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Antonio
Rocha
No
âmbito do que eu chamo de “passageiroterapia”, descobri certa feita que os
motoristas de praça, como antigamente se indicavam os taxistas, eles também
aproveitam a entrada dos passageiros para desabafar algo que lhes esteja
incomodando, ou quem sabe pedindo uma dica, uma luz, um esclarecimento, como
foi o que aconteceu a seguir.
No
Centro da “Mui Leal e Heróica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro” (este
era o nome oficial nos primórdios). Entrei no táxi e sentei no banco de trás,
como sempre faço. O taxista, pelo andar da carruagem um senhor beirando os sessenta
anos, senão for isso, com certeza mais de cinquenta e com uma taxa de sobrepeso
foi logo falando:
- O senhor me desculpe, mas eu preciso falar o que
está preso na minha garganta.
- Fique tranqüilo, pode falar à vontade. –
respondi.
Ele
era separado da mulher com quem viveu mais de vinte anos, tinha dois filhos com
ela e moravam na Baixada Fluminense. Belo dia uma jovem passageira adentrou o
carro, apaixonou-se perdidamente (literalmente) pela moça e resolveram juntar
as roupas, largando a antiga mulher.
- Pensei que isto só acontecia em novela de
televisão – interrompi o condutor do veículo.
- Pois é, aconteceu comigo, caí igual um patinho e
agora não sei o que fazer – disse o homem aflito.
Continuando
esclareceu:
- Estou cheio de dívidas, dei entrada em um
apartamento para esta menina, coloquei no nome dela, mobiliei e fomos morar
juntos. Gosto muito dela, faço todas as vontades até que, há um mês atrás ela
me bombardeou:
- Você me faz todas as vontades, só falta uma para
completar a nossa felicidade. – disse a moça.
- E o que é dessa vez?
- Eu quero que você arranje um homem e vamos os
três para a cama. É só isso o que falta. – disse a moçoila.
- E você? – perguntei – qual foi a sua resposta?
- O senhor não imagina –
disse o taxista – fui parar no hospital,
a pressão subiu, quase morri. Fiquei decepcionado, desiludido, depois de tudo o
que eu fiz por ela...
- Que bom que você conseguiu se recuperar –
ponderei.
- É, mas uma semana depois ela voltou à carga com o
mesmo assunto e eu vi que não tinha solução. Perguntei se ela tinha alguém em
vista, ela falou que era o nosso padrinho de casamento, meu amigo de longa
data. Quer dizer, foi um casamento alternativo que nós fizemos, pois eu sou
casado com a mulher mãe de meus filhos.
- E aí o que você fez? –
perguntei ao estranho que, quanto mais falava mais parecia estar ficando calmo.
- Morrendo de vergonha falei com o meu amigo.
Marquei um almoço com ele e contei tudo.
- E o seu amigo? – inquiri.
- Ele disse que isso era coisa dos tempos atuais,
mas que aceitava a proposta.
...
Fiquei calado... e o motorista continuou...
- Marquei para um sábado à tarde, ele foi lá em casa. Ela trancou a
porta do quarto e ficaram os dois até de noite. E eu na sala vendo televisão.
...
Continuei calado... ele prosseguia ...
- Eu sei que esta semana ele já ligou de novo para
ela, e agora, eu quero que o senhor me diga, o que é que eu faço?
Respondi
de forma bem objetiva.
- Eu acho que ela não gosta de você, a vida já te
deu um aviso e você foi parar no hospital, presta atenção, ela vai te secar...
tão logo possa cai fora, paga as tuas dívidas e boa sorte !
Chegou
o ponto onde eu ia saltar. Paguei e exclamei:
- Saúde e juízo! – saí do carro e
mentalmente repeti o boa sorte.
Ele
riu um sorriso sem graça, deu partida no veículo e nunca mais o vi.
Olá, Antônio. Coisas modernas ( ?????? ).... Abraços
ResponderExcluir1) Oi Dulce ... essas modernidades...
ExcluirTadinho do taxista... e das pessoas que se anulam por outras.
ResponderExcluirTudo é saudável, desde que não fira nossos princípios.
Abraço
1) Concordo plenamente Mônica...
Excluir"Tem bobo pra tudo', Antonio, como diz o Newton.
ResponderExcluirAbraço
Ofelia
1)Oi Ofélia, me lembrei de música antiga:
Excluir2)"Quem não sabe tocar violão nem piston toca surdo, está provado porque neste mundo tem bobo pra tudo".
Não conhecia, Antonio, mas GOSTEI!
ExcluirAbraço
Ofelia
1) A meu ver, letra linda, parece que é autoria do compositor Alcides Gerardi:
Excluirhttps://www.letras.mus.br/carmem-costa/1747918/
Tem Bobo Pra Tudo
Carmen Costa
Quem não tem violão,nem pistom,toca surdo,
Sempre agrada porque nesse mundo tem bobo pra tudo.
Camelô na conversa ele vende algodão por veludo,
Não tem bronca porque nesse mundo tem bobo pra tudo.
A mulher que é bonita consegue o que quer,não me iludo,
E concordo porque nesse mundo tem bobo pra tudo.
Todo mal do sabido é pensar que não é enganado,
Quantas vezes também como bobo já fui apontado.
Tem alguém que é bobo de alguém apesar do estudo,
Tá provado porque nesse mundo tem bobo pra tudo...
Antônio, meu caro,
ResponderExcluirBoa parte dos leitores e a maioria dos articulistas deste extraordinário blog sabem que fui taxista por alguns anos, seis, para ser exato.
Colecionei situações as mais exóticas e estranhas possíveis, razão pela qual escrevi um livreco com vinte desses "causos" que mais me chamaram à atenção (o Mano os publicou).
Muitos deles, e por isso mesmo eu os deixei fora desta escolha que eu fizera para registrar os mais importantes, diziam respeito às traições entre cônjuges ou entre casais (namorados, vivendo juntos ...).
Conheci, por outro lado, algumas dezenas de motoristas de táxi, muitos com problemas financeiros, o resto com outras dificuldades, que demonstravam não haver profissional que não tivesse de lutar diariamente para obter uma diária que permitisse o sustento da casa.
Com exceção dos solteiros, a minoria, eles também tinham seus compromissos, desde auxiliar os pais até contarem um dinheiro para suas saídas, roupas, tênis, esses tarecos de se colocar nas orelhas e ouvir música ...
Porém, Antônio, não me lembro de um "motora" (gíria do taxista) que tivesse condições de comprar um apartamento e colocar nele uma guria, para depois ter de ouvir este pedido tão insólito quanto ofensivo, degradante!
Das duas uma:
Ou este taxista te contou uma solene mentira ou quis saber a tua opinião sobre um episódio que ouvira de um passageiro, que não acreditou e quis conferir contigo essa dúvida!
Digo isso porque 99% dos relatos provém dos passageiros. Eles que puxam conversa, e são raros aqueles que percorrem um trajeto mesmo pequeno em silêncio.
E, invariavelmente, a conversa inicia sobre o tempo!
A respeito dessa "concessão" à amada, sinceramente, tanto o traído e patético taxista quanto à zinha que ele arrumou, representam a escória humana, pois certas condições o ser humano não deveria negociar mesmo que fosse o amor da sua vida:
A DIGNIDADE!
Agora, a bem da verdade, uma das canções (bolero) de maior sucesso na história, que toca até hoje e as pessoas ficam pensando foi La Barca.
A letra do bolero dotado de uma das mais criativas metáforas para definir a mulher volúvel e desconfiável, assim dizia:
Cuando la luz del sol se esté apagando
Y te sientas cansada de vagar
Piensa que yo por ti estaré esperando
Hasta que tú decidas regresar
Em outras palavras:
Vai, te diverte, rala e rola, e quando estiveres "cansada", estarei à tua espera!
Bota pangaré nisso!
Mulher que se preze, mesmo sendo "irrequieta", deveria mandar este imbecil para o espaço!
Um abraço, Rocha.
Saúde e Paz!
Para você, Bendl.
ExcluirLá do passado.
Dancei muuuito.
E é Yanés, não lembrava.
https://www.youtube.com/watch?v=VxI4-YF-o8k&list=RDVxI4-YF-o8k#t=12
1)Eu me lembrei daquelas histórias de adolescente:
ResponderExcluir2)"O amor é uma flor roxa que nasce no coração do trouxa".
3)Oi Bendl, se é verdade ou não, não sei...
4)Peço perdão a vcs por ter abordado um assunto pra lá de esquisito.
Antonio, por que perdão por ter abordado esse assunto?
ExcluirNão é você mesmo que nos diz que tudo o que existe faz parte do Caminho?
A história é interessante, e se o motorista te disse ou não a verdade não tira o interesse...
Olá Antônio,
ExcluirNão se preocupe, nada é esquisito depois de "O amor é lindo" do Francisco Bendl! E o que eu gosto muito além de super curiosa é dos comentários.
Muita saúde para voce.
Até mais.
1) É verdade Wilson, de acordo com o Budismo, nada está fora do Caminho, tudo faz parte do Caminho, tudo é Caminho.
Excluir2)Estou me recuperando de um exagero, os meus apegos alimentares ...
3) Esse, ainda não consegui me libertar ...
Dancei muito está música, Bendl, na voz de Roberto Yanez (não sei se o sobrenome se escreve assim). Eu adorava, ele cantava muito. Tocava sempre nas minhas festas.
ResponderExcluirAbraço
Ofelia
Ofélia,
ResponderExcluirCertamente eu e tu nos conhecemos em outras encarnações (o Antônio pode nos informar melhor sobre esta transitoriedade entre vidas).
Tem os muitos pontos em comum, inclusive dançar!
No entanto, a Marli sabe somente andar para a frente, e este pé de valsa antes de casar, deixou de lado um de seus maiores predicados, de modo a acompanhar a esposa naquilo que ela jamais queria aprender!
Em compensação, ela deixou de fumar, ora bolas!
Voltando à vaca fria, muito circundei pistas dançando os boleros cantados por Gregório Barrios, músicas que jamais serão esquecidas.
Havia também Lucho Gatica, Armando Manzanero, Trio Los Panchos, e o nosso saudoso Trio Irakitan.
Um abraço, Ofélia.
Saúde e Paz!
Puxa!, e nem falou se gostou do Roberto Yanés? Era um deslumbre, um sucesso na minha época.
ResponderExcluirAbraço, Bendl. Saúde! E é pra frente que se anda. Que bom, você aprendeu, rsrs...
Antônio, meu vizinho, DISSO eu sei só de ouvi dizer (rsrs)Confesso que gostei do Amante de Lady Chatterley enquanto que me escapou - não passei do segundo capítulo - o sentido dos Cinquenta Tons. Certos enredos - graças a Tupã! - continuam distantes aqui da minha taba, na qual os índios ainda se pintam para a guerra no escurinho da oca.A minha tribo nada tem contra fantasias, fetiches, pimentas, jogos amorosos e tal e não acredita em culpas e pecados na celebração do Quarup. Mas não assimilou essas novas táticas de guerra. Somos das antigas , dos tempos paleolíticos do homem/mulher quando o sexo rolava a dois e menáge à trois "naqueles" filminhos quando os curumins iam dormir. Mas...
ResponderExcluirNo interior de Pindorama mora uma família sui generis. Ele é vaqueiro. Casou com uma filha mais velha. Moça prendada nas lidas da casa e da roça tendo ajudado a mãe a criar quatro irmãos e uma irmãzinha dez anos mais nova que ela. Os irmãos rumaram todos para Sum Paulo. Primeiro foi-se a sogra. Depois o sogro a seguiu para o andar de cima . A garota orfã veio morar com a irmã. Anos depois, já que a sustentava, o cunhado deitou na cama dela. Um escândalo ? Que nada! A comunidade aceita numa boa,o padre já entregou nas mãos de Deus, as duas senhoras felizes e unidas criam a população dos 9 filhos dele. No primeiro e feio caso relatado pelo amigo lemos intere$$e , anulação de personalidade, destruição da autoestima , violência moral consentida , bobice extrema etc,etc,etc. No segundo caso nenhuma das suas mulheres se sente traída ou traindo, ameaçada e muito menos considera estar fazendo qualquer coisa errada. É uma família. O arranjo funciona.As crianças são bem cuidadas e brincam contentes. O amor é lindo! Moral da história? Não sei. Olho e fico "besta", de queixo caído com o caminho do meio (rsrs)
Abração
1) Moacir, vizinho dos bons, a história real que vc contou me fez lembrar de outra história real:
Excluir2) Está no livro "A função do Orgasmo", do médico ucraniano e psicanalista Wilhelm Reich (1897-1957):
3) O pai ficou viúvo e casou com a filha mais velha, lá na antiga Alemanha.
4) Como diria minha saudosa mãe: "Esse mundo de meu Deus !", sábia pernambucana de Bezerros, ela não aprovava nem reprovava, só exclamava:
5)"Esse mundo de meu Deus ! "
Antonio, a sabedoria da senhora sua mãe me fez lembrar de um personagem do Érico Veríssimo, o velho Fandango, que dizia - "Êta mundo velho sem porteira!", querendo dizer que na vida entrava de tudo :)
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