Carpas - pintura tradicional chinesa (imagem imgur.com) |
Antonio
Rocha
Pelo
menos uma vez por ano vou a Brasília, visitar irmãos e sobrinhas. Não sei
explicar, gosto demais de Brasília, do Plano Piloto, Asa Norte, Asa Sul, dos
arrabaldes, do DF, do entorno. Deve ser meu lado candango.
Adolescente,
todos já sabem, morei no Gama e um dia, um professor de datilografia, nascido
inglês, ele e a mulher, já idosos, me disseram:
- Andamos pelo mundo todo, vamos morrer aqui. Olha,
não há um céu igual a esse. É o céu mais bonito que já vimos, de dia e de
noite.
E
assim, em minha visita anual à capital federal, faço questão de visitar a
Igreja PL – Perfeita Liberdade que fica na W–5, lá no final da Asa Sul.
É uma
igreja grande, o estacionamento cabe uns trinta veículos, sem contar o campo de
futebol para os jovens. A Igreja é grande e acolhedora.
A
frente é toda de vidro, o pé direito é alto, tem um jardim na frente e a
característica desse jardim é um laguinho com carpas que passa por baixo da
parede de vidro e continua no auditório principal. Isto significa que no térreo
tem dois auditórios, um mais para o fundo, menorzinho. Carpas de todas as cores
e tamanhos.
A
cozinha onde se preparam os quitutes, festas e comemorações é algo encantador,
minha irmã mais velha, quando foi a primeira vez lá ficou maravilhada, uma mesa
comprida na copa, sem contar a parte administrativa.
Mas o
que eu comecei a observar, com as várias visitas é que o laguinho de carpas
muito belas, as delicadas plantinhas aquáticas, as pedras decoradas na borda e
até a água dão ao local um toque transcendente.
Então
da última vez sentei bem perto do laguinho, que tem um ponta que vai até
próximo ao altar, indicando a localização do símbolo sagrado Omitamá (um sol
com vinte e um raios) cada raio tem um sentido, uma mensagem, uma reflexão, um
preceito.
E,
muito contente, eu vi: à medida que se aproxima o horário da Cerimônia, as
carpas começam a se concentrar na ponta que fica na direção do altar. Chegam
tranquilamente, e ficam paradas, uma atrás da outra, como se estivessem estacionadas,
ou sentadas em cadeiras no auditório, uma atrás da outra.
A
primeira parte da cerimônia que dura uns quinze a vinte minutos elas, as
carpas, assistem, ouvem, participam, enquanto são entoadas as músicas
litúrgicas e as preces. Na segunda parte quando começam os depoimentos e depois
a palestra, elas voltam a passear pela água.
Lembrei
de Santo Antonio de Lisboa e de Pádua que também pregava aos peixes e eles
prestavam a máxima atenção.
O
interessante é que na Igreja PL de Brasília tem três cerimônias diárias (manhã,
tarde e noite) e as carpas, durante três vezes por dia, seguem o ritual que
descrevi até aqui.
Li
depois que as carpas no Oriente, na Ásia tem um simbolismo profundo de Fé, de
Saúde, de coisas boas. É um simbolismo antiqüíssimo.
Pensei
então, será que é daí que vem o peixe como símbolo do Cristianismo, na
antiguidade?
As
carpas sentem as boas vibrações do local, os cânticos e hinos abençoados.
Minha
irmã mais velha estava do meu lado e mostrei a ela, da última vez:
- Olha os peixes participando da Cerimônia:
caladinhos, em silêncio, quietinhos, que bonito !
- Parece até que eles entendem –
disse minha irmã e eu completei.
- É claro que eles entendem e estão aprendendo da
mesma forma que nós.
Oi Antonio,
ResponderExcluireu tive um aquário grande em casa. Dava trabalho limpar, trocar a água, que não podia sair direto da torneira para o vidro. Acho que os peixes sofriam, sei lá.
Valia a pena o esforço, que não era meu. Iluminado, o aquário trazia a luz e a paz para dentro de casa. Eram acarás e goopies. Acará-bandeira é um dos que eu me lembro bem.
De vez em quando morria um. E meu ex jogava no vaso sanitário.
Assim, quando mais tarde o peixe dourado do meu filho morreu porque o aquário de sobrinho do Mickey, redondinho, estalou e a água vazou, meu filho, alvoroçado de tristeza, mal cheguei foi desfiando um rosário de queixas, que tudo lembrava o peixe,'negócio de piscina' na TV, uma graça.
_ Sabe, mãe? Aí eu passei e vi tudo inundado. É inundado ou imundado?
_ Inundado.
Aí, mãe, tava tudo inundado. Olhei desesperado pro aquário, mãe. Enfiei a mão lá dentro. Nem um pingo d'água. Já pensou o desespero do peixe, mãe? Gritei a vovó, desesperado. O vovô veio e me ajudou.
_Como é que a gente vai fazer com ele? - perguntou.
_Não dá nem pra fazer funeral, não é? - falei, lembrando uma história de Millôr Fernandes sobre a morte da tartaruga. História que ele conhece bem.
_Eu pensei nisso, mãe. Em enterrar. Mas acho melhor fazer como o papai fazia. Jogar no vaso. Pelo menos, coitado, ele foi enterrado na água.
Criança é uma graça. E diz cada uma... já dizia o pediatra (?) Pedro Bloch.
Peixes são mais que decorativos.
E eu seria incapaz de pescar.
O anzol é demais pro meu gosto.
Abraço
Ofelia
Linda, Ofélia, a história do seu filho com o peixinho. Combinou com a belezura do post do Antônio!
ExcluirAbraço.
1) Obrigado Ofélia, bonito o seu texto.
ResponderExcluir2) Eu lembro desse livro do Pedro Bloch "Criança diz cada uma...".
3)Alguns aquários tem barulhinhos, mini-moinhos, rodas etc. Eu acho bonito e relaxante, calmante...
4)Um dos meus professores, monge japonês Zen, dizia que nos templos do Japão eles fazem uma queda d´água, pois o barulhinho é relaxante, calmante. Então em vejo a arte de cuidar de aquários como terapêutica.
3)
Que belezura, Antônio!
ResponderExcluirEu devia aprender alguma coisa com essas carpas.
Até mais.
1) Obrigadíssimo Ana. Que bom que vc gostou. Penso que, todos nós, aprendemos um pouco com os demais seres vivos ...
Excluir2) Eu tb fiquei muito contente com a publicação desta minha declaração de Amizade e Fé à Brasília, ao DF e, naturalmente à querida PL.
3) Viva o Cerrado !
Vizinho, é o seguinte: eu adooooro os peixes. Fritos, assados , nas brasas, empanados, em bolinhos - ah! um arroz de tamboril! - pelados e branquinhos depois de terem sido levados ao forno dentro de um igloo de sal grosso. Ensopados, moquecas, sardinhas, piabas, agulhas, atum, pescada,robalo,salmão! Maravilha! Tem mais: não converso com os peixes. É que só me aproximo dos prezados enquanto vivos com motivos inconfessáveis: matá-los e comê-los sem molhos metidos à besta! Para isso a gente tem que ficar calado enquanto manuseia o anzol(rsrs) Com uma garrafinha esfriando n'água fria ou uma cervejinha esperando nas geladeiras da vida. Bom demais!
ResponderExcluirAbração
1)Amigão Moacir, eu tb como peixes. Converso com eles, qdo estão vivos, na hora de saboreá-los faço uma oração para as almas deles. E assim vamos vivendo em comum acordo com a Natureza...
ResponderExcluir2) Sabendo que, ao morrer, tb vou virar pasto para muitos. Pretendo ser cremado, então as cinzas servirão de adubo ...
3)Eis a Vida. Abração recíproco !