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13/11/2016

Isso Não Tem Preço!

Reinhard Schmidt - O Professor e o Aluno (imagem Schiwago - Wikimedia Commons)

Antonio Rocha

Outro dia eu estava em sala de aula. Para mim é um local sagrado. Não estou falando de religião, mas de crescimentos, descobertas, aprendizados mútuos: eu e os alunos, eu e os outros colegas professores, eu e os outros funcionários, as diretoras, enfim um local onde sou feliz. Em outros lugares também sou feliz.

Era o mês de outubro após o dia 15, quando se comemorou o “Dia do Professor”.

Talvez aqui, neste blog excelente, alguns já saibam, sou professor de Português/Literatura do Estado do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense, em uma área de periferia. E sou felicíssimo com esta função. Alguns dizem que sou louco, maluco, desgostoso da vida e no final aceitam ... coisa de excêntrico, hippie ...

Costumo falar no plural. “Sou professor de Literaturas: a Brasileira, a Portuguesa, as Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa e outras que tais, também as Gramáticas”.

Já lecionei em faculdade à noite. É outro público, outra realidade parecida. Do povo que trabalha durante o dia e está tentando melhorar de vida, uma batalha árdua.

Mas esta escola de Ensino Fundamental, segunda fase, onde estou há seis anos é algo marcante por vários motivos, hoje vou contar um deles.

Nessa manhã, como comecei a primeira linha deste artigo, estava em sala de aula. A coordenadora de turno veio avisar que um ex-aluno estava visitando a Escola e queria me ver, ou rever.

Nós abraçamos e ele parecia estar muito feliz. Era um antigo bagunceiro, já grande, com cara e jeito de responsabilidade, adulto.

- E aí rapaz? Como vai? – perguntei iniciando o rápido diálogo, pois precisava voltar para a sala e o visitante tinha que ir para o seu trabalho.

- Eu vim aqui agradecer ao sr., à Escola e aos outros professores.

Sorrimos e ele continuou:

- Eu estou no quartel, no Exército, sou paraquedista e estou me preparando para ser sargento.

Confesso que me segurei para não chorar de alegria. Ali no pátio com muita gente em volta presenciando.

- Maravilha, o caminho é esse, crescer na vida, não pare de estudar. Tendo bom comportamento você vai adiante...

- Eu era bem bagunceiro...

- Pois é, lembre do que eu falava... direitos e deveres...

- Eu lembro sempre, e o senhor começava as aulas com o pensamento do dia...

De fato, ainda hoje faço isso, e se por acaso, não escrevo o pensamento os alunos cobram, pois além do pensamento, cito algumas pinceladas históricas explicando quem é o autor ou autora.

Nos despedimos e ele se foi. Voltei para a sala de aula. E relatei aos alunos o que acontecera. No sentido de estimula-los sempre.

Claro que cada colega professor deve ter muitos momentos semelhantes. E até bem maiores e melhores, mas refleti na região de periferia onde trabalho.


O que me emocionou e me segurei para não revelar as lágrimas, é que estamos vivendo, enquanto país, um tempo de crise, e este jovem, começa a abrir portas, volta para agradecer, reconhecendo o valor do estudo. Com isso, ganhei o meu dia com mais alegria ainda.

8 comentários:

  1. Wilson Baptista Junior13/11/2016, 09:26

    Antonio, um belo post sobre a melhor experiência que um professor pode ter. Saber que o seu trabalho ajudou alguém a encontrar um pouco do seu caminho na vida realmente não tem preço. E tenho certeza de que não foi apenas esse rapaz, mesmo que nem todos tenham voltado para te contar. Parabéns!

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    1. 1) Salve Wilson, aprendi que todos nós temos um pouco de professor e aluno.

      2)Adorei a foto que ilustra a matéria.

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  2. Olá Antônio,
    Sua alma parece bomita e é certamente de professor! A minha alminha é de pobre. Por isso que Paris me assusta. ( nosso moderador bem moderador meu, disse que essa última parte não tem nada a ver! Saiu.)
    Até mais.

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    1. 1) Salve Ana, minha alma agradece.

      2) Digamos que nossas almas são sempre de aprendizes !

      3) Saudações pedagógicas.

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  3. Francisco Bendl13/11/2016, 17:45

    Caríssimo PROFESSOR Antônio Rocha,

    Minha reverência à maior autoridade brasileira: O MESTRE!

    Minha esposa, a Marli, é tua colega, pois professora do Magistério Gaúcho, atualmente aposentada, claro, e sou testemunha que lecionar tanto no passado quanto no presente é um sacerdócio, um desprendimento da vida pessoal e familiar que elogios não compensam o esforço e a dedicação aos alunos, à educação, ao ensino.

    Um forte e fraterno abraço, mestre Antônio Rocha, meu amigo!
    Muita saúde e Paz!

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    1. 1) Ora viva Chicão, amigão do coração !

      2)Então, por favor, transmita à Marli os meus sinceros parabéns !

      3)Os melhores votos de boa semana para a dupla de Rolante, RS.

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  4. Moacir Pimentel13/11/2016, 21:17

    Belo post. Eu acredito nisso, vizinho , na fome de conhecimento que tem o ser humano, no ensinar a apreender, nesse eterno aprendizado que você experimenta todos os dias com todos. E como a sua, essa minha fé - talvez a única! - é inabalável.
    Uma boa semana de trabalho!
    Abração

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  5. 1) É isso aí, Moacir.

    2) Enquanto estivermos vivos estaremos aprendendo. É bom demais aprender com todos (as).

    3)Eu tb acredito que, do outro lado, em outras dimensões,
    continuamos aprendendo

    4) O Cosmos é uma grande sala de aula e Deus o Docente !

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