Trazemos para vocês hoje um desabafo do Chico:
Francisco Bendl
Quando estou parado no Ponto aguardando por
passageiros, várias indagações me surgem, inúmeros pensamentos me ocorrem e,
invariavelmente, não encontro as devidas soluções. Para meu martírio nascem
outras dúvidas.
Tentei algumas técnicas que me impedissem pensar a
respeito dessas questões que me assaltam a mente, dos mistérios, dogmas,
incertezas e insatisfações.
Descobri recentemente, enfim, uma razão poderosa que
me levava às perturbações imaginárias e que tanto roubavam o meu tempo através
de pensamentos desencontrados.
Sabemos que por mais rico que seja um idioma, mais
vocábulos possui para expressar sentimentos, sensações, desilusões e decepções,
e algumas palavras não encontram definições a contento em qualquer língua,
inclusive no português.
A dor, por exemplo, como defini-la?
Iniciar dizendo tratar-se de um desconforto seria
simplório e absolutamente incompleto. Afinal, existem inúmeros tipos de dores:
a física, a mental e espiritual, que dificultariam sobremaneira que encontrássemos
suas significações adequadas e condizentes.
A dor de uma unha encravada é diferente da dor da
saudade de um lugar ou de uma pessoa; um prego espetado no pé não dói como o
sentimento do remorso por algo que fizemos de errado e esta dor aumenta se o ato
foi proposital; como definir a dor de se ter sido traído? E a dor de ter traído
será diferente? A dor de um braço quebrado não é a mesma sensação que sentimos
pela mulher que nos abandonou e que tanto amávamos; a dor de se perder um ente
querido é imensurável, incomparável; a dor da injustiça pode nos levar às
doenças e reações surpreendentes, mas a dor de cometermos injustiças também nos
faria doentes?
A verdade é que não encontramos definições plenas para
esta palavra tão curta por mais que escrevamos sobre ela, assim como jamais vou
conseguir explicar a dor da revolta que senti ao receber uma multa “visual”,
constando ter o agente da EPTC me flagrado trafegando sem cinto de segurança.
Exprimir tamanha dor do ressentimento quando a multa é
mal aplicada, e o quanto esta dor aumenta porque a tal da “empresa”
desconsidera simplesmente nossos argumentos sobre a inexistência do tal fato e
a multa, então, se concretiza em pontos e dinheiro.
Não existe escala que possa aferir a intensidade da
dor que sentimos quando nos arrancam do bolso quantias que nos farão falta no
orçamento do mês, férias obtidas através de um trabalho árduo, desgastante,
arriscado de motorista de táxi.
Pelo menos o azulzinho (este diminutivo me traz
conotações muito amplas sobre seu significado e conceito) me ensinou algo que
jamais eu poderia imaginar e pensar que um dia seria esclarecido:
A DOR TEM COR!
1) Salve Bendl, aprendi com o pensador Sidarta Gautama, o Buda, que a DOR é universal e caracteriza a vida neste planeta Terra.
ResponderExcluir2) Tudo é dor, como vc compreendeu bem: dor física, dor financeira, dor afetiva, dor maternal, dor paternal, dor política, dor eleitoral, dor sociológica, dor acadêmica, dor escolar etc.
3) O Espiritismo que é muito parecido com o Budismo, tb afirma que vivemos em um planeta de provas e expiações. Ou seja, só qdo através de uma conduta 100% ética holística, em todas as áreas nos libertarmos deste planeta é que não sofreremos mais.
4) Iremos para outro planeta ou plano espiritual invisível. Pois, por aqui na Terra, a coisa nem tão cedo melhora ...
5) Abraços = Há braços (para abraços amigos).
6) Por exemplo, o nascimento da minha neta é uma Alegria Infinita, mas eu tenho/sinto "dor emocional" quando quero que ela não sofra nesta vida, ora, impossível...
7) Dor tb pq sei que posso desencarnar a qualquer momento, vou para o outro lado e ela fica. Então, Budismo recomenda "amar com desapego", Espiritismo idem.
Caro Rocha,
ExcluirObrigado pelo teu comentário, que traz um sentido mais amplo ao que escrevi porque és budista, então interpretas de uma forma diferente a respeito de nossos padecimentos neste plano terrestre.
A minha visão não compactua com as filosofias que entendem o sofrimento como crescimento espiritual, carma, resgate de vidas pregressas, pois jamais poderíamos compensar os nossos erros neste modo interminável de idas e vindas, em face de que a cada reencarnação cometemos mais falhas e assim sucessivamente!
Uma vida basta pelas admoestações que nos traz, pelas dores físicas e mentais, pelas necessidades, saudades, anseios, frustrações, decepções, humilhações, pelo que gostaríamos de ter sido e no que nos transformamos.
Ter ainda de voltar para corrigir erros de existências no passado é muito cruel, e não creio que este seja um modo justo de se pagar pelo que se fez de errado (olha a minha petulância em questionar as divindades sobre seus métodos de punição ao ser humano, Rocha!).
Enfim, quem pode contestar que, lá pelas tantas, o "inferno é aqui mesmo, conforme o ditado popular e porque vox populi, vox Dei?
Um forte abraço, Rocha, meu caro amigo.
Saúde e Paz!
Oi Bendl,
ResponderExcluirconfesso que nunca pensei na dor de forma tão abrangente. Quando física, apenas me limitei a dizer ao médico onde doía ou então a achar um remédio que a aplacasse. A dor física é mais real, pulsa, faz esquecer de todas as outras porque... DÓI. E pode não ser dor suportável, é preciso anestesiar.
A dor de alma também podemos apagar quando apagamos nossa consciência, dormimos. Mas, você sabe, ela é a primeira a ocupar nossos pensamentos mal raiou o dia. E também pode ser dolorosamente quase insuportável de tanto que afoga.
Tudo é dor. Tem a que vai embora mais depressa e a que perdura. A dor do azulzinho é momentânea. E a tendência é que ela perca força com o passar do tempo.
Já me perguntaram se eu gostaria de voltar a ter 20 anos. De maneira alguma!, sempre respondo. Tudo dói muito mais nessa idade. Custei a chegar aqui e a amansar minhas dores.
Já tomei muito as dores do outro. Hoje não mais faço isso com frequência. Bastam as minhas.
Pensei tanto no que você escreveu, Bendl, que me ocorre uma dor do outro que renegamos imediatamente. A dor de um filho, porque o filho é mais que nós mesmos. E o que dói nele não tem qualquer comparação.
É um alívio pensar na dor distante, no que não dói em mim, por mais penalizada que eu fique.
E que ninguém reclame que somos frios. Ficamos. Ninguém gosta do que faz doer.
Abraço, Bendl
Saúde e Paz
Ofelia
Querida Ofélia,
ResponderExcluirMuito me apraz o pensamento feminino sobre os assuntos postados a debates.
Vocês, mulheres, pensam de forma mais abrangente que o homem, e englobam as diversas situações que um tema pode oferecer.
Observa, encontraste mais alternativas para a dor, apesar de eu ter me esmerado em registrar quase a totalidade das dores que nos afeta o comportamento e perturba o espírito!
No entanto, os mais velhos sabem que viver é doer, machucar, remoer-se de saudades pelos que se foram, pelos que estão doentes, pelos que não são mais jovens e penam em cadeiras de rodas, nas camas ou em asilos, abandonados pelas "famílias"!
E dói sabermos que está chegando a nossa hora, de nos despedir dos que amamos, dar adeus ao mundo, e perceber que tudo foi tão rápido, que estamos na faixa dos setenta, e não aproveitamos a vida como deveríamos ou merecíamos.
Vem a angústia, o longo suspiro querendo encontrar a resignação, que neste momento some, desaparece, para dar lugar à tristeza, à melancolia, e que também sabemos que não encontraremos mais o colo tão protetor e agradável da mãe, do pai, da avó, do tio ou tia que mais gostávamos!
Encontramo-nos sozinhos, com a esposa também envelhecendo ou o marido, e mais nos amparamos que desfrutamos da companhia um do outro, à espera do desfecho final, mesmo relutantes, mesmo reclamando, mesmo protestando, mas o final da estrada é visível!
Talvez seja por esta razão que os idosos são lentos, pelo fato de perceberem o fim da jornada, e por que acelerar este encerramento da vida?
Afinal das contas não sabemos o que nos aguarda, então por que a pressa?
Esses diálogos que temos, Ofélia, neste blog extraordinário do Wilson e, volta e meia na Tribuna, certamente é o remédio para este retardamento do fim, pois os dias são preenchidos com bons pensamentos, às vezes um pouco de raiva, que nos faz bater o coração mais rápido - palavra esta que somos obrigados a abolir do dicionário -, mas quando nos damos conta o dia se foi, e se torna mais um que contabilizamos em nosso favor.
Um forte e fraterno abraço. Ofélia.
Saúde e Paz!
Caro Chicão,
ResponderExcluirPeço licença para registrar no seu post que talvez sem a dor e o enigma da morte , não haveria nesse mundo a filosofia e muito menos a arte. Se bem que, como dizia o velho Bardo, não tem nenhum filósofo que suporte uma dor de dentes. Com a palavra Fernando Pessoa...
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração
( Autopsicografia)
Um bom final de semana e um abraço