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17/11/2016

Fazendo Gravuras no Rossio

 
Heloisa Pires Ferreira - "Gestação"(fotografia Henri Stahl)


Antonio Rocha

A gravura acima é de Heloisa Pires Ferreira, o título diz “Gestação” e é fácil identificar uma pássara grávida, em uma vista d’olhos, como dizem os queridos portugueses.

Rossio é ali, bem no centro da capital lisboeta. Morávamos em um bairro chamado Anjos e então geramos nossa “anjinha” que hoje mora em Madrid e nos presenteou, juntamente com o nosso genro, outra “anjinha” que em janeiro próximo completa dois anos.

Ficava no Rossio, em 1980, a Cooperativa de Gravadores Portugueses, e Heloisa, “bolseira = bolsista” da Fundação Calouste Gulbenkian.

Se aprofundarmos a vista d´olhos veremos que a grande barriga da pássara é formada por outro pássaro, eu, e no centro, um pólo gerador de energia, um disco como se fosse uma usina, uma esfera indicando um chacra. Os centros de força esotérica do corpo humano e também no corpo espiritual.

Em dia abençoado, fomos visitar um templo budista tibetano em Lisboa. Um dos rituais, a pessoa se joga ao chão para reverenciar o Buda (o Mestre), o Darma (a doutrina) e a Sanga (os discípulos leigos e monásticos). Heloisa não teve dúvidas e com o barrigão se jogou no chão e fez as três reverências. Eu fiquei preocupadíssimo e ela feliz da vida.

É uma litogravura, feita em pedra. Destaca-se também o olho da pássara, contemplando/sentindo o marido e a filha no ventre. Uma ode ao nascer! À continuação da vida que é infinita, não para, nunca termina e por isso mesmo, bonita e misteriosa.

A foto é do saudoso amigo, já falecido, Henri Stahl, um romeno, quando jovem, na época da segunda guerra mundial, conseguiu fugir de lá, entrou em um navio e veio parar em Recife. Adotou Pernambuco como sua terra natal !

O irmão de Henri, ficou em Paris e por lá sobreviveu, depois tornando-se funcionário da ONU.

Fotógrafo e cinegrafista free lancer, certa feita Henri embrenhou-se na Floresta Amazônica, e em plena hiléia descobriu umas formações rochosas com algumas inscrições estranhas que nenhum cientista conhecia.

Mostrou para a UFPA – Universidade Federal do Pará e todos diziam não saber do que se tratava.

Através do irmão, em Paris, um canal de TV francês comprou o seu documentário.

Era vizinho nosso, aqui em Santa Teresa, Rio Janeiro.

Era a época do livro “Eram os Deuses Astronautas”, grande sucesso editorial em todo o mundo. Será que ETs andaram pela Selva Amazônica e deixaram lá suas marcas? É bem possível. O que ninguém sabia explicar era como, no solo arenoso e aquático da Bacia Amazônica surgem rochas e inscrições estranhíssimas.

Voltemos à Litogravura: Heloisa tem também muitas gravuras em metal; poucas na madeira, xilogravura. Pinturas em tecido e papel e desde sempre tem se dedicado à arte de bordar, bordando painéis, panos, nos lembra as milenares tapeceiras do Oriente

A cor marrom lembra o barro, a terra, a vida. Água barrenta, saborosa dos filtros de antigamente.

Depois fomos morar em Parede, no caminho de Estoril. Quando identificavam que nós éramos brasileiros eles nos paravam nas ruas e perguntavam:

- Ó pá ! O que é “grilado” ?

Era a época da telenovela global “Dancing Days”, fazendo sucesso na RTP – Rádio e Televisão Portuguesa, e os personagens utilizavam muito a gíria carioca...



19 comentários:

  1. Oi Antonio,

    o 'conversas' está cheio de penosas aves. De corvos rapineiros passamos agora para (com a devida vênia da Heloísa) uma mulher-galinha ou galinha-mulher, gestando. Olha o cabelo dela!, olha o cabelo dela!

    Pra cantar com a musiquinha de carnaval 'olha a cabeleira do Zezé'. Olha a cabeleira da mulher... galinha!

    Nunca que foi um pássaro, nem um avião nem o Super homem, rsrs...
    Era o que eu diria se fosse uma mancha no Teste de Rorschach.
    Fala com a Heloísa para não levar a mal. Achei engraçado. E muito bem feito. Ela está de parabéns, Antonio.

    O bebê será pior que o da Rosemary. Não a Noronha, do Lula. A do Polanski. Mas até que a cara dela é bonitinha. E zoiúda, a moça.
    Abraço, Antonio.
    Desculpa a brincadeira, acordei com a corda quase toda.
    Ofelia

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    1. 1) Oi Ofélia. A beleza da Arte é que ela tem múltiplas interpretações. Quem fala isso não sou eu, mas os teóricos do assunto.

      2) Tudo de bom !

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    2. Por isso as pessoas passam tanto tempo diante de um quadro, Antonio, por causa das múltiplas interpretações.
      Tem gente que faz isso pra ver 'se gosta' do trabalho. Meu olho costuma ser rápido na avaliação. Olho e já sei se gostei ou não.
      É que olho de especialista analisa detalhes que não uso. Olho com olho da alma. E hoje olhei com o olho da palhacinha.
      Tô velha pra isso, né?
      Tô nada. Alma não tem idade.
      Abração
      Ofelia

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    3. 1) Concordo Ofélia, alma não tem idade.

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  2. Bela gravura, Antonio, parabéns à Heloísa, e texto muito interessante. E depois, alguém chegou a saber mais sobre as inscrições nas imagens do seu amigo Stahl?

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    1. 1)Obrigado Wilson pelo espaço.

      2)Uma vez o Henri mostrou as fotos e as filmagens para um grupo de amigos, eu junto, assistimos maravilhados e fantasiando ETs na Amazônia.

      3) Nesse período, um daqueles jornais alternativos que existiam antigamente publicou algo. Uma vez vi referência no Google, depois não vi mais.

      4) Qdo encontrar novamente eu aviso.

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  3. Heloísa, eu não conheço você. Mas juro que, brincadeira à parte, eu só consegui ver uma galinha zoiúda e de longos cabelos no seu trabalho. O que não o desmerece em nada, vamos combinar.
    Abraço pra você, não fique brava comigo.
    Ofelia

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  4. Você ficou aborrecido, não é, Wilson? Juro que quando bati o olho no trabalho da Heloísa, foi tudo o que me ocorreu.
    Mil desculpas a todos. Achei engraçado. E não tinha graça nenhuma, né?
    Abraço
    Ofelia

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    1. Não, Ofélia, não fiquei aborrecido com você, entendi que era uma brincadeira. O meu comentário não foi por causa do seu, foi porque eu realmente gostei muito da gravura. Você chegou antes, por isso o meu saiu depois do seu :)

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  5. Olá Antônio,
    Bela gravura , bela escolha de cor. E fica mais interessante com a sua explicação, eu não tinha vista o segundo pássaro, voce. Adoro lito, é a que mais parece com desenhos, a textura do lápis ou do carvão. Pena ser tão difícil arranjar uma pedra para trabalhar. Na escola fizemos também com fotolito. É isso mesmo? Que a Heloisa me corrija se estiver errada.
    Parabéns aos dois. E fico esperando mais pássaros.
    Até mais.

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    1. 1) Oi Ana, obrigado.

      2)Sim, pode-se fazer com fotolito.

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  6. Meu sobrinho Ricardo, o mais novo entre os homens, era um especialista em analisar quadros desde garotinho. Entre gravuras de Di Cavalcanti (não sei se é com e ou i ou se tem dois t), na casa dos meus pais, ele olhou pras três, eram três, e começou: "Esta aqui é uma galinha de pena alta". "Esta aqui está chupando o ar da outra".
    Ele também dizia, quando a gente batia à porta do banheiro: "Aqui tem pessoa!"
    Bons tempos, hem?
    Hoje é arquiteto. E dos bons. Tinha olho.

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  7. Moacir Pimentel17/11/2016, 20:21

    Vizinho, para mim os pássaros da Heloísa não são novidade faz tempo, pois como você tardava a nos apresentar o trabalho dela, eu fui conhecer lá no Google. E gostei muito do que vi. Li "Gestação" Na primeira vista d' olhos a cor, que não é marrom nem vermelho mas do tom da vida, do barro com o qual , em momento perdido na noite dos tempos -com uma mãozinha dos elementos - as nossas sinapses começaram a dominar a matéria. Em seguida , vi o ventre grávido e pensei que você fosse a asa dessa criatura alada, abraçando e protegendo um cosmos, um ovo primordial no qual a vida se multiplicava. Aí me lembrei de um poeta : "Se quer mesmo que lhe diga/ É difícil defender/Só com palavras, a vida".
    E é por isso que as gravuras e as telas e as esculturas e a música, e as instalações - algumas doidas de pedra ! - são feitas desde as cavernas. Aí continuei lendo e passei pelo Rossio, tomei um café no Nicola, pelos Anjos, por Paredes, pelo Estoril - ah! o Bacalhau Espiritual da Cozinha Velha! E olhei de relance os jardins do Museu Gulbenkian- Lalique vai ter que esperar por minha mulher mais algumas semanas! - e descobri você gravidíssimo lá no que imaginei que fosse a asa da Heloísa. E de repente - Fiat Lux! - vi um Ninho! E continuo vendo e é neles, nos ninhos que fazemos, nas artes que aprontamos , nos nossos benditos atos criativos que a vida se perpetua. Eram os Deuses Astronautas? , aí já é sacanagem! Desde os treze anos o autor me convenceu que é uma idiotia sem tamanho supor que, no universo , estejamos sozinhos e viva as inscrições de qualquer tipo! Hello, strangers! Quando cheguei lá em baixo e li sobre filtro de barro, fiquei morrendo de sede, mas daquela água barrenta das cacimbas naquelas caneca de ágata com as beiradas lascadas. Quando li RTP- @#$%&! - viramos cumpadres, pá! se bem que assistimos a SIC.
    Um grande post esse seu!
    Abração

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    1. 1) Oi Moacir, obrigadíssimo. Grande comentário !

      2) Heloisa pede autorização a vc: ela pode usar este seu texto no blog dela?

      3) Será incluído na listagem dos críticos de arte que apreciam o trabalho dela.

      4)Mano, ela tb pergunta se pode retirar o referido texto e citar o "Conversas do Mano" como fonte, junto aos demais veículos de comunicação?

      5) Gratidão ao vizinho cumpadre e ao Mano !

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    2. Antonio, da minha parte claro que ela pode extrair texto e nos citar como fonte, é um prazer e fico muito honrado em poder colaborar.
      Um abraço do
      Mano

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    3. Moacir Pimentel18/11/2016, 07:09

      Antônio e Heloísa, é claro que vocês podem usar o meu comentário. Seria uma honra. Abração!

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  8. 1) Salve todos (as).

    2) Heloisa agradece e ficou muito feliz !

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  9. Francisco Bendl18/11/2016, 10:59

    Meu amigo Rocha,

    Tenho um carinho especial por esta blog extraordinário pela sua diversidade cultural!

    Literatura, artes, cinema ... este espaço é agradável, um oásis no meio deste turbilhão de graves problemas que afligem o povo e País!

    Dito isso, aprendo muito com os comentários e artigos sobre gravuras, pinturas, esculturas, que são postados, e depois com os textos irrepreensíveis do Pimentel, coadjuvados com registros muito bem colocados dos comentaristas.

    Este é mais um caso, onde uma besta quadrada do meu tamanho olharia a gravura, a classificaria como "mais ou menos", e sequer escreveria uma linha a respeito!

    No entanto, dotado eu de poucas luzes, aprendo, repito, que as análises sobre este "desenho" não podem ser de acordo com as minhas limitações, pois eu estaria desvalorizando a obra, porém mediante os comentários estabelecidos, percebi haver mais do que meus olhos viram, que se tratava de uma obra de arte, que reverencio e declaro ser agora muito bonita e sofisticada!

    Meu amigo Rocha, fui claro e sincero.

    Este espaço cultural me ensina aquilo que jamais imaginei um dia me mostrar interessado, até pelo fato que não sei desenhar uma árvore, quanto mais um pássaro ou pessoa ou paisagem ou veículo ... sou absolutamente inábil neste aspecto.

    Um abraço forte, meu caro.
    Saúde e paz!

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  10. 1)Amigão Chico, discordo dessa história de "besta quadrada", até porque, até hoje, não vi uma, deve ser coisa de folclore.

    2)Por outro lado, esse negócio de "poucas luzes" deve ser problema da empresa de eletricidade.

    3)A Arte tem múltiplas faces, assim, nem sempre é preciso falar ou escrever, pode-se apenas vivenciar (estar presente com ela): hoje pode ter visto algo, pode ter visto nada, amanhã pode-se ver uma coisa bem diferente, daqui a uma semana outra descoberta e assim até o infinito.

    4) Abraço grande !

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