Moacir Pimentel
Eu fui
criado com os livros de papel e sou viciado em seu manuseio, na sua textura, na
sensação boa de vê-los ali, fechados, esperando por mim plenos de novas
"estórias".
Adoro, por
exemplo, os livros de arte, ricamente ilustrados, lindos e táteis objetos que
posso pegar admirar e folhear. Um dos meus tesouros é uma rara edição em papel
couchê da obra Leonardo da Vinci - The Complete Paintings - by Pietro C. Marani,
com impecável tradução do italiano para o inglês, duzentas e noventa e cinco ilustrações, a maioria
delas a cores. Editado em 2000 pela H.N. Abrams de Nova York, o livro tem cinquenta
centímetros de altura por quarenta centímetros de largura. Então, quando o abro
nas páginas centrais onde estão as fotos das telas, elas surgem à minha frente
com quase um metro de pura beleza e encaro, então, a face da Senhora do Arminho
ou as mãos da Mona Lisa, por exemplo, maiores do que as minhas. Cada lascadura
na camada de tinta é visível e em algumas das imagens ampliadas podem ser
vistas inúmeras impressões digitais do artista, que usava a ponta dos dedos
para misturar as tintas sobre a tela e conseguir aqueles famosos sfumatos, o
cerne da qualidade leonardesca.
Maravilha!
Leonardo da Vinci - Mona Lisa - imagem Musée du Louvre |
Para
garimpar joias como esta sou muitas vezes chamado de "cupim de sebo".
Tenho alfarrabistas prediletos por tudo quanto é canto. No Porto, sou figurinha
conhecida pelos da Rua das Flores. Uma das minhas livraria prediletas neste
mundo é La Libreria del Viaggiatore. Voltada para as viagens e multilingual,
ela enriquece a Via del Pellegrino em Roma com seus parcos cinquenta metros
quadrados empoeirados. Ali, o dono - em parte homem, em parte enciclopédia e em
parte atlas - há pelo menos quarenta anos, cuida do seu vasto mundo particular,
feito de literatura sobre viagens, guias, mapas, ensaios, arqueologia, trilhas
e muito mais. Em agosto de 2014 quase morri de desgosto quando, diante de suas
portas fechadas, li o aviso: "Fechada para Férias". Nos consolamos
com um fritto di mare no Per Luigi, quase ao lado.
Eu não
posso passar por uma biblioteca - seja lá onde for! - sem ouvir-lhe a voz de
sereia sussurrando baixinho, seduzindo-me para mergulhar de cabeça na palavra
impressa.
A pilha dos
livros que eu estou lendo ou que eu quero ler, se equilibra precariamente à
beira do meu criado mudo. Já a prateleira de cima, do lado esquerdo, de uma estante
que vai de ponta a ponta de uma parede do meu escritório - meu refúgio, minha
caverna, onde ficam todos os meus arquivos e souvenirs de uma vida inteira -
transborda de títulos que eu compro para consumir em algum momento
indeterminado no futuro. Agora estou pulando de Javier Cercas para o Antonio
Muñoz Molina, ambos da Real Academia Espanhola, que é o que teria que ser a
nossa - só tem colossos. Mas já me aguarda na estante uma literatura de raízes
rumbeiras - muito a ver com a do Pablo e a do Gabriel - do colombiano Álvaro
Mutis. São livros misteriosos, diferentes, originais, livros sobre exílios e
"despertinencias", como diriam os espanhóis.
Jamais
deixarei de ler diariamente pelo menos uma página da Poesia Completa de Cecília
Meireles, com organização de Antonio Carlos Secchin, da Editora Nova Fronteira,
bem devagarinho. Quero descobrir uma nova Cecília no último dos meus dias.
Seria muito
mais fácil, se eu apenas fizesse o download de novos livros para o iPad. Mas há
algo sobre a impressão do qual que eu não posso desistir. Não posso deixar para
trás. Há algo sobre a sensação de segurar um livro em minhas mãos, virar-lhe as
páginas devagar, o ato visceral de transformar fisicamente uma página em parte
da minha memória, em bagagem mental que - pelo menos para mim - não pode ser
combinado com pixels em uma tela.
Mas... eu
não sou imune à realidade. Chequei agorinha e 86% dos top no gênero de ficção
mais vendidos na loja da Amazon são e-books. Pudera. Os preços baixos, a acessibilidade
instantânea e a conveniência de carregar centenas de livros em um pequeno
dispositivo de leitura, explicam.
Para
aqueles que preferem os seus livros impressos em tinta sobre papel, talvez isso
soe deprimente. Mas talvez haja razão para acreditar que e-books e livros
impressos possam ter um futuro brilhante em conjunto, porque para todas as
vantagens que os e-books nos oferecem - conveniência, seleção, portabilidade,
multimídia - ainda existem algumas qualidades fundamentais que eles simplesmente
nunca vão possuir.
Livros têm
beleza física.
Veja as
capas. Elas agarram nossa atenção lá de seus lugares nas prateleiras. As capas
são, muitas vezes, belas peças de arte. Não é assim no mundo digital. Pelo
menos ainda não.
Geralmente
os fãs dos e-books se preocupam apenas com o conteúdo. Para quem ama realmente os livros
a impressão é o único meio de satisfação. É como se eles fossem objetos
sagrados.
Não pense
que estou divagando, mas é como - às vezes - comer. ( rsrs ) Um estupendo
bacalhau à Lagareira regado a azeite da melhor procedência não pode ser
degustado naquele mesmo prato branco da mesma louça que já tem as beiradas
lascadas. E a minha deliciosa broa de milho? A melhor da minha vida foi assada
no fogão de lenha de uma cozinha velha e sem janelas, numa casa na aldeia de
Ancião e colocada para esfriar debaixo de um paninho de linho defumado. Ler no
iPad é como comer bolinhos de maisena sem retirá-los daquelas latas enormes e amarelas
de cinco quilos de Leitesol. Não vale!
A
"estória" ainda é e sempre será a principal coisa que se busca num
livro, mas as opções em torno dela - o papel, a forma como o livro é editado,
as ilustrações, a seleção das fontes, o prefácio, a orelha - tudo isso adiciona
seus próprios sabores sutis à experiência da leitura e, também, à própria
"estória".
Os livros
têm proveniência e, como objetos físicos, são importantes para mim, também
porque evocam o passado.
Os livros
são nostálgicos. São geracionais. Um ticket de trem cai fora da Divina Comédia que
eu comprei há trinta e cinco anos e eu - num passe de mágica - sou transportado
de volta para Roma Termini de mãos dadas com minha então namorada, hoje a avó
dos meus netos. Um bilhete com um número de telefone rabiscado a lápis ao lado
do nome de uma amiga de juventude cai fora do Cem Anos de Solidão e, do nada,
lá estou eu acampado numa praia fingindo que ela era a Remédios, que eu era
hippie e viva as borboletas amarelas!
Gabriel Garcia Marquez - Cem Anos de Solidão - ilustração de Carybé - imagem Livrosdamata.tumblr.com |
Uma foto que tirei em janeiro de 85, escondida entre as páginas de Quarup, lembra-me do Queens cantando para centenas de milhares de pessoas no Rock 'n Rio. E de nós lá, debaixo de chuva, com lama até os tornozelos, no gargarejo: Love of My Liiiiiiiiiife...
Nada dessa magia se traduz para o formato eletrônico. A impressão em papel tem um valor duradouro, colecionável, enquanto os pixels são muito temporários e precários. A tecnologia digital é engraçada - eu possuo o e-book - mas de pixels não me sinto dono. Só estou pagando para ter o direito de acessar os dados.
Nada dessa magia se traduz para o formato eletrônico. A impressão em papel tem um valor duradouro, colecionável, enquanto os pixels são muito temporários e precários. A tecnologia digital é engraçada - eu possuo o e-book - mas de pixels não me sinto dono. Só estou pagando para ter o direito de acessar os dados.
Muitos
dizem que a impressão poderá ter um futuro semelhante ao vinil. Que os livros
estão começando a ser mais preciosos, mais como presentes. Talvez se percam as
impressões paperback, de massa, baratas e produzidas em papel de má qualidade?
Não sei. Eu prefiro as capas duras. Portanto, gosto de imaginar que a próxima
geração de livros de papel provavelmente será formada por belas edições que
irão rivalizar com os posters de arte pendurados ao lado deles, nas nossas
paredes.
No entanto,
é um erro supor que este é um caso semelhante ao do CD substituindo a K7, ou do
MP3 substituindo o CD, ou do Blu-ray substituindo o DVD ou do Blu-ray que não
resistirá ao streaming. E-books, na minha opinião, não são simplesmente um
formato melhor substituindo um inferior. Eles oferecem uma experiência
totalmente diferente. A experiência de leitura no meu iPad é muito diferente da
experiência de ler a versão impressa de um livro. O texto é o mesmo, mas o meio
afeta a maneira como eu leio.
Como
explicar? Não é muito diferente de assistir os filmes Les Miserables ou O
Fantasma da Ópera ou Madame Butterfly e de ver os roteiros originais representados
no palco. Pode chegar um momento em que olharemos para livros eletrônicos e
livros impressos como mídias diferentes.
A escolha
entre e-books e livros impressos, no entanto, não precisa ser um jogo de oito
ou oitenta. Livros impressos não têm que desaparecer para que e-books possam
florescer, nem e-books têm de ser a única opção. Como vivemos num mundo
multifacetado, a realidade é clara: entre mortos e feridos, se salvarão todos.
Independente de o Moacir ter escrito um artigo primoroso sobre os livros, não vai impedir que eu faça um comentário mesmo que insignificante a respeito porque tenho iguais sentimentos pelo toque de qualquer exemplar.
ResponderExcluirMesmo não tendo talento e vocação para um excelente escritor, o meu amigo vai me permitir que eu cite alguns livros pelos quais tenho especial predileção em manuseá-los, e que os tenho em casa:
Lelo Universal, adquirido na década de sessenta, em Brasília, quatro volumes enormes, encadernados em couro vermelho e letras douradas, ocupa especial lugar nas estandes;
Um Estudo da História, Toynbee, um mega volume de mais de mil páginas, também em formato gigante, abordando o início, crescimento e desaparecimento de civilizações, a meu ver, uma obra prima;
Levei meses a fio para colecionar ainda na década de sessenta, os 144 fascículos que compõem os 12 volumes da obra editada pela Codex, A Segunda Guerra Mundial, ricamente ilustrada com fotos e mapas do maior conflito da História da Humanidade;
Outra coleção que é belíssima, chama-se Grandes Civilizações do Passado, em 34 tomos(!), papel especial, cuja edição original é de Milão, Itália, que sinto uma satisfação enorme ler alguns de seus trechos volta e meia, principalmente sobre as civilizações aztecas, maias e os incas;
Por último, outra compilação em fascículos, editados em 1.998, com mais de trezentas páginas, ricamente ilustrados, narrando a história do Rio Grande do Sul. Revoluções, guerras, a formação do RS, o gaúcho, política, religião, os imigrantes, negros, índios, a Guerra dos Farrapos, que pedi para ser copiada em mais dois exemplares para dar de presente a dois amigos meus.
Afora outros exemplares igualmente importantes na minha modesta biblioteca, hoje com 1.200 volumes, inclusive DUAS JURÁSSICAS ENCICLOPÉDIAS COMPRADAS EM 1.975, BARSA E DELTA, que servem como recursos importantes para biografias e história, pois geografia estão muito desatualizadas, essas que mencionei acima além de significativas são também aquelas que iniciaram eu ter gosto pela leitura, que me conduziram a colecionar livros, a preferi-los que consultar o Google.
Por exemplo, afora os livros, tenho mais de mil revistas especializadas – parei de assiná-las pela falta de verba às minhas preferências – sobre História e Filosofia.
Decidi recortar os artigos que aumentariam os mesmos temas abordados pelos livros e encaderná-los da mesma forma.
Por exemplo:
A batalha de Stalingrado, onde várias delas trazem reportagens a respeito, mais dois livros que tenho essencialmente sobre o cerco à cidade e seus novecentos dias, terei um panorama mais amplo sobre este episódio marcante na Segunda Guerra, e assim com diversos outros assuntos, em razão dessa paixão pelos livros, que jamais vou me desfazer deles por mais oposição que eu tenha em casa quanto à poeira, traça, e espaço que ocupam.
Claro que eu os limpo semanalmente, e estou providenciando assim que possível colocar vidros nas estantes, apesar de escondê-los mas, em compensação, ficarão mais protegidos.
Enfim, Moacir, encontraste outra pessoa que também prefere os livros, os exemplares, os volumes, as obras, que a forma eletrônica, se mais prática, sem requerer espaços, no entanto, nada apreciável, visível, manuseável e encantador para os olhos de quem os aprecia.
Abraço.
Um ótimo domingo.
Saúde e Paz!
1) Eu tb adoro livros.
ResponderExcluir2) Não sei o que seria de mim sem eles.
3) Eis o meu apego = livros. No modelo tradicional: papel, impresso etc.
4) Outro dia cheguei a feliz conclusão, como acredito em Renascimento/Reencarnação exclamei: "Constato que em uma vida não dá para ler tudo o que eu gostaria, ainda bem que existe Reencarnação, assim, nas próximas, vou completando o que não li.
5) Mas como, cada vez mais, se publica, essa lista é Infinita.
6) Parabéns Moacir !!!
Moacir,
ResponderExcluirQue artigo encantador. Pelo menos para aqueles que cresceram entre os livros dos pais e graças a eles tomaram gosto pela leitura. Você esqueceu de mencionar as dedicatórias e as anotações que tantas vezes nos emocionam nas páginas dos livros novos e dos antigos onde caligrafias que já se foram aparecem de repente. E de falar dos livros que a gente emprestava e nos serviam de pretexto para ligar para quem nos interessava para pedir o livro de volta numa longa conversa num telefone de verdade com números que tinham que ser girados. Quando chegava a conta era um 'toma que o filho é teu'! O baixo custo da leitura e a falta de espaço para abrigar nossos amigos livros são mesmo as únicas e grandes vantagens dos E-books. Obrigada por tantas lembranças boas ao ler suas palavras.
Um abraço.
Flávia, a sensibilidade do seu comentário antecipou, sem saber, uma parte do post que eu estou para publicar amanhã ou depois :)
ExcluirFico contente de ler isso.
Um abraço do
Mano
Moacir,
ResponderExcluirNão sei bem de onde tirei essa sede de leitura, filha de pais e avós semianalfabetos, que na simplicidade de suas existências queriam todos os filhos estudando. E eu fui a primeira filha a ser "doutora". Que orgulho para eles não é?
Pois bem, ainda me lembro do primeiro livro que li e reli, e de novo reli. Criança, conseguia me transportar para cada momento da estória, como se fizesse parte dela. Simplesmente emocionante. Nunca esqueci a sensação de virar a página, coração acelerado, para saber o que vinha pela frente. E o final não era feliz...terminava em lágrimas o livro, “A pequena Sereia”. Pronto. Fui contaminada.
Vivo a frente de um computador, mas faço questão de manter minha pequena e humilde biblioteca. E ciúmes dos meus livros tenho demais. Não nego conhecimento aos que têm essa fome, dou e empresto livros e aqueles que não são devolvidos, acredite, compro novamente.
Não sou contra os livros eletrônicos, pelo contrário, conhecimento tem que ser compartilhado e se essa nova geração que só conhece computadores e redes sociais, é alcançada através da leitura mesmo numa telinha, claro que é válido!
Mas eu, eu sou das antigas, adoro pegar um livro que li há sei lá, 10, 20 anos atrás, sentir seu peso, o coração acelerar quando viro a página, ler, viver novamente, fazer parte da estória.
Mesmo que livros se transformem em um souvenir do passado terei prazer em exibir os meus , sempre em lugar especial em minha casa, pois são coisas sagradas e maravilhosas.
Chicão, também leio muito sobre a Segunda Guerra Mundial, um interesse que herdei do meu pai. Li em 2013 três grandes livros sobre o conflito. O primeiro foi As Grandes Decisões Estratégicas ( Biblioteca do Exército, Diretoria de História Militar, 2ª edição, 2004) sobre as bombas atômicas . O segundo, um livro extraordinário, em inglês With the Old Breed: from Peleliu to Okinawa - Com os da Velha Estirpe: de Peleliu a Okinawa , escrito por Eugene B. Sledge ( Ebury Press, 1ª edição, 2011 ) e publicado em espanhol como O Diário de un Marine ( Booket, Espanha, 1ª edição, 2010) ambos disponíveis nas grandes livrarias O autor dessa quase obra prima do gênero, o Sledge, um garoto matuto do Centro Oeste americano, aos 19 anos alistou-se nos Fuzileiros Navais e, na guerra do Pacífico , viu literalmente o inferno - a imundície, o medo onipresente, a morte , o pavoroso cheiro de cadáveres em decomposição tornando-se lama e parte da rotina, a visão permanente da barbárie desumanizando e brutalizando os soldados. Sledge precisou de 35 anos de decantação das anotações que fazia, às escondidas - eram proibidas por razões de segurança- no meio de um exemplar da Bíblia, até que, já maduro, publicou as memórias tão terríveis que quase nos fazem entender Little Boy e Fat Man. O terceiro foi Leningrad: Siege and Symphony - Leningrado, o Cerco e a Sinfonia — a história da cidade aterrorizada por Stalin, esfomeada por Hitler e imortalizada pela Sétima Sinfonia - a Leningrado - do compositor Dmitri Shostakovich. Escrito pelo jornalista inglês Brian Moynahan o livro é uma feroz narrativa do cerco , enquanto Shostakovich compunha , o canibalismo corria solto e a orquestra municipal ensaiava a sinfonia. No dia 9 de agosto de 1942- os alemães nas portas da cidade - as pessoas caíam na rua, mortas de fome, mas a orquestra emocionou o mundo tocando a Sétima para uma plateia que não sabia se estaria viva no dia seguinte. A fome matara 27 de seus músicos - substituídos por amadores - e o trompetista que tocaria um solo teve um edema pulmonar durante a performance.O livro já foi publicado em espanhol em 2015 sob o título: Leningrado : Asedio y Sinfonia , pela editora Galaxia Gutenberg. Eu fiz as resenhas de ambos mas não sei onde as guardei. Se e quando as encontrar lhe enviarei. Obrigado pelo denso comentário.
ResponderExcluirAntônio, meu vizinho, acho que Camões resumiu o nosso apego aos livros "para tão longo amor tão curta a vida". Flávia, são inesquecíveis as antigas caligrafias e as folhas secas nos velhos livros. Aguarde notícias do Davi de Bernini. Mônica, o seu comentário muito me tocou: seja bem vinda ao Bloco da Saudade!
ResponderExcluirObrigado pela leitura e abraços a todos
Oi Moacir. Cheguei atrasada, pois como vc sabe ficamos mais de 30 H sem luz, que só regou ou agora. Não poderia deixar passar em branco esse texto que me remete a qdo era bem pequena. De uma familia de nove irmãos, praticamente ouvíamos histórias e poesias à noite, qdo estávamos todos reunidos. Lembro de uma estante de livros fechada com portas de vidros transparentes onde haviam vários exemplares e qdo comecei a ler ganhei do meu irmão mais velho um livro de pano -" História da Carochinha " - que sei de cor de tanto que li, tenho-o guardado até hoje. Quando meus primeiros irmãos começaram a estudar a tal estante ficou pequena, os livros se acumulavam por toda casa. Manuseava-os e lia quase todos, mesmo sem saber sobre o assunto- via uma soma de Y+X , e pensava como pode somar letras ? Rsrsrs. Uma ocasião olhando encantada o projeto de um prédio feito por meu irmão - ainda na faculdade - cuja nota tinha sido 7 - perguntei : como assim ? Isso está lindo ! Aí ele me explicou o porque, fiquei muito triste pela nota. No curso primário ( escola pública ) minhas professoras estimulavam demais a leitura, havia o horário de visita à biblioteca e podíamos pegar o livro que desejássemos e levar para casa - tínhamos um cartão de saída e entrada do livro - também a cada mês havia um concurso de redação e poesia - e leitura oral, que eu achava incrível, porque fazia com que perdêssemos a timidez . Acredito que fui privilegiada, pois com o ginasial tudo ficou mais encantador no mundo dos livros, nossa biblioteca em casa e viajava no mundo das artes, da poesia, dos pensadores. E o tempo foi passando, e qdo mamãe teve que mudar para uma casa menor, tivemos que escolher os livros, e assim cada filho ficou com uma parte. Esse é o lado triste, mamãe ainda ficou com alguns que perdi de vista, infelizmente. Sabe amigos do blog, a pior coisa é ficarmos encarregados de fechar uma casa ( um LAR ) onde reina em todos os cantos uma lembrança. Dói demais. E aí lembro da poesia que declamei lá no primário " Visita à Casa Paterna " de Luís Guimarães Jr /// E assim com essa experiência triste, já estou dividindo meus livros com meus filhos, noras e netos. Guardo aqueles que me são mais caros e que requerem cuidados especiais, coisas que já não posso fazer com tanta assiduidade , depois de uma cirurgia grande da coluna. Meu amigo MOACIR , desculpa pelo longo comentário (???) , o que fiz foi um passeio pela minha infância linda e gostosa e quis partilhar um pouco com vocês. Saudades ! Abraços, Dulce
ResponderExcluirPixels não têm dono, Moacir, porque neles não exercitamos o tato, eis a suprema verdade. Há papéis que nos fazem alisar uma capa com a mão.
ResponderExcluirE quando falo isto, não me refiro apenas aos livros não escolares. Alguns dos escolares também exerciam fascínio sobre mim. Como o livro de francês do meu irmão, que trazia o Arco do Triunfo, desenhado na capa amarela.
O professor do meu irmão era francês, um privilégio, e graças a ele meu irmão aprendeu bem a língua ainda no ginásio.
As dedicatórias são um capítulo à parte. A letra do autor, o que ele nos escreveu, a data, nos contam uma história paralela à que é contada.
Quando a dedicatória traz desenhos então...
Nos meus aniversários, o primo da minha mãe (e depois padrinho de casório) só me presenteava com livros. Lembro bem de um deles, garota ainda: Maravilhas do conto russo. Agora que falei, senti saudade, muita vontade de ler o livro e reencontrar a dedicatória e a letra bonita do primo.
Sem falar nos Conselhos à Minha Filha, que minha mãe me deu. Ou das enciclopédias médicas com a dedicatória do meu pai pra minha mãe: À querida esposa (na época se usava) Conceição, uma útil lembrança para cuidar da nossa velhice. Natal de 1977.
Chega de viagem por hoje, não é, Moacir? Quem está viajando é você.
Aproveita. Abraço
Ofelia
Minha querida Dulce, só mesmo você para pedir desculpas depois da sua generosa leitura e da gentileza e amizades contidas nesse belo comentário.Sou eu que me desculpo por estar chegando tão atrasado por aqui nas nossas trocas de teclas.
ResponderExcluirOfélia, se não sabemos de onde viemos nem para onde vamos , então, baseados na lógica e não na poesia, podemos concluir que nada mais importa além da..... VIAGEM!
Abraços agradecidos para as duas