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07/01/2017

De aves e mulheres

Maritacas da Mantiqueira - fotografia de Mário Laguna (Creative Commons)


Ana Nunes
Bem cedo no dia e as maritacas estão em festa. E nem domingo é. Plena sexta-feira.
Na lufada de ar fresco da manhã elas vêm em bando verde, traçando rotas malucas e escolhendo árvores folhosas e não as vemos mais. Voam fazendo marketing, um alarido alto e estridente que enche o ar vazio.
E me lembram mulheres conversando e entendo  o dizer popular - falam como maritacas. Não que falemos mais do que os nossos queridos homens. Sim que falamos juntas, conversamos atravessado, atropelando, estressando e divertindo, juntas e misturadas. E conseguimos nos ouvir e responder, e trocar ideias.
E quando nos perdemos, problema algum em perguntar - o que mesmo que você disse? E pegamos o fio da meada e junto a outros fios vamos tecendo a nossa rede.
Rede poderosa, de conselhos, de intrigas, invejas e ciúmes. Mas de um calor incendiário, de uma coragem indescritível, de extensão inimaginável, a maior rede do mundo.
Porque apesar das fofocas e dos desafetos, estamos sempre de braços abertos no acolhimento de um abraço apertado ao menor sinal de socorro. E choramos juntas, trocamos lágrimas e suspiros.
E dizemos dos amores, dos sonhos inconfessáveis. Das perdas e dos ganhos. Dos filhos, como são lindos e como às vezes nos machucam o coração. Mas coração de mãe é grande... Competimos com os netos maravilhosos que eles nos deram.
Falamos dos nossos pais, de suas doenças e mazelas, seus princípios e suas dores. Se não estão mais conosco, falamos do buraco infinito que deixaram em nós! E da vontade de conversar com eles, de trocar ideias e pedir conselhos. Ao menos para saber que estamos agindo certo. Ou, às vezes, só estar perto e sem palavras dividirmos nossos anseios.
Agora, depois de tantas experiências, nos sentimos mais próximos deles e capazes de compreendê-los melhor.
Conseguimos também discutir moda, e fazer um Mercado das Pulgas ou Persa, ou apenas de barganhas, vendas e reformas.
Política, cinema, botox e preenchimentos, artes e ofícios, malhação e natação. Hormônios. E, acreditem, comparamos  até os preços do tomate e da gasolina.
Se parecemos maritacas, com que ave se parecem nossos homens queridos?
Com tucanos? Não, são desproporcionais e muito coloridos.
Pavões? Não, muito aparecidos.
Águias? Não, muita visão e muita garra.
Faisão? Bem, até que são caçados...
Pombos? Não, nossos homens não bebem tanto assim a ponto de arrulhar. Ou bebem?
Pardais? Não, são tão comuns!
Beija-flor? Huumm... Seria muito bom!
Fênix? Não, só mulheres divorciadas são fênix.
Acho mesmo é que são tucano, pavão, águia, faisão, pombo, pardal e beija-flor. Um pouco de cada um. Maravilhosos. Insubstituíveis.
Se bem que Bibi Ferreira, há tempos numa entrevista, confessou que tinha trocado os homens por diversos CDs players. Com eles não ficava angustiada esperando telefonema ou flores no dia seguinte...

9 comentários:

  1. Moacir Pimentel07/01/2017, 09:08

    Caríssima Donana,
    Que bom começar este sábado com a sua poesia! Obrigado.Não consigo nem imaginar o que seria de nós homens - esses pobres bípedes desnorteados do terceiro milênio - sem as nossas "maritacas" a nos alegrar os dias e noites.
    Por uma dessas coincidências da vida, estou rascunhando sobre águias portuguesas e fênix globais e portanto não vou me alongar nesse comentário alado. Mas é claro que não tinha cogitado, até ler o seu lindo post, sobre o estado civil das bichinhas (rsrs)
    Quanto às versões "passarinho" dos homens , so sorry, mas a senhora esqueceu a do sabiá:
    "Sabiá fugiu pro terreiro
    Foi cantar no abacateiro
    E a menina vive a chamar
    Vem cá sabiá, vem cá"
    Abraço

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  2. Olá Moacir,
    Bom é começar o sábado com um comentário tão gostoso!
    Me esqueci do sabiá mas me lembrei do Bem-te-vi mas sempre vem junto
    "Bem-te-vi
    Bem-te-vi
    E ainda quero muito mais
    Maior que a imensidão da paz
    E bem maior que o céu"
    que adoro, mas já seria outra coisa.
    Quero confessar, sua bela escrita me intimida e seu termo bobóide me persegue. E muitas vezes fico com pudores de me expor.Vou lidando...Mas você não pode nunca nos privar dos seus textos maravilhos e comentários idem. Como disse o Heraldo, você sempre põe o coração no que escreve. Somo todos adictos de você.
    Sempre muito obrigada pelos textos e comentários.
    Bom fim de semana. Aproveite os netos, ventos de luz e renovação nas nossas vidas.

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  3. Dulce Regina07/01/2017, 13:03

    Olá querida amiga do bando de " maritacas ". Nesse momento estou ouvindo o bem-te-vi cantando ou talvez conversando, porque são dois, e com esse som gostoso devo dizer-lhe que você acertou em cheio na sua narrativa poética . Somos assim frágeis e poderosas, fortes e sensíveis, boas e malvadas, enfim... de uma dualidade incomparável . Mas no quesito beleza, as aves macho são insuperáveis. E na conquista da fêmea ? Eles estufam o peito e partem para o galanteio...e as fêmeas amam, sentindo-se lindas e belas. Que sábado gostoso !!! E deixo um conselho de mulher para mulher : que ninguém nos ouça...não intimite-se com o Moacir, ele é um " menino pueril " e adorável mestre e poeta. Rsrsrs. Abraços sabáticos, Dulce Regina

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  4. Olá Dulce Regina, adorei o "amiga do bando de maritacas". O Mano não consegue entender como conseguimos conversar. Nem participar. Mas nós conseguimos, não é mesmo? E viva a nossa dualidade! O Moacir é mesmo adrável mestre e poeta, mas que intimida, intimida. Abraço para você. Obrigada pelo comentário.

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  5. Francisco Bendl08/01/2017, 15:27

    Minha querida Aninha,

    Homens e mulheres são insubstituíveis.

    Nós, homens, precisamos da nossa "ela", assim as mulheres, que necessitam de seus "eles".

    O ser humano somente se completa quando um casal se une (homem e mulher), justamente em razão das diferenças biológicas e psicológicas.

    A companhia de uma mulher, de se viver ao lado dela até o fim da vida - uma verdadeira epopeia de alegrias, tristezas, frustrações, compensações, momentos indescritíveis, felicidades fugazes, realizações, perdas, exigências, renúncias ... -, significa dominar a arte do convívio, de contemplar a difícil tarefa de, diariamente, alimentar o amor que um dia os uniu, corroborado pela paixão que, gradativamente, vão diminuindo, porém permanecem em banho-maria, e cujo fogo que os mantém - amor e paixão - não pode se apagar, de jeito nenhum!

    A experiência, a admiração que o casal nutre um pelo outro - fundamental neste relacionamento proposto de ser durável -, requerem tarefas criativas, surpresas agradáveis, e que ambos façam seus parceiros rir à vontade, que consigam se distrair um com o outro, e ambos estarem juntos deve bastar como diversão completa!

    Complicado?

    Claro!

    Desde quando que viver com uma pessoa tão diferente e de gênero díspare seria fácil?

    Mas este é o segredo de relações duradouras, quando o casal está objetivado em satisfazer a outra parte, em deixá-la feliz o máximo que puder então, o humor, que sempre deve estar presente em qualquer situação.

    E nada melhor que um sorriso obtido depois de uma graça, de uma "tirada" instantânea, de uma circunstância contrária que foi transformada em favorável.

    Lógico, faz-se mister ambos se conhecerem profundamente, saber o que detestam, do que apreciam, daquilo que causa aversão, e do que os aproxima.

    Enfim, a relação sincera, verdadeira, HONESTA, nos faz voar alto, que nos faz parecer aves para grandes altitudes, tais como águias, condores, falcões, e também como os notáveis felinos, leão, tigre, onça - a Marli volta e meia se mostra uma onça, não sei por quê?!

    Mas, em compensação, dou uma de leão:
    Ela faz a minha comida, me serve, leva a refeição no escritório, prepara o meu suco de abacaxi com bastante gelo, me alcança a toalha depois do banho, ajeita a roupa que usarei, coloca o chinelo nos meus pés, seca as minhas costas, pergunta se desejo algo a mais - este foi o sonho que tive ontem à noite, quando fui acordado violentamente pelas garras da onça que dizia eu roncar como um leão velho!!!

    Nada é igual a um relacionamento estável, que atingiu a estabilidade emocional, que não haverá ninguém para perturbar esta união.

    Queres um exemplo, Aninha?

    Quando o Mano atingir este patamar de, achar um pavão quando abre a sua cauda se mostrar com a sua beleza estupenda mais interessante que a Gisele Bündchen em pelo - pois é desta maneira que hoje avalio a beleza -, então este casamento irá até o fim da vida de um dos dois!!!

    Parabéns pela tua sensibilidade - inata nas mulheres -, mas corroborada pela tua inteligência, visão de mundo, de esposa, mãe, e dotada de qualidades infinitas.

    Um abraço, forte, respeitoso, claro.
    Saúde e paz, Aninha, extensivos aos teus amados.





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  6. Olá Francisco Bendl, voz de trovão,
    Quando penso que você nos esqueceu, você me manda um comentário que é um verdadeiro post. Parabéns!
    Casamento é difícil mesmo, a gente tem que querer muito que dê certo. Acho que vale a pena.
    Mas discordo de você quando diz que não sabe o porque quando Dona Onça dá as caras. Ela pode não saber, mas você certamente sabe... Quando Dona Onça dá as caras aqui em casa, o Mano sempre sabe! E, se tiver juízo, não discute!
    Obrigada pelo comentário. Gostei de você ter aparecido.
    Até mais.

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  7. Ana querida,como sempre um texto admirável, leve, profundo,lindo e inteligente
    Os comentários também merecem parabéns, me fez bem ler

    obrigada, amo ter vc como amiga. Léa.

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  8. Oi Léa,
    Que comentário mias gostoso.
    També te gosto muito!
    Volte sempre.

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  9. 1) Bom texto Ana, belíssima foto.

    2) Qdo criança gostava de canários e biquinhos de lacre.

    3) Adulto passei a ad-mirar o pássaro mitológico Garuda, da Índia.

    4) Bons voos !

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