Antonio
Rocha
Belo
dia, Estrovêncio e Estrovência (nomes fictícios) começaram a namorar e depois
casaram. Gostavam de freqüentar bons restaurantes. Até que, certa feita, Estrovência começou a
desenvolver uma curiosa forma de mediunidade.
Ela
passou a incorporar o espírito de uma vaca. Sim, isso mesmo. Não vai aqui
nenhum desdouro ao gênero feminino, até porque, na Índia a vaca é sagrada,
então lá é um elogio e não um desaforo, chamar a mulher de vaca, da mesma forma
que no Brasil chamamos as mulheres queridas de gata, gatinha, gatona etc.
O
espírito da vaca se chama Briosa e, cada vez mais, a esposa de Estrovêncio ora
se comportava como Estrovência e ora como Briosa.
Para
completar a lenha na fogueira, Briosa começou a influenciar Estrovência para se
tornar vegetariana e, condoída com o destino de suas irmãs - o frigorífico –
Estrovência passou a mugir igual a Briosa. Era só não gostar de algo que
Estrovência entoava o tal MMMOOOOOOMMMM ! ! !
Era
assim, alto e bom som, em qualquer lugar.
Mas
como o casalinho (como dizem os portugueses) se amava muito, foram comemorar o
Dia dos Namorados em um restaurante de gente chique.
Sentaram-se
felizes à mesa e eis que:
- Ai
Estrô (só para os íntimos) estou sentindo aquelas sensações estranhas da
mediunidade...
- Ah!
não Vência (idem), logo hoje, no nosso dia...
- Tô
sentindo que a Briosa quer passar uma mensagem vegetariana para os
freqüentadores desse lugar aqui.
- Pelo
amor de Deus, Vência, aqui só tem gente chique, colunável... já pensou o
vexame...
-
Ninguém tem nada a ver com a minha vida e nem com a minha religião...
Nisso,
Estrovência começa a se balançar e acontece a incorporação. Dando o ar de sua
graça, Briosa entoa um MMMOOOOMMM bem baixinho e o rapaz cochicha:
- Deus
te salve, Bri-Bri (idem, idem), mas não dá para ser outra hora não, lá em casa,
em outro lugar pôxa !?
- É, seu carnívoro, boicida, vaquicida,
tourocida? Os espíritos dos demais bois e vacas aqui presentes querem fazer uma
manifestação à altura deste genocídio, digo gadocídio.
Então
aparece o garçon e, cortesmente pergunta:
-
Madame, a senhora prefere algum prato especial?
Despistando,
Briosa, digo Estrovência, interfere e diz, polidamente:
- Uma
salada bem levinha, por favor.
Ocorre
então algo inesperado. A mediunidade do rapaz, Estrovêncio, manifesta-se pela primeira vez, e ele
incorpora um espírito do reino vegetal:
- É?
Seus vegetocidas, couvecidas, fruticidas, vocês pensam que nós não sentimos
dor, quando vocês nos arrancam lá da horta ou do pomar?
O garçon
volta sorridente com a bonita salada. O espírito de um Abacaxi que atuava no
jovem afirma:
-
Desculpe amigo, mudamos de idéia, hoje vamos fazer jejum, só água mineral sem
gás, por gentileza.
Então
o garçon, que também era médium, incorpora o Espírito da Água Doce:
-
Olhaí oh!, eu sou de Água Doce, mas posso muito bem falar com os meus amigos
salgados e provocarmos um tsunami hem?
Oremos
!
1) Obrigadíssimo Mano,
ResponderExcluir2) O texto acima faz parte das minhas RH:antes que alguém pense em Recursos Humanos esclareço = Redações Humorísticas.
3)Bom dia para todos (as).
Antonio, você conseguiu fazer a descrição perfeita de uma situação sem saída! E agora?
Excluir1)Pois é, um dos recursos da Arte que gosto muito é deixar que o leitor complete a história.
ResponderExcluir2)Eu fiz a provocação Literária e o outro continua. Neste momento me desapego do meu texto, ele deixa de ser meu e passa a ser do mundo, daqueles que, de uma forma ou de outra irão completá-lo, melhorá-lo etc.
3) Abração !
Que história, hem, Antonio?
ResponderExcluirSem pés e cabeça.
Desculpa, mas era pra achar graça?
Não sei o que deu em você, sr. budista.
Você foi atrás?
1) Oi Ofélia, Arte e Non Sense.
ResponderExcluir2) Enigmática.
3)Não precisa achar graça, o fato de ser humorística pode ser "tragicomédia".
4)Tem um recado nas entrelinhas ... animais, plantas, águas tem Espíritos e como tais, podem se comunicar conosco.
5) Fica a critério de cada um, acreditar ou não.
1)Prezados (as).
ResponderExcluir2) A historinha acima me fez lembrar do tempo do Teatro do Absurdo. Experimentalismos ...
3)Abraços.
Antônio,
ResponderExcluirNão sei se me desgalhei do seu tema mas a leitura que fiz é a de que, a continuar pela estrada dos radicalismos em vez de escolher os " cardápios do meio" ainda terminaremos índios , pelados e vestidos para a guerra, de cocar de penas de pássaros não ameaçados pela extinção, diante dos ghetos das nossas telinhas politicamente corretas,que nos mandam sempre a mesmas novidades, que engolimos porque somos , como dizia o Cazuza, " programados pra só dizer sim, sim".
De resto um aviso aos caminhantes não-carnívoros:a proteína da carne vermelha é muito importante para a formação do sangue, dos glóbulos vermelhos, das células de defesa e das sinapses. Então os vegetarianos tem mais é que substituí-la caindo de boca no feijão de cada dia com aquela salada verdinha na qual, por favor, não se pode deixar de acrescentar um fio de azeite da melhor procedência.
Abração
1) Concordo plenamente Moacir. Não me sinto radical em nada.
Excluir2)Eu tb sou carnívoro. Fiz um exercício literário ficcional.
3) Alguns estudiosos da Literatura dizem que uma história, um texto, segue por onde quer... nem sempre o autor dirige o roteiro... É como se a redação tivesse "vida própria" ...
4)Abraços.
Olá Antônio,
ResponderExcluirQue bagunça, hem?
Filosofia, entrelinhas, RH, a vaca é sagrada, nos dá alimento, melhora nosso sangue, e quando querem xingar uma mulher, chamam de vaca?
Até mais.
1)Oi Ana, eu fiz um jogo com as palavras.
Excluir2) Fui juntando espontaneamente à medida que fluíam.
3) Não pré-determinei um propósito.
4) Como se diz entre os estudiosos da Literatura, foi uma "provocação" Literária.
5) Abraços.
Antônio,
ResponderExcluirOs textos que publicas versando sobre o Budismo têm sido divertidos, na sua maioria.
Não que a filosofia não seja séria e desta forma não deva ser considerada, não, mas da maneira como registrada a gente dá boas gargalhadas.
Imagino no lugar da vaca, no restaurante, uma gralha, uma cobra - como se comunicaria o réptil? -, uma onça!
Bah, mas seria um caos completo se, do outro lado, houvesse também outros predadores.
Por essas e outras, Antônio, que bato o pé em não acreditar na reencarnação e principalmente nessas formas de vida, pois seria um retrocesso, a meu ver.
Um forte abraço deste possível urso em vidas pregressas, dado o meu tamanho e peso ou, quem sabe, um elefante, rinoceronte, um hipopótamo, um paquiderme qualquer.
Saúde e paz!
1)Salve Chicão, do outro lado também tem os predadores, chamados de "obsessores", aliás muitos encarnados na Terra como governantes, políticos, autoridades...
ResponderExcluir2)Todos os animais e aves que vc citou tem espíritos, logo é possível a comunicação.
3)Com todo o respeito e amizade, pode "bater o pé e não acreditar", mas a Vida muda tanto. Também diziam que o avião não era possível, o telefone etc...
4)Talvez vc esteja mais para um Urso Polar (moras no frio) respeitosamente...
5)O progresso tecnológico é fato, mas a Evolução é trabalho de formiga... a Evolução não é em linha reta, é mais fácil entendê-la como uma espiral, uma roda gigante; uma hora lá em cima, outra lá embaixo ...
6)Abração... Me disseram que eu fui um tartarugo... sem pressa... (espero viver uns 200 anos ou próximo...).