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Antonio
Rocha
Na sala de visitas
Eis ela, altaneira
Todos param
Falamos besteira.
Apreciamos a silhueta
Contemplamos seu porte
Está sozinha, grandinha.
Não veio o consorte
Chegou em silêncio
Nossas exclamações
Não a incomodam
Interjeições, afetações.
Me torno violento
Ela que nos ata
A instintos vis:
É uma barata !
Confesso meu crime
Com uma chinelada
Contumaz baraticida
Jaz morta, apagada.
Peguei um negativo,
Terrível, triste Carma
Visitas elogiam ato
Cúmplices minha arma.
E assim vai a vida
Graças ao chinelo
Livramo-nos dela
Inseto não-belo.
Antonio,
ResponderExcluirjamais consegui matar uma barata com chinelo. Que nojo que dá.
Encurralei algumas voadoras, que voam tanto no ar quanto voam no chão(como correm!)e fiz o que vi meu ex fazer. Joguei em cima delas um copo de álcool. As mais fortes, cascudas mesmo, ainda resistem. É preciso estar preparado para jogar o segundo copo logo em seguida. A barata estrebucha e vira de barriga pra cima. Onde ela está ela fica. E seca. Fica sequinha, sem violência, rsrsrs.
Mas gostei muito do seu poema 'baraticida'.
Abraço
Ofelia
Antônio,
ResponderExcluirBom dia!
Para você um inseto lá do Cosme Velho...
A mosca azul
Era uma mosca azul, asas de ouro e granada,
Filha da China ou do Indostão.
Que entre as folhas brotou de uma rosa encarnada.
Em certa noite de verão.
E zumbia, e voava, e voava, e zumbia,
Refulgindo ao clarão do sol
E da lua — melhor do que refulgiria
Um brilhante do Grão-Mogol.
Um poleá que a viu, espantado e tristonho,
Um poleá lhe perguntou:
— "Mosca, esse refulgir, que mais parece um sonho,
Dize, quem foi que te ensinou?"
Então ela, voando e revoando, disse:
— "Eu sou a vida, eu sou a flor
Das graças, o padrão da eterna meninice,
E mais a glória, e mais o amor".
E ele deixou-se estar a contemplá-la, mudo
E tranqüilo, como um faquir,
Como alguém que ficou deslembrado de tudo,
Sem comparar, nem refletir.
Entre as asas do inseto a voltear no espaço,
Uma coisa me pareceu
Que surdia, com todo o resplendor de um paço,
Eu vi um rosto que era o seu.
Era ele, era um rei, o rei de Cachemira,
Que tinha sobre o colo nu
Um imenso colar de opala, e uma safira
Tirada ao corpo de Vixnu.
Cem mulheres em flor, cem nairas superfinas,
Aos pés dele, no liso chão,
Espreguiçam sorrindo as suas graças finas,
E todo o amor que têm lhe dão.
Mudos, graves, de pé, cem etíopes feios,
Com grandes leques de avestruz,
Refrescam-lhes de manso os aromados seios.
Voluptuosamente nus.
Vinha a glória depois; — quatorze reis vencidos,
E enfim as páreas triunfais
De trezentas nações, e os parabéns unidos
Das coroas ocidentais.
Mas o melhor de tudo é que no rosto aberto
Das mulheres e dos varões,
Como em água que deixa o fundo descoberto,
Via limpos os corações.
Então ele, estendendo a mão calosa e tosca.
Afeita a só carpintejar,
Com um gesto pegou na fulgurante mosca,
Curioso de a examinar.
Quis vê-la, quis saber a causa do mistério.
E, fechando-a na mão, sorriu
De contente, ao pensar que ali tinha um império,
E para casa se partiu.
Alvoroçado chega, examina, e parece
Que se houve nessa ocupação
Miudamente, como um homem que quisesse
Dissecar a sua ilusão.
Dissecou-a, a tal ponto, e com tal arte, que ela,
Rota, baça, nojenta, vil
Sucumbiu; e com isto esvaiu-se-lhe aquela
Visão fantástica e sutil.
Hoje quando ele aí cai, de áloe e cardamomo
Na cabeça, com ar taful
Dizem que ensandeceu e que não sabe como
Perdeu a sua mosca azul.
( Machado de Assis )
Abraço
1) Grato Ofélia, digamos ... vc tem uma forma mais elegante de matar as baratas. Já eu, confesso, sou meio troglodita ...
ResponderExcluir2) Moacir, moro pertinho do Cosme Velho, gostei muito da Mosca azul e do poema do Bruxo Machado.
Morro de nojo, Antonio, é isso.
ResponderExcluirE adorei seu poema 'baraticida'.
Ainda bem que não vejo uma dessas há muitos anos. Argh!