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24/10/2016

A Madona Menina


Monterchi (imagem highkicktravel.com)

Moacir Pimentel

A última e a mais importante etapa da nossa peregrinação artística em busca de tesouros de arte renascentista foi a pequena aldeia de Monterchi.
Na fronteira entre a Toscana e a Umbria, no Vale do Cerfone, ela foi construída no topo de uma colina isolada, originalmente conhecida como Mons Herculis, ou Monte de Hercules, e é daí que o nome Monterchi deriva. Esta parte da Toscana é bastante plana e ondulante de modo que a gente pode avistar longos caminhos pela frente.

Com essa localização invejável, entre os conventos, as casas medievais e as colinas que pontilham a fronteira leste da Toscana, Monterchi é uma relíquia tranquila de cerca de dois mil moradores.
No seu centro histórico, quando eu era jovem, se tinha uma sensação medieval, apesar da destruição causada por numerosos terremotos nos últimos quatro séculos. Suas ruas estreitas colina abaixo abrigavam uns dois cafés e restaurantes e um pequeno albergue recém inaugurado.

Na verdade, em 1983, aquele vilarejo remoto nos passaria batido entre tantos outros destinos charmosos na Toscana, se não fosse por uma ilustre habitante que então morava na humilde igrejinha do cemitério local e que em breve se tornaria universalmente famosa, atraindo dezenas de milhares de visitantes anuais para sua cidade.  
  
A razão que nos fez ir até Monterchi foi uma importante pintura de um artista famoso do renascimento: a Madonna del Parto de Piero della Francesca.

Piero Della Francesca - Madonna del Parto (imagem  Stefano Guerrini - Wikimedia Commons)

Não é raro se encontrar Madonnas medievais ou renascentistas pintadas nas igrejas das pequenas aldeias que povoam os vales da Toscana. Mas a Madonna del Parto é única como obra de arte e pelo mistério que envolve a sua criação. Não se sabe quem a encomendou e pagou a Piero della Francesca pelo trabalho e nem quem definiu o tema.

O artista pintou uma comovente Madonna del Parto muito distante da Terra, etérea como uma visão celestial mas, ao mesmo tempo, a fez viva e real em seu frescor pós adolescente.
O afresco foi planejado para ser colocado sobre o altar na parede de fundo da provinciana Igreja do século XIII de Santa Maria di Momentana e foi concluído em apenas sete dias durante o regresso do pintor Piero à casa da sua infância quando do falecimento e sepultamento da senhora sua mãe.  

Alguns meses antes da nossa visita a Monterchi, um filme chamado Nostalgia - a obra prima do cineasta russo Andrei Tarkovsky! - fora lançado com muito sucesso na Itália, principalmente entre a juventude acadêmica, conferindo pela primeira vez notabilidade à belíssima Madonna del Parto. É que a Madonna adolescente  aparece com destaque no enredo cinematográfico, logo nas suas cenas de abertura. A bem da verdade, no filme, o afresco teve um doublê.
De qualquer modo, posso afirmar que naquele verão italiano de 1983 a Madonna del Parto “viralizara”, como hoje diz a juventude.
Em tempos remotos, na era pré-cristã, séculos antes da menina-mulher ter sido  pintada naquela parede etrusca antiga, na mesma colina nos arredores de Monterchi que depois lhe serviu de moradia, havia uma fonte famosa, da qual as mulheres nativas bebiam as águas em um culto pagão da fecundidade.
Os católicos mais tarde construíram uma igreja na colina e mantiveram vivo o culto da fertilidade durante a Idade Média, ao dedicar o santuário à Madona do Leite.
  
La Madonna del Latte di Ardena (fotografia Renzo Dionigi)

Alguns especialistas têm tentado ligar a Madonna del Parto aos pretéritos rituais de fertilidade pagãos da região, embora outros argumentem que tais superstições podem muito bem ter sido alimentadas pelo afresco de Piero, e não vice-versa. O motivo da romã repetido na cortina que emoldura a Madonna del Parto é, no entanto, um símbolo claro da fertilidade.

O afresco da Madonna del Parto foi retirado do lugar de honra que tinha na primeira igreja românica do século XIII, onde fora originalmente pintado por Piero della Francesca entre 1450 e 1460, para ser reinstalado em um altar lateral de outra capela, essa erguida ao lado do cemitério da aldeia, depois que um terremoto destruíra a original em 1785. Além disso as dimensões da nave que conduzia até a imagem da Madonna foram drasticamente reduzidas na nova Igreja, para alargar o espaço do cemitério.
Pelos desenhos abaixo pode-se ver como era originalmente a primeira construção e o altar central que serviu de primeiro nicho para a Madonna del Parto, e como o afresco terminou lateralizado quando a igreja foi reformada.

(after Thomas Martone, Convegno Internazionale sulla "Madonna del Parto" di Piero della Francesca, 1982)



 Em um déjà-vu, a Madonna escapou de novo da destruição quando de outro terremoto em 1917. Durante a Segunda Guerra dizem que os sinos tocaram em todo o vale e a população se revoltou armada com ancinhos e enxadas, desconfiada de que os nazistas pretendiam roubar o afresco.
Tal vida atribulada cobrou seu pedágio à pintura, mas uma cuidadosa restauração em 1993 recuperou muitos dos seus detalhes originais e a coloração, incluído o maravilhoso azul intenso do seu vestido, obtido do caríssimo lápis-lazuli do Afeganistão. Após a restauração, o afresco foi colocado em exibição em um pequeno museu, a meu ver indigno da Madonna.
O certo e muito triste é que a Madonna foi totalmente removida do seu contexto natal e que, bem assim, grande parte do quadro arquitetônico original se perdeu ao longo do caminho.
Aparentemente, quando em 1979 o cineasta Tarkovsky viu a Madonna del Parto pela primeira vez, a Prefeitura local já falava na remoção da imagem para a sua morada atual - o precário museu improvisado numa antiga escola secundária - e o afresco já fora condenado a ser separado do seu contexto religioso e ritualístico, das mulheres de Monterchi e das aldeias da redondeza que veneraram a Madonna por séculos rogando-lhe que lhes concedesse uma boa hora.
Talvez tenha sido por isso que o cineasta decidiu rodar as cenas estreladas pela Madonna do seu filme Nostalgia, em um local muito diferente da capelinha do cemitério onde eu fui apresentado à Virgem.
Tarkovsky filmou tais cenas nas ruínas de uma abadia a cerca de cento e vinte quilômetros de Monterchi, como se tivesse desejado colocar a imagem de volta ao que ele imaginou ser o seu contexto ideal.
No vídeo disponibilizado abaixo, uma das cenas nos mostra o culto da Madonna, e quem tiver interesse de visualizar o belíssimo ritual medieval imaginado pelo cineasta russo só precisa acessar o link a partir dos 5 minutos, para ver as mulheres nativas entrando na Igreja carregando uma imagem em tamanho natural da Virgem, avançando pela longa nave e rezando diante do afresco da Madonna del Parto visível na parede por trás delas e das velas.

Em meio à oração uma das devotas abre as vestes da imagem mariana ecoando a abertura no vestido azul da Madonna no afresco. Em seguida, um bando de pequenos pássaros voa para fora daquilo que só então percebemos ser não uma imagem da Madonna, mas um manequim votivo e oco onde os pássaros estavam aprisionados. Finalmente, em meio à algazarra e ao bater de asas da passarada, a câmara resgata da penumbra do templo o rosto da Madonna del Parto.
No seu belo filme Tarkovsky grifa os detalhes mais importantes da obra de Piero della Francesca.
Em primeiro lugar, o rosto da menina-mãe de Cristo:  

Piero Della Toscana - La Madonna del Parto (detalhe)

                   E a seguir a sua mão sobre a controversa abertura do vestido. Era isso que a academia italiana discutia em 1983. A abertura do vestido simbolizando o parto.

Piero Della Toscana - La Madonna del Parto (detalhe)

Andrei Tarkovsky replicou liricamente nesta cena dos pássaros, as mãos da moça desabotoando o seu vestido na pintura de Piero. Na sua interpretação do afresco, o cineasta de certa forma o restaurou, lhe conferiu, se não todo, algo do seu mistério original e o reincorporou de volta à fé das sua devotas, entoando a uma só voz a oração para um parto seguro.

É sem dúvida poderosa a imagem dos pássaros alçando voo a partir do ventre mariano, para fora do vestido desabotoado na mais perfeita das metáforas para a maternidade.

               “Ótimo que a tua mão ajude o vôo...  
                Mas que ela jamais se atreva 
                 a tomar o lugar das asas.”

(Dom Hélder Câmara)

Na imagem, os dois anjos seguram as pontas de uma pesada cortina sobre suas cabeças, aparentemente para revelar a Virgem, em outra ação ecoada pela fenda do vestido azul.
As Madonas do Parto são representações icônicas da Virgem Maria grávida, comuns na região da Toscana e na Itália do século XV de modo geral. Tais imagens pintadas por exemplo, por Taddeo Gaddi e Nardo di Cione, entre outros pintores ialianos, retratam a futura mãe geralmente de pé, segurando um livro fechado, numa alusão ao verbo encarnado.

Madonnas del Parto - Tadeo Gaddi / Nardo di Cione

Tais artistas apenas traduziam, é claro, a fé das mulheres grávidas através da imagem daquela que em Portugal, em Espanha e no Nordeste é conhecida por Nossa Senhora do Ó. A diferença entre a Madonna del Parto de Piero della Francesca e tantas outras é que ela foi representada às vésperas de dar à luz.

É raro na história da arte encontrar uma Virgem Maria tão obviamente grávida e é sem precedentes na história da pintura que a avançada gestação, seja sublinhada por um vestido tão apertado que a Madonna o desabotoa como se estivesse incomodada dentro dele.
O fato novo no afresco de Piero della Francesca é justamente esse desabotoar de um vestido que já não pode cobrir o abdômen muito proeminente, sugerindo que Maria estaria se desnudando porque já entrara em trabalho de parto. É a própria mão da Madonna que introduz no afresco a sensualidade do tato, a humanidade da Virgem e a fisicalidade do parto.

Essa Madonna tão menina assume na tela a postura típica das mulheres já com barrigas pesadas, com a mão esquerda torcida para que o pulso apoiado no quadril possa dar-lhe equilíbrio e talvez algum alívio, ajudando-a a suportar o peso do ventre.

Não só a expressão dessa moça revela todo o seu desconforto, mas o seu olhar direcionado para baixo, também sugere que ela está muito consciente do filho que está carregando. Na verdade com essa linda mão direita ela está, obviamente, também protegendo a sua criança. Sua postura e expressão são muito naturais e muito humanas – qual de nós já não viu nossas mãe, esposa, filha grávida nessa mesma posição ? – mas, ao mesmo tempo, a pintura é altamente espiritual.  

Enquanto Piero se concentrou na perspectiva em muitas de suas pinturas, na Madonna del Parto, ele explorou claramente a ideia de "formas perfeitas". Todo o afresco está contido dentro de um dodecaedro, enquanto um pentágono é criado pelas cortinas abertas, os braços estendidos dos anjos e a base do vestido da Virgem.
 A forma original completa da Madonna del Parto era provavelmente um quadrado encimado por um semi-círculo ou um triângulo e aparentemente essa seção superior foi perdida.

Guido Botticelli, et al., Il restauro della Madonna del Parto di Piero della Francesca,1994


Piero della Francesca e muitos outros artistas usaram tais formas buscando uma harmonia matemática e artística, tentando alcançar uma base geométrica para a beleza.
Os outros elementos da imagem não são meros enfeites. A cortina pode muito bem representar a Igreja e já li várias análises que simbolizam a jovem linkando-a com a Arca da Aliança, com o Tabernáculo e por aí vai.

Para quem está familiarizado com o trabalho de Piero, essa cortina lembra o manto da poderosa Madonna della Misericordia pintada mais de uma década antes da de Monterchi. Assim como os braços estendidos e a capa da Madonna della Misericordia incluiam e protegiam o grupo de figuras humanas, a cortina parece oferecer um santuário à essa Nossa Senhora grávida e ao seu filho.
Os anjos idênticos que mantêm aberta a cortina, são parte do padrão geométrico geral e parecem emergir livres do afresco  juntamente com a Madonna. Mas ao contrário da figura mariana que conscientemente exige o olhar do espectador - fato raríssimo entre as Madonnas de olhos baixos de Piero della Francesca - os anjos parecem estar olhando para fora da pintura, em vez de encarar o observador como fazem em outras pinturas do artista.

Piero acreditava em simetria e portanto pintou os dois anjos invertendo-lhes as cores das vestes e das asas e tal harmonia unifica-os, como que refletidos numa heráldica imagem espelhada.

Mas de tudo, como dizia o poeta, a ela fomos atentos antes... Olhei para ela e parei - @#$%&! - foi amor à primeira vista!
Raras vezes nessa vida uma imagem me encantou tanto. Lembro que perguntei se alguém sabia quem teria posado para o artista. Quem teria sido essa linda garota, essa vera toscana dos campos de trigo, essa descendente de etruscos, que foi pintada numa parede que já não mais existe? Quem teria sido a jovem que emprestara seu rosto à Mãe de Deus, e que seria exilada da sua tosca capelinha do Cemitério de Santa Maria di Momentana, na fronteira da Toscana com a Umbria, onde morara por séculos rodeada por limoeiros cheirosos?
Essa menina, que não tinha o clássico livro na perfeita mão renascentista, nem usava joias, nem parecia ter qualquer vaidade, era especial. Ela nos olhava da penumbra, equilibrando o peso do barrigão enquanto manuseava os botões do vestido, abrindo-o para as dores e alegrias de um parto.
Tudo começava e terminava naqueles botões, nas mãos - que lindas mãos! - dessa jovem e loira menina grávida, cujos olhos cintilavam à luz das velas e sob a sua auréola perfeitamente elíptica.
É como se ela estivesse respirando, como se a cada inalação um botão se desfizesse, para o início de tudo, até mesmo de Deus.
A Madonna del Parto me pareceu maravilhosa, tão humilde e divina na parca luz de um nicho da igrejinha toscana.

Lembro que a capelinha era precariamente iluminada, escura mesmo, e que alguma luz natural entrava por janelas com grades – das quais não me recordo mas sim das sombras das grades riscando o chão de pedra - e da claridade difusa se somando à cintilação das velas da capela, contribuindo para o drama da figura.
Essa frágil Madonna não fora destinada à fácil compreensão. Ela precisava de olhares mais atentos, de uma visualização sem pressa completamente diferente daquela que nos oferece o museu onde ela hoje é prisioneira de uma caixa de vidro.

Lembro que lá fora havia pássaros pousados nos fios elétricos que riscavam de negro a névoa toscana de fim de tarde sobre o feio e triste cemitério da aldeia. Pecado mortal terem mudado o afresco de lugar! Roubá-la de suas origens talvez tenha sido para a pintura o que determinadas traduções são para os poemas: um verdadeiro desastre.

De qualquer modo, apesar das manipulações arquitetônicas, essa Madonna que ao ser pintada foi pelo seu autor "dedicata alla memoria di mia madre", jamais pretendeu ser meramente uma exaltação religiosa.
O afresco vai além. Parece espelhar um ideal de humanidade simples e sublime e exprimir o desejo de aproximar-se do conhecimento de Deus mediante a sacralização da vida humana.

Continuo convicto, passados tantos anos, que obras de arte não são meros documentos históricos, para serem analisados como se fossem um GPS das biografias e mente do artista ou para que descubramos os seus significados ocultos, em vez de serem consideradas como apelos visuais que fazem demandas aos seus espectadores e que os obrigam a prestar-lhes atenção. Elas conversam com a gente.
Para mim as telas são aberturas não apenas para o passado mas para dentro de nós. São mensagens abertas e diante delas devemos estar atentos antes à forma como a obra de arte realiza sua própria narrativa.

E que foi que a Madonna del Parto me disse? Talvez aos vinte e sete anos eu não fosse capaz de explicar porque aquela Madonna não me remetia à Mãe de Deus ou à minha santa mãe, mas à minha namorada ali, ao meu lado, tão encantada pelo afresco quanto eu, e à família que sonhávamos ter, aos filhos que um dia ela me daria.

Ao sair daquela igrejinha de mãos dadas com aquela que então era a minha noiva estrangeira, talvez eu pensasse que embora só uma imensa atração seja capaz de nos fazer abrir todas as nossas portas e abaixar todas as nossas defesas para que uma perfeita estranha se aproprie das nossas vidas, o amor é mais do que só isso.

Como dizia o Poetinha...

“E não me reste de tudo, ao fim
Senão o sentimento desta missão e o consolo de saber
Que fui amante, e que entre a mulher e eu alguma coisa existe
Maior que o amor e a carne, um secreto acordo, uma promessa
De socorro, de compreensão e de fidelidade para a vida”.



10 comentários:

  1. 1)Aula bela, texto magnífico.Parabéns

    2)Grato pela referência ao meu lado etrusco ...

    3)A Maddona del Latte me fez lembrar da pintura "A Leiteira", do holandês Johannes Vermer, um quadro que gosto demais, bem que o Moacir poderia escrever-nos sobre esta pintura, sem pressa e mediante o precioso tempo...

    4)Sou um budista que reverencia as Nossas Senhoras:

    5)Licença pela transcrição: "Nossa Senhora de Todos os Nomes", do Frei Darlei Zanon, editora Paulus, 2013, comenta 260 títulos marianos, entre os mais de mil.

    6)Boa semana para todos(as).

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    1. Moacir Pimentel25/10/2016, 08:43

      Antônio, meu vizinho etrusco , é tanto para viver e fazer e escrever e tão pouco tempo. Mas vou escrever sim - só não sei quando ! - sobre Vemeer de quem sou devoto daquela menina com um brinco de pérola, praticamente sem sobrancelhas, cuja boca é um milagre prestes a nos dizer palavras mudas , cujo olhar nos prende e cujo brinco captura a luz. Também acho estupendao o acalanto - em vez de sinfonia! - de luz e sombra que rola na tela A Mulher com a Balança e, é claro , muito aprecio a sua favorita - A Leiteira - uma mulher real, fazendo não se sabe que quitute com pão dormido e leite espesso e cremoso. Tem um prego naquela parede branca por trás da moça que é um espetáculo e juram os especialistas que os azulejos do rodapé da cozinha contém mensagens "eróticas" que de tão sutis me escapam. Sim, acho que o tema pode dar samba. Aguarde!
      Abração

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  2. Monica Silva24/10/2016, 11:14

    Moacir, a sua Madona é linda e digo que é sua porque sem as suas palavras desenhando ela para mim com certeza eu não a acharia tão maravilhosa. Você descreve os detalhes do quadro com clareza mas não é só isso não. O artigo é tipo assim uma conversa que você tem com a obra e com o pintor. A Madona termina virando uma poesia dedicada à mulher e a maternidade que sem você eu não entenderia. Parabéns e obrigada!

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    1. Moacir Pimentel25/10/2016, 08:49

      Mônica , a sua leitura constante muito me honra e concordo com você: a mulher que Piero retratou tem carne e sangue humanos e não vai ter um parto milagrosamente sem dor. O afresco é uma ode às alegrias e às dores da maternidade.
      Abraço

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  3. Flávia de Barros24/10/2016, 13:08

    Moacir,

    Você se superou com esse artigo. São tantas as informações preciosas a respeito da Madona menina que tenho que ler tudo muitas vezes. Nem sei dizer do que gosto mais nessa obra maravilhosa se do rosto ou se das mãos 'grávidas'.




    Linda a frase de Dom Hélder Câmara sobre o papel das mãos maternas na vida de um filho e a poesia final. Também achei maravilhosos os anjos iguais com as cores trocadas.
    As outras Madonas do Leite e do Parto não tem a vivacidade e a naturalidade dela. No vídeo a oração para a 'Mãe das Mães" é comovente e as mulheres da região devem ter ficado desoladas quando a pintura foi levada para longe e não puderam mais rezar aos pés da Madona por uma boa hora. Quem já foi mãe se reconhece nessa Madona e acredita nela.


    Deixo-lhe um abraço e que Deus o abençoe e a sua família

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    1. Moacir Pimentel25/10/2016, 08:24

      Flávia,
      A retirada da Madonna da igrejinha não ocorreu num mar de rosas e as mulheres locais continuam indignadas. Levaram-na embora de casa, para ser restaurada, no começo dos anos 90. A restauração foi muito bem sucedida. Depois o afresco foi acomodado na tal escola transformada em museu provisório porque também a igreja seria restaurada antes de recebê-lo de volta. Mas isso nunca aconteceu e começaram a chegar os turistas, hoje uma das maiores fontes de renda da prefeitura. Na virada do século , a diocese católica, pressionada pelos devotos, processou a prefeitura de Monterchi, reivindicando a posse da Madonna e exigindo que o afresco fosse devolvido à igreja. Por sua vez , a Prefeitura processou o Ministério da Cultura que planejava levar a obra de volta ao berço. Faz um ano , um tribunal italiano bateu o martelo no litígio de Monterchi : foi contra devolver a Madonna para a igreja. Então foi selado um acordo porque numa coisa todos concordam : a obra não deve continuar no museu improvisado. Decidiram que o afresco passaria a ser exibido em um convento local que a diocese doaria à cidade.Mas ninguém parece capaz de dar o próximo passo pois a reforma do convento custará milhões de euros. A Prefeitura poderia levantar esse dinheiro se emprestasse a Madonna a um grande museu, por exemplo, mas por lei o afresco é proibido de viajar.Torçamos para que,ao fim e ao cabo,a bela Madonna possa morar com mais dignidade.
      Abraço

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  4. Dulce Regina24/10/2016, 13:17

    Olá, Moacir. Não sei como começar a escrever meu comentário , tamanha a emoção que me tocou. Quando falei que iria ficar eu mitigando essas pinturas de Piero , não sabia que seria tão difícil encontrar detalhes e estudos sobre elas. Li algumas coisas superficiais e aí vem você, e brinda-nos com esse texto de uma sensibilidade enorme capaz de encantar qualquer leigo em pintura. Sua descoberta, seu estudo, sua caminhada com MJ, sua indicação do filme, fazem- nos acreditar e ver essa Mãe Menina como a verdadeira Mãe de Deus, tamanha a perfeição nela contida. Acredito que Piero simbolizou nessa pintura a imagem do amor que sentia por sua mãe -com nome tão bonito ! - daí ela ser maravilhosa. O modelo ? é apenas um detalhe...Sábias as palavras do grande e santo D. Hélder Camara, que podemos aplicá-las em relação aos nossos filhos. Me marcou suas palavras de não ter pensado na Mãe de Deus, nem na sua mãezinha e sim ter pego na mão de sua noiva pensando no amor de vocês ...e aí vem a MAGIA ! Seu primogênito nasce no dia dedicado a Nossa Senhora do Parto !!! Deus abençôou o casal . E aí mais emoção sinto, ao lembrar de minha mãe também parindo-me no mesmo dia consagrado a Mãe Menina. Abraços de agradecimento por ter nos presenteado com essa louvação a Maria- Mãe de Jesus. Dulce Regina

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    1. Moacir Pimentel25/10/2016, 08:33

      Dulce Regina,
      Você pode ter certeza de que eu jamais esquecerei a data do seu aniversário - como costumo fazer com tantos outros! - embora eu não soubesse que você e o nosso filho mais velho a dividem também com a Nossa Senhora do Parto. E eu tenho certeza de que, de alguma forma, naquela igrejinha fomos sim abençoados.Quanto à arte do Piero eu tenho a impressão de que o compromisso mais profundo do artista não foi com os preceitos cristãos que tanto respeitamos, mas com uma espécie de noção de que havia uma estrutura matemática subjacente ao mundo visível onde tudo estava exatamente no lugar certo. O mundo de Piero é racionalmente ordenado e compreensível. Nele para tudo que acontece não há apenas uma causa mas uma razão. É por isso que a arte dele consola tanto os que acreditam quanto os que duvidam : ela parece refutar a ideia de que, no final, o mundo equivale apenas ao caos ininteligível.
      Abraço

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  5. Olá Moacir, uma bela aula de história da arte e três belas histórias de amor, pelo saber, pela exótica Madonna e per la sua donna. Bravíssimo!

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    1. Moacir Pimentel25/10/2016, 09:01

      Donana, agradeço-lhe pelas belli paroli de incentivo que vindas de onde vêm - e devido a raridade! - me chegam com o valor triplicado. Não deixe de nos dar, por favor, as SUAS notícias.
      Abraço

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