Francisco Bendl
Muitas vezes
me pergunto: por que escrever?
Se reconheço
que me faltam plenas condições de colocar no papel o que penso por falta de
recursos do próprio idioma, quanto mais querer que alguém entenda os meus
rabiscos!
Na verdade
escrevo para mim mesmo.
Guardar as
lembranças, registrar as ideias, os pensamentos, conceitos, e dar uma olhada
nos registros tempos depois e constatar se eu escreveria igual ou diferente
daquela época.
Uma espécie
de balanço mental, de uma contabilidade com a minha própria inteligência por
mais obscura que seja, pela pouca luz que irradia.
Ler o que
escrevi é simultaneamente voltar alguns meses ou mais no tempo, de estar
atualizado com a renovação das minhas interpretações pela experiência adquirida
a cada dia, tanto pela idade que avança como se continuo coerente ou
contraditório ou retrógrado ou atualizado!
Preciso desta
avaliação sobre a minha vida a respeito dos fatos que presenciei ou conforme
uma situação imaginada, que concluo valer a pena escrevê-la e mais tarde verificar
o que eu quis dizer em confronto com o que eu registraria hoje.
Confesso, na
maioria das vezes gosto do que escrevi, pois eu me entendo, eu me reconheço no
que transmiti a mim mesmo, pois me lembro de quando registrei aquele fato e as
recordações me fazem viajar no tempo, ora para frente ora para trás, mas uma
constante e ininterrupta viagem comigo mesmo, se avancei ou recuei mentalmente.
Também não
deixa de ser um desafio eu escrever, concretizar o pensamento, dar formas às
ideias, torná-los claro, compreensíveis, mas é um resgate do que aprendi e como
saberei transmitir esta evolução particularmente, repito.
No caso das
crônicas que compõem um pequeno livro intitulado O Divã Móvel, entendi ser útil
escrever os episódios que mais me impressionaram em seis anos dirigindo um táxi
por Porto Alegre.
E foram
muitos esses acontecimentos, a maioria inesquecível, mas escrevi aqueles que me
ensinaram sobre as pessoas, as circunstâncias desses aprendizados, os meus
problemas pessoais, que se somavam aos dos passageiros e que eu percebia sem
condições de resolver o que me confidenciavam como também eu não encontrava
soluções às minhas dúvidas, anseios, dificuldades, tornando os percursos com
quem eu conduzia uma análise recíproca e
mútua sobre nossas aflições e angústias, alegrias e realizações, tristezas e
felicidades.
A tal
gangorra que uma existência pode se tornar, de altos e baixos, e que percebi
acontecer muito mais que eu poderia imaginar, da mesma forma como escrevo, ora
gosto ora detesto o que faço, porém um compromisso para mim mesmo.
Grande Bendl,
ResponderExcluirPara começo de conversa : você escreve muito bem. Ponto parágrafo.
No mais...
Nós sabemos o quanto são diferentes , às vezes, as nossas visões de mundo.Principalmente quanto ao tal do "jogo democrático"(rsrs) Talvez, por isso mesmo, muito me alegro quando concordamos , quando descubro, nas nossas pretinhas,similitudes.
Você escreveu neste texto uma crença que carrego comigo inegociável: precisamos nos reconhecer nas coisas que fazemos! Simples assim ou não vale a pena.
De resto,como você, também sou de opinião que escrevemos para nós mesmos. Minha mulher define a coisa muito bem, chamando os meus arrazoados - que de vez em quando me ocupam longe dela ,por demais, nas contas dela - de " as tuas cartas de amor para ti mesmo".
Valeu!
Abração
Pimentel,
ExcluirGrato pelo comentário, que me ajuda a seguir em frente.
Gostei muito da definição que deste para os textos escritos, "minhas cartas de amor para MIM mesmo", que não deixam de ser, pois ou continuamos a amá-las ou não as queremos mais!
Um forte abraço, meu caro amigo.
Saúde e Paz!
Olá, Francisco. Você fez uma narrativa de auto análise das suas pretinhas, exatamente como eu penso e me identifico. Sempre retorno para ler o que escrevi e me surpreendo, às vezes gosto outras não. Principalmente qdo nossos dedinhos nos traem no teclado, ou as palavras são corregidas por ele, modificando totalmente o que digitamos. Escrever faz parte do nosso exercício mental- assim como ler tb - bom termos espaço como esse para trocar idéias , nos enriquecendo, passando mensagens bonitas de vivências e conhecimentos. Cada um de vocês que aqui escreve tem um lugar especial na nossa vida diária, passa a ser como um alimento necessário. Seus textos e relatos reais, nos levam a pensar e rever nossos conceitos sobre o outro e nós mesmos. Isso é muito bom. Meu agradecimento e meu abraço. Dulce
ResponderExcluirMinha prezada Dulce,
ExcluirTubo bem contigo e família?!
Obrigado pela participação. Alegro-me que tenhas concordado com o que escrevi, além de te identificares com algumas situações quando escrevemos, tanto como exercício mental quanto registrarmos nossos conceitos, ideias e pensamentos a respeito de várias situações que nos envolvem como pessoa e animal político que somos.
Agora, quero ler um texto teu, sim!
Certamente o nosso amigo em comum, Wilson, o Maninho, ficará muito satisfeito com a publicação de um artigo teu, da tua lavra, pois tens todos os predicados necessários para escrever bem, seres compreendida amplamente.
Um forte e respeitoso abraço, Dulce.
Saúde e Paz!
1)A ilustração é muito boa, me fez lembrar da minha antiga Remington portátil que guardo até hoje, ela ainda funciona, mas há anos não teclo por lá.
ResponderExcluir2)A pergunta do título é boa, me descobri "aprendiz de escritor" aos 10 anos, continuo aprendiz.
3)Um amigo psiquiatra, já falecido, me ajudou,disse ele uma vez: um livro é um filho. Muitos vão achar o menino feio, outros vão achar bonito.Impossível agradar a todos.
4) Adotei então para os meus escritos: uns vão achar feios, outros bonitos...
5) E me desapego dos mesmos.
6) Chicão escreve bem, porque escreve com o coração ...
Meu caro professor e amigo Rocha,
ExcluirDo alto da tua autoridade de budista, autor de livros sobre o grande mestre indiano, escreveste a verdade sobre meus escritos:
Que escrevo com o coração!
Acho que nada pode dar certo sem que o coração esteja contribuindo para o que fazemos, por mais profissional que seja uma pessoa, mas sem sentimento e gosto pela função ou tarefa, o resultado deixa sempre a desejar.
Claro que não será o coração a razão de talento e vocação, evidente que não, mas ambas as condições imprescindíveis para um excelente profissional ou artista, traz consigo a paixão pelo que elabora, o amor pelo que se dedica, o coração que lhe acompanha a todo o instante.
Um abraço, mestre.
Saúde e Paz!
Bendl, queira você ou não, se desmerecendo ou não, você é um escritor,
ResponderExcluirnos entretemos com o que você escreve. Pare de se depreciar, não faz sentido, Bendl. Nenhum, nenhum, nenhum.
Todo escritor às vezes gosta, às vezes não gosta do que escreve. Mas não diz.
Fica quietinho e manda ver pra nós. Nós gostamos. É o que interessa.
Abraço, Bendl.
Saúde e Paz.
Ofelia
Minha querida Ofélia,
ExcluirAprecio em demasia os teus comentários porque vejo neles a tua sinceridade e honestidade de propósitos e intelectual!
Muito obrigado, portanto, pelas palavras amáveis e gentis, que tentarei sempre retribuir através de textos onde também constates a mesma sinceridade e honestidade que os teus escritos contém, razão pela qual muito nos identificamos com o que escrevemos, pois autêntico, legítimo, exatamente o que sentimos no momento.
Um forte abraço, minha cara.
Saúde e Paz!