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23/08/2016

O Gaúcho

 
Guilherme Litran - Carga de Cavalaria - acervo Museu Júlio de Castilhos

Francisco Bendl

Em princípio somos diferentes, mesmo!

Espalhados por este planeta, temos os nossos CTGs (Centro de Tradições Gaúchas), locais onde cultuamos nossas tradições, histórias, usos e costumes, da forma que nenhuma outro povo consegue nos imitar em fidelidade e amor à terra  e a divulgar que

Eu sou do Sul!




O gaúcho, portanto, é um telúrico.

Temos o nosso sotaque, o nosso jeito de vestir, de usar expressões exclusivas, certamente porque se olharmos bem para o mapa do Brasil, verificaremos que o Rio Grande é uma ilha!

Não conseguimos passar para Santa Catarina sem que haja um rio impedindo, mas temos fronteira seca com o Uruguai, então sempre fomos considerados pela União como brasileiros desgarrados, que resolviam suas pendências à bala, através de lutas, conceitos evidentemente exagerados.

A terra gaúcha desde que se formou não é apenas o estado gaúcho, mas o solo latino-americano, uma terra sem fronteiras, sem ser limitada por arame farpado, mas pertencente aos cavaleiros livres e rebeldes que formaram o povo riograndense, o gaúcho!
Não há povo que mais se identifique com o continente sul-americano do que o povo sulista.



E temos as nossas músicas, nossos times de futebol, cujas torcidas de Grêmio e Internacional são as mais aguerridas do mundo quando se enfrentam. Não existe clássico mais disputado que o gaúcho, muito mais que River Plate e Boca Junior, na Argentina,  Palmeiras e Corínthians, em São Paulo ou o famoso FlaFlu, no Rio.

Internacional e Grêmio graças a esta rivalidade são dois times bi-campeões da Libertadores e ambos campeões do Mundo, ostentando um patrimônio invejável!

Mas não somos melhores ou piores que o povo brasileiro, pois somos parte desta população, e amamos o nosso país como qualquer estado lhe devota o coração e a alma.

Agora, somos orgulhosos pelo que fizemos com este pedaço de chão com a agricultura, a pecuária, a indústria, a mão de obra qualificada, o nível de ensino, e a longevidade do nosso povo acima da média, em face do clima, da comida e bebida, das relações familiares e amistosas, levadas a sério neste estado da Federação!

Alemães e italianos nos ajudaram a moldar um quadro com a imagem de um gaúcho aberto aos imigrantes, irmão daqueles que nos deram origem como os negros e índios, e fomos o primeiro a ter um negro como presidente da Assembleia Estadual, nos idos de setenta, e o primeiro governador também negro do Brasil!

Portanto, somos um estado miscigenado e, certamente, advém desta mistura de etnias a força deste povo, que suporta o frio, o vento, o verão escaldante, as intempéries como nenhum outro, e nos deslumbramos com a primavera e o outono, pois somos o vento negro.



A nossa cultura, por exemplo, ultrapassou as fronteiras nacionais com o célebre Érico Veríssimo e o poeta Mário Quintana e, até a década de setenta, o Rio Grande teve dois cantores que foram extremamente populares, Teixeirinha e Nelson Gonçalves!
Abençoado e extraordinário Rio Grande do Sul, onde tudo que se planta cresce, mas o que mais floresce é o Amor!



Lembro-me quando fui morar em Brasília, em 1959, e poucas eram as construções erguidas no Planalto Central. A poeira, a solidão, a falta de água e luz durante UM ANO, a gauchada se reunia e tentava aplacar a saudade da terra cantando uma canção imortalizada pelo célebre Conjunto Farroupilha, que viajou pelo mundo a bordo dos aviões da NOSSA VARIG:

“Rio Grande do Sul, eu um dia voltarei, prá rever o meu Guaíba, prá rever meu bem querer...



E quem não aprecia o nosso churrasco?! O arroz de carreteiro, o chimarrão, pratos da culinária gaúcha que o brasileiro se delicia?!

E quando a saudade bate forte, quando sentimos o “banzo”, gritamos:
Deu prá ti, baixo astral, vou para Porto Alegre, tchau!



O gaúcho tem as suas tradições, usos e costumes, cultua-os e não os esquece. Duas datas são feriados estaduais: Em dois de fevereiro, a Procissão de Nossa Senhora dos Navegantes e, em 20 de setembro, a comemoração em homenagem à Revolução Farroupilha, data maior do estado!

Nesse dia, os CTGs desfilam, assim como o aparato militar gaúcho, e centenas de cavalos troteiam pelo asfalto de Porto Alegre, com lanceiros, boleadores, lembrando as guarnições na revolta que iniciou em 1835.

E entoamos os hinos do Rio Grande. Sim, temos três, no mínimo!
Aquele reconhecido como oficial, que relata as nossas façanhas, e a maravilhosa música que nos vincula ao Brasil, e que enaltece a beleza do Rio Grande e coloca o gaúcho à disposição do Brasil.



E como somos apaixonados pelas nossas mulheres, chê, as mais lindas do mundo! A mistura, de novo, das etnias europeias com a sul-americana, delineou uma mulher formosa, exuberante, que tanto faz ser negra – o Rio Grande teve a sua miss negra, e foi eleita a mais bonita do Brasil, Deise Nunes -, quanto morena, ruiva, loira – Gisele Bündchen é a modelo mais famosa do planeta -, confirmando a beleza da mulher dos Pampas, que é também BRASILEIRA ou, melhor, primeiro brasileira e depois gaúcha!

E a mulherada do Sul desta nação não é apenas belíssima, mas temos expoentes femininos na literatura, na medicina, nos esportes – uma gaúcha ganhou bronze nesta Olimpíada -, nas artes, na política, mesmo isolados do Brasil, longe da capital federal e das cidades mais importantes do país, São Paulo e Rio de Janeiro.

Enfim, o gaúcho é um sujeito apaixonado pela sua terra, pelas suas raízes, pelo que construiu ao longo de trezentos anos de história, onde ele mesmo decidiu optar pela nacionalidade luso-brasileira e não espanhola, atribuindo a si mesmo e pelos seus esforços em várias peleias ser reconhecido e denominado como cidadão deste País!

E temos como norma respeitar a cultura de irmãos de outros estados, a ponto de as adotarmos como nossas. O carnaval, por exemplo, as festas juninas, que não são típicas do Rio Grande, mas compomos sambas e temos as nossas quadrilhas e quermesses em junho, e com o famoso casamento na roça.

E adoramos fazer as canções que nos identificam, típicas, nossas, que somente nós apreciamos, pois como que os irmãos brasileiros vão entender a letra de uma das mais famosas páginas do cancioneiro gaúcho que diz:
“Flor de tuna, camoatinga e mel campeiro, terra boa das quebradas do Inhanduí”!



Mas, bah, chê!

Na verdade, gostamos da mescla, de nos misturarmos às pessoas, de unirmos as etnias, e formar um povo altaneiro, orgulhoso, sempre à disposição da família, dos amigos, e de quem precisar de um de nós em qualquer tempo e circunstância.

O nosso chimarrão é o exemplo mais apropriado que temos para demonstrar esta amizade, esta intimidade com o ser humano, pois a cuia, a bomba e a erva são passadas de mãos em mãos, e é sorvida pelas pessoas em rodas de conversas, de prosas infindáveis, participando gente alta, baixa, magra, gorda, negra, branca, ruiva, sarará, colorada, gremista... o importante é o congraçamento, a vida em paz, pois uma roda de chimarrão “trazes à minha lembrança / neste teu sabor selvagem / a mística beberagem / do feiticeiro charrua / e o perfil da lança nua / encravada na coxilha / apontando firme a trilha / por onde rolou a História / empoeirada de glórias / da tradição Farroupilha”, conforme a letra da poesia!
Neste aspecto somos originais, que nos configura uma certa diferença entre os demais brasileiros não como superioridade, mas exatamente de igualdade entre os povos, de amizade, que não há pessoas piores ou melhores, mas todas devem ser tratadas com respeito e consideração!

Não escolhi ser gaúcho, como escolhemos no passado ser brasileiros. Amo tanto esta terra que JAMAIS eu me insurgiria contra meus irmãos brasileiros, pois este estado é deles também, assim como o Rio Grande pertence ao Brasil, e é desta forma que entendemos ser uma grandiosa nação, unida, um só povo, um amor fiel e indestrutível!

Apesar de andar pelas ruas de um Porto não muito Alegre... eu, gaúcho, sigo a vida, amando esta terra, o meu país, este cone sul-americano, belíssimo, de planícies, serras, cordilheiras, mares, lagos, geleiras, cidades encantadoras e um povo cordial, afável, hospitaleiro!





12 comentários:

  1. 1) Eu era criança e cantava "Coração de Luto", do Teixeirinha, gaúcho tchê !

    2)Lembro do romance O Gaúcho, de José de Alencar, no antigo curso "Científico" (hoje Ensino Médio), tínhamos que ler para fazer o trabalho do mês.

    3)E daqui, do RJ, mando o meu abraço Verde e Branco para o time de futebol Juventude, de Caxias do Sul.

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  2. Francisco Bendl23/08/2016, 10:54

    Grato pelo teu comentário, meu caro Rocha.

    Por favor, me envia o teu endereço através do meu e-mail porque amanhã estou te enviando finalmente a camisa do Juventude, que receberei hoje à tarde!

    Um abraço.
    Saúde e Paz!

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  3. Francisco Bendl23/08/2016, 10:57

    Caro amigo Wilson,

    Muito obrigado pela postagem integral sobre O Gaúcho!

    Espero que teus leitores gostem das músicas que escolhi para representar o meu amado Pampa, pois existem centenas de canções belíssimas que poderiam fazer parte desta apresentação.

    Um forte abraço, meu amigo.
    Saúde e paz!

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    1. Wilson Baptista Junior23/08/2016, 16:40

      Chico, meu amigo, já não são mais meus leitores, faz tempo que são nossos leitores, desde que vocês vieram escrever comigo nesse blog!

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  4. Ih, Bendl, ouvir o Conjunto Farroupilha me trouxe tantas lembranças...
    O 'Deu pra ti' é bem mais recente. Duas épocas, duas Ofelias diferentes.
    Seu Rio Grande inundou as Conversas do Mano e se espraiou pela minha alma.
    Abraço, Bendl
    Saúde e Paz
    Ofelia

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    1. Francisco Bendl24/08/2016, 21:14

      Querida Ofélia,

      O Conjunto Farroupilha teve repercussão internacional!

      Eram muito afinados os casais que compunham o grupo, e deixaram o nome na história da música gaúcha e brasileira.

      Obrigado pelo comentário.

      Um abraço, caloroso.
      Saúde e Paz!

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  5. Dulce Liporace23/08/2016, 19:11

    Boa Noite, Francisco. Primeiro quero dizer-lhe que seu nome é muito caro para mim, pois tenho um cunhado querido ( que está perto Deus há dois anos ) que é seu xará, e tb sou devota de S.Francisco de Assis. Então, entrei na roda que o Wilson tão beneficamente arrumou as cadeiras, e vamos conversar. Conheço do seu Estado, só a serra - que amo - vamos todos os anoss passar uma semana em Gramado no mês de dezembro. Realmente é um povo hospitaleiro, educado, e luta por seus valores. Ouvi com muita alegria seus links, e devo dizer-lhe que aprecio essas músicas regionais . Continue enaltecendo o Sul,suas lutas, o rio Guaíba, o chimarrão,, a gastronomia, danças, moças bonitas e tudo o mais . Final do ano estarei por aí para degustar um sagu feito no vinho c/creme. Abraços, Dulce

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    1. Wilson Baptista Junior23/08/2016, 19:32

      Dulce, recomendo que você entre na coluna do "arquivo do blog", onde estão os posta em ordem do mais novo na frente, vá no mês de junho, você encontrará, de lá para cá, uma série muito interessante de crônicas do Chico do tempo dele como motorista de táxi. Vale muito a pena ler.

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    2. Francisco Bendl24/08/2016, 21:22

      Dulce, minha cara,

      Alegro-me que o meu nome te traga boas lembranças, assim como és devota do meu xará, o santo mais carismático da Igreja Católica!

      Como conheces Gramado, a minha cidade está somente a 60 km de distância, portanto, na próxima vez que vieres ao Sul, por favor, me avisa, que as nossas famílias se encontram, tu e teu esposo, e eu com a minha mulher!

      Quanto ao meu Estado, o RS, este torrão de terra possui as suas tradições muito atreladas ao povo, que as cultua com devoção e amor pela sua terra!

      Repito, não deixes de me avisar quando retornares ao Rio Grande, que posso te deixar um roteiro muito interessante para compras e visitas a locais que ainda não visitaste e que valem muito a pena!

      Obrigado pelo comentário, Dulce.

      Um abraço.
      Saúde e Paz!

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  6. Moacir Pimentel24/08/2016, 09:47

    Grande Bendl,
    LOUVO o seu patriotismo e amor, já nossos velhos conhecidos, pelo Brasil e o Rio Grande, essa terra de tantos gigantes.
    E OUSO acrescentar à trilha sonora do seu afeto, duas outras canções obrigatórias, pelo menos no meu "som" gaúcho: Cavalo Baio e Prenda Minha.
    Abração, tchê!

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    1. Pimentel, meu caro,

      Abaixo os link sobre as músicas que mencionaste.

      Ouve e vê, claro, Dominguinhos e o gaúcho Yamandu Costa, tocando e cantando Asa Branca e Prenda Minha; também Cavalo Baio, e a canção Guri, que foi campeã de um festival de música que acontecia em Uruguaiana, e formava uma cidade de lona de tanta barraca ao redor da cidade dos turistas e admiradores desse tipo de competição musical.

      Cavalo Baio
      https://www.youtube.com/watch?v=kwvrBbK_elc

      Guri
      https://www.youtube.com/watch?v=OsokOgHxT0Y

      Raridade, apoteótico!
      Prenda Minha + Asa Branca, cantadas e tocadas por Dominguinhos e Yamandu Costa, um dos mais notáveis violonistas do Brasil!
      https://www.youtube.com/watch?v=xd-WhE1uX3Q

      Um forte abraço, meu amigo.
      Saúde e Paz!



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  7. Dulce Liporace24/08/2016, 11:57

    Olá, amigos. Bom dia ! Moacir muito bem lembrado essas duas canções belíssimas que foram temas da novela ' Casa das sete mulheres " ( parece até lá em casa- Rsrsrs - nós éramos Sete !!! Mulheres !!! Meu pai ficava nervoso de tanta voz de mulher - não teve tempo de conhecer os netos homens, só tem uma neta ) , mas são cantigas da época que eu era novinha. Abraços, Dulce PS : Wilson aos poucos estou lendo os posts antigos. Obrigada

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