio Rocha, meu amigo!
Muita saúde e Paz!
1) Ora viva Chicão, amigão do coração !
Excluir2)Então, por favor, transmita à Marli os meus sinceros parabéns !
3)Os melhores votos de boa semana para a dupla de Rolante, RS.
Belo post. Eu acredito nisso, vizinho , na fome de conhecimento que tem o ser humano, no ensinar a apreender, nesse eterno aprendizado que você experimenta todos os dias com todos. E como a sua, essa minha fé - talvez a única! - é inabalável.
ResponderExcluirUma boa semana de trabalho!
Abração
1) É isso aí, Moacir.
ResponderExcluir2) Enquanto estivermos vivos estaremos aprendendo. É bom demais aprender com todos (as).
3)Eu tb acredito que, do outro lado, em outras dimensões,
continuamos aprendendo
4) O Cosmos é uma grande sala de aula e Deus o Docente !