Jules Lunteschütz - Retrato de Arthur Schopenhauer (1855) |
Antonio
Rocha
No afã
de humildemente colaborar com o criativo carnaval nacional, sugiro para um dos
próximos anos que alguma escola ou bloco conte um período da vida do grande
filósofo Schopenhauer, façam um antológico e ontológico corte epistemológico. E
assim, estaremos todos contribuindo para abrilhantar mais ainda a cultura
cósmica.
Em
determinada época, Schopenhauer era professor e, como tal, não devia ganhar
grandes coisas (começa aí já a crítica social no futuro desfile). Morava em uma
pensão, quarto alugado. Nessa mesma pensão moravam umas solteironas (nada
contra) cuja diversão predileta (dica para o carnavalesco, existe marca de café
chamado predileto, tente um apoio financeiro, olha o tema do café filosófico aí
gente) era falar mal da vida alheia e investigar as amantes que visitavam a
cama do saliente docente indecente (parece que o cara era bom na pegada).
Existe
no Rio uma escola de samba ou bloco que se chama “Vizinha Faladeira”, fica ali
próximo a Gamboa, Cais do Porto Maravilha, Santo Cristo e adjacências... Quem
sabe se inspiraram no conhecido filósofo?
Pois
bem, o conceituado Pensador vivia às voltas com as fofocas da vizinhança.
Certa
feita, coitado, perdeu a paciência, flagrou uma vizinha espiando pelo buraco da
fechadura, enquanto ele transava com uma madame de aluguel. Interrompeu o ato e
eis que num gesto impensado levantou-se pelado, abriu a porta e empurrou a
vizinha escada abaixo.
Conclusão:
a vizinha não morreu, apenas escoriações leves, mesmo assim ele foi condenado a
pagar uma quantia tipo cesta básica pelo resto da vida da vizinha, que ainda
viveu mais de vinte anos.
Nosso
herói sofria constantemente de depressão e declarava que o problema não era o
dinheiro, mas a aporrinhação da pensão.
Outra
dica para o carnavalesco que topar a parada: Schopenhauer introduziu na
Filosofia Ocidental os temas da Filosofia Oriental, mormente as correntes do
pensamento indiano: Budismo, etc.
Aconteceu
mais um problemão para desespero, desânimo e depressão do conhecido escritor, é
que sua digníssima progenitora ficou viúva cedo e passou a escrever, com
relativo sucesso, romances populares bem folhetinescos, freqüentando as rodas
profanas e nada santas da sociedade local, fato que ele abominava.
Apesar
de todo conhecimento, Schopenhauer revelou-se, neste item, preconceituoso, machista
e elitista. Acabou brigando e afastou-se da mãe, mas isso Freud explica...
Já
pensaram ele, conceituado filósofo e logo quem, a senhora sua mãe, escrevendo erotismos
vulgares. Mas o pior de tudo, é que o povão gostava. Imagino o diálogo:
- Mãe, que vexame meu Deus! Eu um pensador
galardoado e a senhora escrevendo sobre suas noitadas de amor com os seus
namorados...
- E você, agora tá lascado, foi empurrar
aquela vizinha escada abaixo, vai ter que pagar cesta básica o resto da vida..
Você não entendeu que ela estava a fim de você.
- Pensando bem mãe, acho que eu estou é com ciúme
da senhora.
-Eu sei disso meu bom filho, mas fique certo, todos
nós já estamos no céu… e olha, trate de arranjar um jeito para ganhar mais...
- Ah! mãe, magistério é assim mesmo. É amor a uma
causa...
-Por isso eu prefiro as minhas historinhas nada
santas...
Olá Antônio,
ResponderExcluirMuito interessante e muito divertido!
Fiquei rindo enquanto lia e pensando em quanto a humanidade se repete, as fofocas, a sobrevivência, os preconceitos , a mãe...
Muito bom.
Até mais.
1) Oi Ana, vc tem toda razão, esse lado da humanidade é muito repetitivo.
Excluir2)Bastante divertido.
3) Gratidão e abração.
1) Obrigadão Mano.
ResponderExcluir2) Na pressa eu esqueci de citar a fonte:
3) "Arthur Schopenhauer e os Anos Mais Selvagens da Filosofia", do jornalista alemão Rudiger Safranski, editora Geração, 688 páginas, 2011.
4)O autor, entre outras, fala das baixarias políticas e hipocrisias da época. Não é um livro acadêmico...mostra a genialidade do pensador em meio a confusão do dia a dia.
Antonio, você conseguiu humanizar o Schopenhauer para nós. Muito bom.
ResponderExcluir1) Digamos Mano, tentei resumir o pensador.
Excluir2)Por um lado brilhante, por outro, tão humano quanto nós, mortais.
3)Abraços.
Rocha, meu caro,
ResponderExcluirDo jeito que o célebre filósofo alemão era e entendia a vida, um pessimista irrecuperável, das duas uma:
Ou no carnaval não haveria a cozinha das Escolas de Samba - a música! - ou não haveria a fantasia - as cores!
Na verdade é o pensador que mais aprecio porque foi aquele que abordou a realidade mais próxima dela mesma!
A visão de mundo de Schopenhauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos. Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos.
"Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável", resume o comentarista inglês Brian Magee, ao referir-se ao modo como Schopenhauer encara a existência.
Portanto, um carnaval com Schopenhauer deve ser mesmo para esquecer de tão ruim, apesar da presença deste notável pensador que influenciou dezenas de outros mestres!
Excelente artigo, Rocha.
Um forte abraço.
Saúde e Paz!
1) Salve Chicão !
Excluir2) Eu tb gosto muito do Schopenhauer, justamente porque foi ele quem divulgou no Ocidente o Pensamento Budista.
3)No artigo, desculpe a forma como descrevi o Pensador, foi maneira de esclarecer que todos nós temos as nossas confusões.
4)Abração !
Antônio,
ResponderExcluirMuuuito bom. Para mim talvez o melhor texto da sua lavra. Parabéns. O humor em nada me surpreendeu depois da sua cantoria telefônica evangelizadora (rsrs)
Quanto à vida amorosa do "docente indecente"... dizem os antigos que quem sai aos seus , não degenera. Quanto às vizinhas bisbilhoteiras, ninguém merece. Quanto às cestas básicas, hoje quem as recebem são os familiares dos meliantes.
Quanto à filosofia - de Schopenhauer ou de quem quer que seja - é apenas a mesma e velha e sábia tentativa de entender e explicar a vida para vivê-la melhor. Mas entre os filósofos prefiro os poetas:
"O otimista é um tolo. O pessimista, um chato. Bom mesmo é ser um realista esperançoso".
Ariano Suassuna
Abração
1) Salve Moacir,
Excluir2)Concordo plenamente com vc.
3)Ariano Suassuna gosto muito !
4) Obrigadão !