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25/01/2017

Uma Vaca no Restaurante

(imagem Wikipedia)




Antonio Rocha

Belo dia, Estrovêncio e Estrovência (nomes fictícios) começaram a namorar e depois casaram. Gostavam de freqüentar bons restaurantes.  Até que, certa feita, Estrovência começou a desenvolver uma curiosa forma de mediunidade.

Ela passou a incorporar o espírito de uma vaca. Sim, isso mesmo. Não vai aqui nenhum desdouro ao gênero feminino, até porque, na Índia a vaca é sagrada, então lá é um elogio e não um desaforo, chamar a mulher de vaca, da mesma forma que no Brasil chamamos as mulheres queridas de gata, gatinha, gatona etc.

O espírito da vaca se chama Briosa e, cada vez mais, a esposa de Estrovêncio ora se comportava como Estrovência e ora como Briosa.

Para completar a lenha na fogueira, Briosa começou a influenciar Estrovência para se tornar vegetariana e, condoída com o destino de suas irmãs - o frigorífico – Estrovência passou a mugir igual a Briosa. Era só não gostar de algo que Estrovência entoava o tal MMMOOOOOOMMMM ! ! !

Era assim, alto e bom som, em qualquer lugar.

Mas como o casalinho (como dizem os portugueses) se amava muito, foram comemorar o Dia dos Namorados em um restaurante de gente chique.

Sentaram-se felizes à mesa e eis que:

- Ai Estrô (só para os íntimos) estou sentindo aquelas sensações estranhas da mediunidade...

- Ah! não Vência (idem), logo hoje, no nosso dia...

- Tô sentindo que a Briosa quer passar uma mensagem vegetariana para os freqüentadores desse lugar aqui.

- Pelo amor de Deus, Vência, aqui só tem gente chique, colunável... já pensou o vexame...

- Ninguém tem nada a ver com a minha vida e nem com a minha religião...

Nisso, Estrovência começa a se balançar e acontece a incorporação. Dando o ar de sua graça, Briosa entoa um MMMOOOOMMM bem baixinho e o rapaz cochicha:

- Deus te salve, Bri-Bri (idem, idem), mas não dá para ser outra hora não, lá em casa, em outro lugar pôxa !?

 - É, seu carnívoro, boicida, vaquicida, tourocida? Os espíritos dos demais bois e vacas aqui presentes querem fazer uma manifestação à altura deste genocídio, digo gadocídio.

Então aparece o garçon e, cortesmente pergunta:

- Madame, a senhora prefere algum prato especial?

Despistando, Briosa, digo Estrovência, interfere e diz, polidamente:

- Uma salada bem levinha, por favor.

Ocorre então algo inesperado. A mediunidade do rapaz, Estrovêncio,  manifesta-se pela primeira vez, e ele incorpora um espírito do reino vegetal:

- É? Seus vegetocidas, couvecidas, fruticidas, vocês pensam que nós não sentimos dor, quando vocês nos arrancam lá da horta ou do pomar?

O garçon volta sorridente com a bonita salada. O espírito de um Abacaxi que atuava no jovem afirma:

- Desculpe amigo, mudamos de idéia, hoje vamos fazer jejum, só água mineral sem gás, por gentileza.

Então o garçon, que também era médium, incorpora o Espírito da Água Doce:

- Olhaí oh!, eu sou de Água Doce, mas posso muito bem falar com os meus amigos salgados e provocarmos um tsunami hem?

Oremos !




12 comentários:

  1. 1) Obrigadíssimo Mano,

    2) O texto acima faz parte das minhas RH:antes que alguém pense em Recursos Humanos esclareço = Redações Humorísticas.

    3)Bom dia para todos (as).

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    1. Antonio, você conseguiu fazer a descrição perfeita de uma situação sem saída! E agora?

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  2. 1)Pois é, um dos recursos da Arte que gosto muito é deixar que o leitor complete a história.

    2)Eu fiz a provocação Literária e o outro continua. Neste momento me desapego do meu texto, ele deixa de ser meu e passa a ser do mundo, daqueles que, de uma forma ou de outra irão completá-lo, melhorá-lo etc.

    3) Abração !

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  3. Que história, hem, Antonio?
    Sem pés e cabeça.
    Desculpa, mas era pra achar graça?
    Não sei o que deu em você, sr. budista.
    Você foi atrás?

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  4. 1) Oi Ofélia, Arte e Non Sense.

    2) Enigmática.

    3)Não precisa achar graça, o fato de ser humorística pode ser "tragicomédia".

    4)Tem um recado nas entrelinhas ... animais, plantas, águas tem Espíritos e como tais, podem se comunicar conosco.

    5) Fica a critério de cada um, acreditar ou não.

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  5. 1)Prezados (as).

    2) A historinha acima me fez lembrar do tempo do Teatro do Absurdo. Experimentalismos ...

    3)Abraços.

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  6. Moacir Pimentel26/01/2017, 09:04

    Antônio,
    Não sei se me desgalhei do seu tema mas a leitura que fiz é a de que, a continuar pela estrada dos radicalismos em vez de escolher os " cardápios do meio" ainda terminaremos índios , pelados e vestidos para a guerra, de cocar de penas de pássaros não ameaçados pela extinção, diante dos ghetos das nossas telinhas politicamente corretas,que nos mandam sempre a mesmas novidades, que engolimos porque somos , como dizia o Cazuza, " programados pra só dizer sim, sim".
    De resto um aviso aos caminhantes não-carnívoros:a proteína da carne vermelha é muito importante para a formação do sangue, dos glóbulos vermelhos, das células de defesa e das sinapses. Então os vegetarianos tem mais é que substituí-la caindo de boca no feijão de cada dia com aquela salada verdinha na qual, por favor, não se pode deixar de acrescentar um fio de azeite da melhor procedência.
    Abração

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    1. 1) Concordo plenamente Moacir. Não me sinto radical em nada.

      2)Eu tb sou carnívoro. Fiz um exercício literário ficcional.

      3) Alguns estudiosos da Literatura dizem que uma história, um texto, segue por onde quer... nem sempre o autor dirige o roteiro... É como se a redação tivesse "vida própria" ...

      4)Abraços.

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  7. Olá Antônio,
    Que bagunça, hem?
    Filosofia, entrelinhas, RH, a vaca é sagrada, nos dá alimento, melhora nosso sangue, e quando querem xingar uma mulher, chamam de vaca?
    Até mais.

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    1. 1)Oi Ana, eu fiz um jogo com as palavras.

      2) Fui juntando espontaneamente à medida que fluíam.

      3) Não pré-determinei um propósito.

      4) Como se diz entre os estudiosos da Literatura, foi uma "provocação" Literária.

      5) Abraços.

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  8. Francisco Bendl26/01/2017, 15:22

    Antônio,

    Os textos que publicas versando sobre o Budismo têm sido divertidos, na sua maioria.

    Não que a filosofia não seja séria e desta forma não deva ser considerada, não, mas da maneira como registrada a gente dá boas gargalhadas.

    Imagino no lugar da vaca, no restaurante, uma gralha, uma cobra - como se comunicaria o réptil? -, uma onça!

    Bah, mas seria um caos completo se, do outro lado, houvesse também outros predadores.

    Por essas e outras, Antônio, que bato o pé em não acreditar na reencarnação e principalmente nessas formas de vida, pois seria um retrocesso, a meu ver.

    Um forte abraço deste possível urso em vidas pregressas, dado o meu tamanho e peso ou, quem sabe, um elefante, rinoceronte, um hipopótamo, um paquiderme qualquer.
    Saúde e paz!

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  9. 1)Salve Chicão, do outro lado também tem os predadores, chamados de "obsessores", aliás muitos encarnados na Terra como governantes, políticos, autoridades...

    2)Todos os animais e aves que vc citou tem espíritos, logo é possível a comunicação.

    3)Com todo o respeito e amizade, pode "bater o pé e não acreditar", mas a Vida muda tanto. Também diziam que o avião não era possível, o telefone etc...

    4)Talvez vc esteja mais para um Urso Polar (moras no frio) respeitosamente...

    5)O progresso tecnológico é fato, mas a Evolução é trabalho de formiga... a Evolução não é em linha reta, é mais fácil entendê-la como uma espiral, uma roda gigante; uma hora lá em cima, outra lá embaixo ...

    6)Abração... Me disseram que eu fui um tartarugo... sem pressa... (espero viver uns 200 anos ou próximo...).

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