Shakespeare and Company Bookshop (Wikimedia) |
Antonio
Rocha
Cada
um tem a sua casa de perdição predileta. Digamos que são vários tipos para
casas de perdições. Confesso que, aos sessenta e quatro anos, uma das minhas
alegrias é visitar e passear nessas casas. E as mais modernas tem cafeterias, degustações
de guloseimas etc.
Minhas
casas de perdição são as livrarias, ali, antigamente eu achava que perdia meu
dinheiro, depois, cheguei à conclusão que é ao contrário. Ali eu perco as
minhas ignorâncias, as minhas burrices.
Foi um
amigo, pequeno livreiro na Zona Sul do Rio de Janeiro, quem me mostrou esse
lado positivo. Eu não estava gastando dinheiro, mas sim, investindo no meu
conhecimento.
A
descoberta foi interessante. Uma tarde cheguei no citado estabelecimento
comercial e brinquei:
-
Estou adentrando em uma casa de perdição.
Surpreso
ele perguntou:
- Como
você fala uma coisa dessas de uma casa espírita?
-
Desculpe, nada contra as casas espíritas, mas é assim que vejo as livrarias.
Elas tem tantas coisas boas que o meu consumismo literário compra livro que só
vou ter tempo de ler, daqui a vinte anos, pois tem uma fila de prioridades nas
leituras.
-
Então mude, livraria é casa do saber, vai abrir a sua mente, os seus olhos, o
seu coração. Você está se dando um ótimo presente, e se o livro é para outra
pessoa, a referida criatura vai ficar muito feliz com o livro, com o presente,
com o brinde.
- Tem
razão, é que eu me lembrei daquele romance clássico da Literatura Portuguesa,
“Amor de Perdição”, do Camilo Castelo Branco (1825-1890) e adaptei para a minha
realidade, amante dos livros. Às vezes fico perdido em meio a tantos livros
ótimos e não tendo dinheiro para comprar todos e nem tendo espaço em casa para
guarda-los. Sendo que, vez por outra, pego muitos livros e faço doações por aí.
- Você
que é budista, então deve exclamar: “livraria – casa de Iluminação”. Iluminar
as idéias, os pensamentos, o cérebro, a mente, os neurônios.
- Não
resta dúvida que você é um bom vendedor, acabou de me convencer e a partir de
hoje vou mudar minhas referências sobre as livrarias.
- Por
falar em
Literatura Portuguesa eu tenho aqui para lhe vender dois
ótimos romances mediúnicos:
- Não
falei!
Sorrindo
ele continuou:
- É a
minha arte, você escreve, eu vendo livros espíritas.
- Mas
diga lá o que você ia me oferecer hoje.
- Ia
não, você é professor de português e conjugou o verbo no passado, estamos no
presente, portanto, eu vou vender. Mesmo que um cliente não compre eu faço como
se ele já estivesse comprando, agora.
-
Gostei do pensamento positivo !
- Pois
é, o primeiro chama-se “Mensagens de Ignez de Castro”, de Chico Xavier e Caio
Ramacciotti, 318 páginas e muitas fotos. Ignez (1320-1355) foi uma aia que teve
um tórrido romance com o rei Pedro I de Portugal.
- E o
outro volume? – perguntei.
-
Chama-se “Ignez e Pedro”, da mesma dupla de autores, tem 320 páginas, editora
GEEM.
Resumo
da ópera: saí da loja com os dois volumes, para as minhas pesquisas sobre
“Literatura Espírita”...
Caro amigo Antônio Rocha,
ResponderExcluirNa cidade onde moro a livraria é pequena, e não tem os livros atuais, do momento.
No entanto, basta pedir que, em dois, três dias, o exemplar é entregue.
Mas falta o visual dos livros nas prateleiras, sendo expostos, aquela quantidade de edições que não sabemos qual adquirir.
Neste particular sou como tu, Antônio, de me deliciar numa livraria e comprar alguns exemplares que eu não precisaria, mas o apelo é muito forte para eu sair de mãos abanando.
Por outro lado, em Porto Alegre, tem as opções dos sebos, e alguns muito bons, onde bons livros podem ser encontrados a preços mais em conta.
Eis um empreendimento que se eu tivesse condições realizaria, de abrir uma livraria moderna, atraente, trazendo escritores para comentar sobre suas obras e autografá-las, palestras, leituras de edições que fazem sucesso, um encontro cultural e ao mesmo tempo comercial.
Valeu, Antônio, este teu artigo, que acendeu a minha vontade de visitar uma livraria na capital na semana que vem, quando eu for fazer novos exames dos meus "ronhão".
Um abraço, forte e fraternal.
Saúde e Paz!
1)Abração Bendl, e aproveite para saborear um cafezinho ou chimarrão.
ResponderExcluir2) A meu ver é algo maravilhoso: saboreando um café com leite e folheando páginas de livros, lendo as orelhas, capas, etc.
3)Saúde sempre !
Oi Antonio, esse teto descascado parece até minha cabeça. A tortuosidade dos livros também me lembra de mim. Ô bagunça no meu dentro!
ResponderExcluirMelhor fiz eu, Antonio, durante meses a fio li de graça livros novinhos em folha. Sentadinha à mesa, que partilhava com outras três ou quatro pessoas. E nunca me incomodaram.
Pra não ler totalmente de graça, eu comprava alguma coisa - um bloquinho ou similar -, mas nem sempre.
Era uma delícia. Faz tempo que não vou lá. Faz tempo também que não faço tantas outras coisas... Ir ao cinema, por exemplo. Cinema é outra casa de perdição. Das melhores.
Abraço
Ofelia
1) Oi Ofélia, concordo plenamente, cinema é algo ótimo, se bem que hoje vou pouco, em outras épocas eu ia demais, às vezes, três vezes por semana.
Excluir2)Não me interessava se o filme era bom ou ruim, eu ia para "estudar": as reações dos artistas e personagens, a trilha sonora e ver se eu conseguia adivinhar o final.
3)Quanto aos livros, eu tinha apego, queria tê-los em casa, um monte, vários...
4)Mas nem sempre tinha dinheiro e espaço.
5)Obrigado pela participação-comentário !
Antonio, suas casas de perdição foram também as minhas por quase a vida toda, até que o espaço cá em casa acabou mesmo depois de sucessivas limpezas nas estantes...
ResponderExcluirO problema nas limpezas é que os livros mais amigos a gente reluta em dar, sempre com a esperança de ainda vir a relê-los. E nestes anos todos nossas estantes foram se enchendo de muitos bons velhos amigos... Então agora acabo por comprar muito pouco. Já começo a me convencer de que não vou mais ter tempo de reler todos, mas é tão bom saber que posso ir lá e abrir um deles quando quero reavivar a lembrança de um pedaço qualquer...
No meu tempo de adolescente meus pais brincavam comigo que minha carreira ia ser ter uma livraria, mas eu sabia que se abrisse uma ia quebrar, porque ia gastar meu tempo lendo e conversando com outros leitores em vez de vender.
O seu amigo livreiro é mais competente do que eu nesse ponto, sabe fazer as duas coisas.
Um abraço do
Mano
1)Wilson, vc tem razão. Eu tb pensei em abrir uma livraria, só que eu pensava: eu gosto tanto de ler, que vou ficar sentado o dia todo e não vou atender os fregueses.
Excluir2)Abração de boa semana !
Olá Antônio,
ResponderExcluirSuper atrasada. Só para dizer que seus escritos me deixaram com vontade de escrever.
Será bom?
Até mais.
1)Não vi como atraso, mas uma bela notícia !
ResponderExcluir2)Aguardo os textos !