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15/08/2016

O Relacionamento

 
imagem www.alleywatch.com

Francisco Bendl

Algumas situações nos animam durante o trabalho e certas circunstâncias nos entristecem;
em certos momentos perdemos o humor e por alguns instantes queremos soltar palavrões e em outros partir para a briga.

Essas sensações e emoções compõem o nosso dia, afora a permanente expectativa de como será a féria ou o dinheiro arrecadado das corridas no fim de cada jornada.

O dia trará passageiros em quantidade?

O serviço vai ser bom?

Não vou bater o carro?

Será que não vou ser assaltado?

A esperança nesse caso não basta. Faz-se mister a busca pelo passageiro de todas as formas que o táxi proporciona, isto é, se tem Ponto fixo, se equipado com rádio, os locais mais movimentados, a clientela já formada, que também chama pelo celular e por aí vai.

Alguns episódios caracterizam o nosso trabalho de tal maneira que, independente de como foi o resultado obtido em termos monetários, eles se tornam inesquecíveis (claro que alguns são memoráveis pelo inusitado, ensinamento e beleza, outros, pela tristeza, mesquinhez e desrespeito).

Particularmente considerei essa corrida muito interessante. Desrespeitoso me pareceu no início, mais adiante orientador. Talvez o método aplicado não fosse o ideal, mas o resultado suplantou qualquer alternativa a ser utilizada pela lição deixada de sabedoria e paciência, altivez e orgulho.

Apanhei duas senhoras na João Wallig. O destino que me deram era longe. Meu bolso já sentia um progresso substancial na féria. O que eu não sabia é que iria saborear aquele tempo transcorrido como poucos que eu tive na direção de um táxi.

Logo que se acomodaram no banco de trás, a mais moça, bem falante, criticava veementemente a mais velha, tornando-se até desrespeitosa porque simplesmente ignorava a idade maior da outra.

Mais perplexo fiquei quando a mais jovem chama a senhora que a acompanhava de mãe!

A moça era uma metralhadora. A mãe não podia e nem tinha tempo para retrucar, piorando a situação quando era esse seu intento. A filha expunha as suas razões de modo nada gentil, ofendia às vezes a sua genitora.

A discussão versava sobre o jeito que a mãe tratava os filhos homens. Para os homens, dizia a filha, ela era molenga, aceitava e permitia tudo. Eram mesmos filhos da mãe! Às mulheres (aquela mãe tivera quatro filhos, dois casais), o rigor, a economia, o comportamento ilibado, a educação firme, a cobrança implacável.

Dizia a filha em sua longa e chorosa peroração, que nem sabia as razões pelas quais ela estava acompanhando a sua mãe à sua casa. Não via motivo para isso! A discussão, ou melhor, o monólogo, severo e repreensivo, cessa quando chegamos ao endereço fornecido.

Foi quando a mãe me demonstrou – não sei se proposital ou não, mas cômico, inteligente e debochado – toda a sutileza feminina, malícia e experiência da vida, ao virar-se para a filha e já fora do carro e determinar:
- Débora, paga o táxi que estou sem dinheiro!

Esta jovem ficou encolerizada. Bradava a plenos pulmões e para quem quisesse ouvir:
- Mãe, tu és uma caloteira! Me trouxeste para tua casa para eu te pagar a corrida de táxi. Bandida, desaforada...

Saí de fininho. Ri muito nesse dia.

Teria razão a filha ou a esperteza da mãe ofendida na frente de um estranho a tenha motivado a agir daquela maneira?

Não sei.

Mas aprendi que as relações familiares não são tão familiares assim, às vezes! 


4 comentários:

  1. Dulce Liporace15/08/2016, 12:08

    Olá, Francisco. Bom dia ! Obrigada pelos votos de feliz dia dos pais, desejo que você tenha passado um belo domingo junto aos seus. Seu relato com essa cena degradante , infelizmente é muito comum. Os filhos (as ) não têm direito ( seja qual for o motivo ) de desrespeitar os pais, ainda mais na frente dos outros. Essa moça em questão não deve ter filhos, e se os tiver vai sentir na carne todos desaforos feitos à mãe, pois quem não é bom filho (a) não é bom pai (mãe ) e muito menos será um bom marido ou esposa. É a lei natural das coisas. Hoje em dia a falta de respeito é tão grande, que nos deixa perplexos diante do que vemos e ouvimos por este mundo afora. Isso em todos os sentidos, existem pessoas que reagem de maneira tão agressiva como semelhante, que paramos para pensar : " Por que ,isso "? Acho que é uma forma de se auto firmar, pessoas que não têm o mínimo de auto estima. Fazer o que ? Só nos resta calar. Tenho esperanças no futuro ( como disse o Eraldo, num texto dele ), convivo com jovens de várias faixas etárias e com alegria vejo como se comportam, isso se aprende em casa, na convivência fraterna, serena e amiga. Abraços. Boa semana ! Dulce

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  2. Francisco Bendl15/08/2016, 17:22

    Prezada Dulce,

    A função de educar um filho exige um compromisso poderoso dos pais, e com base fundamentalmente em EXEMPLOS!

    Se não quero que meu filho fume não posso ser fumante;
    Se não quero que meu filho beba não posso beber ou ser protagonista de um ou outro pileque;
    Se não quero que meu filho ao casar maltrate a sua esposa não posso ser agressivo e desprezar a sua mãe;
    Se o meu discurso é de fidelidade no casamento não posso permitir que a minha esposa receba telefonemas, cartas anônimas, dizendo que tenho amante ou, lá pelas tantas, alguém bate à porta com uma criança e diga que é meu filho!

    Assim deve ser o comportamento dos pais no seu dia a dia quanto ao trânsito, enfrentar filas de bancos, educação com as pessoas, de modo a incutir na mente e na conduta do guri ou da menina um código de atuação sensato e honesto, e que incentive a luta em prol do desenvolvimento pessoal no estudo e trabalho.

    No entanto, sabemos o quanto tem sido fácil os casais se separarem e, os filhos, que Deus cuide deles!

    A meu ver é esta falta gritante de amor - amar é cobrar! - a falta de educação dos filhos, corroborada pelas separações sem importância ou, até mesmo, culpando o nascimento da criança como causadora da dificuldade do pai e da mãe, então a separação, deixando para a mãe, inexoravelmente e SEUS PAIS, os avós, que criem o pimpolho, enquanto que o "macho", COVARDEMENTE, abandona a família ou vai construir mais uma para dar-lhe o mesmo destino!

    Grato pelo comentário, Dulce.

    Um abraço.
    Saúde e Paz!

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  3. Monica Silva17/08/2016, 12:15

    Educar é negar, por de castigo, dar exemplo. E quantos pais querem perder tempo ouvindo seus pequenos? A resposta vem com tanta agressividade e falta de respeito ao próximo. Hoje não se respeita o vizinho, os mais velhos (fui criada por vó, e ela dizia: respeite os mais velhos), pai e mãe então, pra quê? É uma troca de valores terrível, vemos a polícia ser rechaçada, mas na hora de pedir socorro contamos com eles. E assim caminha a humanidade...

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  4. Francisco Bendl18/08/2016, 18:32

    Prezada Monica Silva,

    Inegavelmente que não cultuamos mais princípios e valores, e por uma infinidade de explicações, menos de razões.

    Sejam elas pelo trabalho, falta de tempo, dificuldades financeiras, desemprego, principalmente pela separação dos pais, hoje uma atitude comum, sem que se preocupem como vão ficar os filhos.

    A criança se desenvolve sem os exemplos de casa, sem o pai por perto ou a mãe que, na ausência do marido, tenta sustentar a família sozinha.

    Obtém das ruas os modelos de vida que a farão pender para o lado bom ou ruim da vida, e tendo conhecido a violência, como enganar as pessoas, como mentir, ludibriar, quando não roubar e matar!

    Alguém escreveu que a família era a célula da sociedade, uma vez desfeita ou invadida por vírus ou bactérias do mal, este corpo adoeceria e morreria, em consequência.

    Pois assim está a sociedade brasileira no que tange à educação de suas crianças, sem poder ser os exemplos necessários e completamente ausente no lar como alicerce e proteção aos filhos, abandonados à própria sorte ou educados pelas circunstâncias ora favoráveis, porém na maior parte das vezes desfavoráveis!

    Mais a mais, o compromisso de educar exige em demasia a atenção dos pais. Presença, carinho, amor, afeto, RESPEITO, de modo que a criança perceba e saiba que é amada, e a tal cobrança que mencionaste em teu comentário porque amar é cobrar, inegavelmente!

    Agora, somente poderemos apresentar a fatura e cobrá-la, se tivermos vendido uma mercadoria saudável, útil, e não uma mercadoria falsa, ou seja, aquele pai que larga os seus filhos para uma nova aventura amorosa, e os vê a cada semana, para depois quinze dias, mês, até o esquecimento total!

    O presente divino que é um filho tem como contrapartida a vida de seus genitores, se quiserem ter a legítima e única felicidade existente para o ser humano:
    Os seus filhos realizados!

    Grato pelo texto, Monica.
    Um abraço.
    Saúde e Paz!



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