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19/01/2017

Schopenhauer e o Carnaval Brasileiro

Jules Lunteschütz - Retrato de Arthur Schopenhauer (1855)



Antonio Rocha


No afã de humildemente colaborar com o criativo carnaval nacional, sugiro para um dos próximos anos que alguma escola ou bloco conte um período da vida do grande filósofo Schopenhauer, façam um antológico e ontológico corte epistemológico. E assim, estaremos todos contribuindo para abrilhantar mais ainda a cultura cósmica.

Em determinada época, Schopenhauer era professor e, como tal, não devia ganhar grandes coisas (começa aí já a crítica social no futuro desfile). Morava em uma pensão, quarto alugado. Nessa mesma pensão moravam umas solteironas (nada contra) cuja diversão predileta (dica para o carnavalesco, existe marca de café chamado predileto, tente um apoio financeiro, olha o tema do café filosófico aí gente) era falar mal da vida alheia e investigar as amantes que visitavam a cama do saliente docente indecente (parece que o cara era bom na pegada).

Existe no Rio uma escola de samba ou bloco que se chama “Vizinha Faladeira”, fica ali próximo a Gamboa, Cais do Porto Maravilha, Santo Cristo e adjacências... Quem sabe se inspiraram no conhecido filósofo?

Pois bem, o conceituado Pensador vivia às voltas com as fofocas da vizinhança.

Certa feita, coitado, perdeu a paciência, flagrou uma vizinha espiando pelo buraco da fechadura, enquanto ele transava com uma madame de aluguel. Interrompeu o ato e eis que num gesto impensado levantou-se pelado, abriu a porta e empurrou a vizinha escada abaixo.

Conclusão: a vizinha não morreu, apenas escoriações leves, mesmo assim ele foi condenado a pagar uma quantia tipo cesta básica pelo resto da vida da vizinha, que ainda viveu mais de vinte anos.

Nosso herói sofria constantemente de depressão e declarava que o problema não era o dinheiro, mas a aporrinhação da pensão.

Outra dica para o carnavalesco que topar a parada: Schopenhauer introduziu na Filosofia Ocidental os temas da Filosofia Oriental, mormente as correntes do pensamento indiano: Budismo, etc.

Aconteceu mais um problemão para desespero, desânimo e depressão do conhecido escritor, é que sua digníssima progenitora ficou viúva cedo e passou a escrever, com relativo sucesso, romances populares bem folhetinescos, freqüentando as rodas profanas e nada santas da sociedade local, fato que ele abominava.

Apesar de todo conhecimento, Schopenhauer revelou-se, neste item, preconceituoso, machista e elitista. Acabou brigando e afastou-se da mãe, mas isso Freud explica...

Já pensaram ele, conceituado filósofo e logo quem, a senhora sua mãe, escrevendo erotismos vulgares. Mas o pior de tudo, é que o povão gostava. Imagino o diálogo:

- Mãe, que vexame meu Deus! Eu um pensador galardoado e a senhora escrevendo sobre suas noitadas de amor com os seus namorados...

- E você, agora tá lascado, foi empurrar aquela vizinha escada abaixo, vai ter que pagar cesta básica o resto da vida.. Você não entendeu que ela estava a fim de você.

- Pensando bem mãe, acho que eu estou é com ciúme da senhora.

-Eu sei disso meu bom filho, mas fique certo, todos nós já estamos no céu… e olha, trate de arranjar um jeito para ganhar mais...

- Ah! mãe, magistério é assim mesmo. É amor a uma causa...

-Por isso eu prefiro as minhas historinhas nada santas...



9 comentários:

  1. Olá Antônio,
    Muito interessante e muito divertido!
    Fiquei rindo enquanto lia e pensando em quanto a humanidade se repete, as fofocas, a sobrevivência, os preconceitos , a mãe...
    Muito bom.
    Até mais.

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    1. 1) Oi Ana, vc tem toda razão, esse lado da humanidade é muito repetitivo.

      2)Bastante divertido.

      3) Gratidão e abração.

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  2. 1) Obrigadão Mano.

    2) Na pressa eu esqueci de citar a fonte:

    3) "Arthur Schopenhauer e os Anos Mais Selvagens da Filosofia", do jornalista alemão Rudiger Safranski, editora Geração, 688 páginas, 2011.

    4)O autor, entre outras, fala das baixarias políticas e hipocrisias da época. Não é um livro acadêmico...mostra a genialidade do pensador em meio a confusão do dia a dia.

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  3. Antonio, você conseguiu humanizar o Schopenhauer para nós. Muito bom.

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    1. 1) Digamos Mano, tentei resumir o pensador.

      2)Por um lado brilhante, por outro, tão humano quanto nós, mortais.

      3)Abraços.

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  4. Francisco Bendl19/01/2017, 12:09

    Rocha, meu caro,

    Do jeito que o célebre filósofo alemão era e entendia a vida, um pessimista irrecuperável, das duas uma:
    Ou no carnaval não haveria a cozinha das Escolas de Samba - a música! - ou não haveria a fantasia - as cores!

    Na verdade é o pensador que mais aprecio porque foi aquele que abordou a realidade mais próxima dela mesma!

    A visão de mundo de Schopenhauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos. Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos.

    "Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável", resume o comentarista inglês Brian Magee, ao referir-se ao modo como Schopenhauer encara a existência.

    Portanto, um carnaval com Schopenhauer deve ser mesmo para esquecer de tão ruim, apesar da presença deste notável pensador que influenciou dezenas de outros mestres!

    Excelente artigo, Rocha.

    Um forte abraço.
    Saúde e Paz!

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    1. 1) Salve Chicão !

      2) Eu tb gosto muito do Schopenhauer, justamente porque foi ele quem divulgou no Ocidente o Pensamento Budista.

      3)No artigo, desculpe a forma como descrevi o Pensador, foi maneira de esclarecer que todos nós temos as nossas confusões.

      4)Abração !

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  5. Moacir Pimentel19/01/2017, 16:19

    Antônio,
    Muuuito bom. Para mim talvez o melhor texto da sua lavra. Parabéns. O humor em nada me surpreendeu depois da sua cantoria telefônica evangelizadora (rsrs)
    Quanto à vida amorosa do "docente indecente"... dizem os antigos que quem sai aos seus , não degenera. Quanto às vizinhas bisbilhoteiras, ninguém merece. Quanto às cestas básicas, hoje quem as recebem são os familiares dos meliantes.
    Quanto à filosofia - de Schopenhauer ou de quem quer que seja - é apenas a mesma e velha e sábia tentativa de entender e explicar a vida para vivê-la melhor. Mas entre os filósofos prefiro os poetas:
    "O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso".
    Ariano Suassuna
    Abração

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    1. 1) Salve Moacir,

      2)Concordo plenamente com vc.

      3)Ariano Suassuna gosto muito !

      4) Obrigadão !

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